Livraria da Folha

 
27/01/2010 - 08h13

Em livro, Sônia Abrão fala da submissão feminina nos relacionamentos

da Livraria da Folha

Divulgação
Livro mostra às mulheres como não ser submissa em um relacionamento
Livro mostra às mulheres como não ser submissa em um relacionamento

Em "Abaixo a Mulher Capacho!" (Manole, 2009), Sônia Abrão --apresentadora do programa "A Tarde é Sua", da RedeTV!-- "conversa" com mulheres que fazem de tudo para não perder um amor, inclusive negligenciam a si mesmas, para manter um relacionamento que faz mal e pelo qual elas acabam pagando um preço alto: o de pisar em seus próprios sentimentos e permitir que o(a) companheiro(a) faça o mesmo.

A obra aborda a chamada "síndrome da mulher capacho". Para as vítimas desse transtorno, se anular parece fácil, viver de esmola afetiva parece justo e elas até se convencem que sofrer faz parte da situação. Qualquer pretexto vale para não ter que encarar a realidade de que esse amor não funciona, não completa e tira a alegria de viver.

Além dos conselhos a essas mulheres --que, geralmente, apresentam baixa autoestima--, Sônia Abrão traz depoimentos de mulheres que buscaram sua ajuda ao enfrentar dificuldades causadas por sua submissão e poemas feitos pela autora.

A apresentadora também escreveu "Santas Receitas" (Editora Gente, 2007), que reúne dezenas de receitas com nomes de santos.

Leia abaixo um trecho do livro "Abaixo a Mulher Capacho!".

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

*

Abaixo a mulher capacho!

Não ignore o sinal vermelho, nem a sirene que toca dentro de você. É o aviso para quem dá mais do que recebe em um relacionamento. Fugir é inútil, fingir, pior ainda! Você pode se tornar uma 'mulher capacho'. O problema é que nós não resistimos ao escapismo quando se trata de um amor que vai mal. Alguns homens também, mas, convenhamos, essa atitude é um clássico feminino. Fabricamos desculpas como "daqui a pouco passa", "é só uma fase", "a culpa é minha", "eu é que sou insegura", "homem é assim mesmo" e por aí afora. Qualquer coisa vale para não ter que encarar a realidade de que ELE causa frustração, carência, decepção, tensão, solidão e muitos outros "ãos" que podem nos levar ao sentimento de rejeição até à depressão. Enfim, esse amor não funciona, não completa, tira a alegria de viver, embota o prazer, faz a velha rima com a dor. Mas a gente quer e insiste! Pagamos qualquer preço para não "perder" o amado, até mesmo o de pisar em nossos sentimentos e permitir que ele faça o mesmo. Anular-se até parece fácil. Viver de esmola afetiva parece justo. Sofrer faz parte. E começa a mutilação sentimental. A visão distorcida de união, de vida a dois. Uma rotina de erros, de pequenas mortes diárias...

VÍCIO
Sou salto mortal
sem rede
Temporal que não
mata a sede
É labirinto tudo o que sinto
Quero sangue ou vinho tinto?
Um brinde ao caos no peito
A esse amor que não
é torto nem é direito
Coisa de mulher
_que faz da paixão um vício,_
dor, prazer e precipício...

Um homem para chamar de seu

Não vou aqui fazer um tratado sobre a história da submissão da mulher no mundo, do tempo das cavernas ao século XXI, porque o saldo disso tudo a gente já sabe: até hoje, uma grande maioria ainda precisa de um homem pra chamar de seu, como diz a canção do Erasmo. O problema é que isso não é apenas conseqüência direta do amor, como podem pensar as mais românticas. A herança que ficou de milênios de anulação foi a falta de identidade, coisa que nem a revolução sexual do século XX conseguiu superar totalmente. A independência financeira se tornou realidade para a população feminina de boa parte do planeta, mas a dependência emocional continua. Claro que não estou falando de depender saudavelmente de quem a gente ama, ou seja, de querer e precisar estar junto, mas de saber que pode viver sem o outro, se necessário. A dependência que complica a vida da mulher é aquela em que precisa de um homem como comprovante de sua existência, um atestado de seu próprio valor.

Um rápido exemplo disso é o de quem continua usando o sobrenome famoso do ex-marido para se sentir importante, ou da garota que pega carona na fama do namorado para aparecer, a alpinista social, a que dá o golpe da barriga em celebridades, a que aposta num belo corpo como moeda de troca, a que se sente feia e aceita qualquer relacionamento para não ficar sozinha, aquela que ama um homem e esquece de si mesma, a executiva que ganha mais que o marido, mas entrega o salário na mão dele para não ferir sua "sensibilidade" de "chefe de família", etc. No fundo, essas mulheres não se buscam e não se reconhecem em sua individualidade. Acho estranho como tantas querem malhar os músculos, mas não exercitam os próprios sentimentos, olham as gordurinhas no espelho, mas ignoram a própria alma. Sabem suas medidas, mas não pesam os prós e contras do que andam vivendo. E escondem as dores de uma relação amorosa, genuína ou ilusória, sob montanhas de justificativas que só prolongam o sofrimento. A "mulher capacho", aquela que pisa em seus verdadeiros sentimentos e permite que sejam pisados pelo "parceiro" para evitar a separação, quando se vê diante do ponto final, sente que "falhou" como mulher, que não foi "boa o bastante" para "segurá-lo", que foi "reprovada" na área sentimental, numa falsa confirmação de tudo de negativo que sempre sentiu sobre ela mesma. Um círculo vicioso: por não se dar valor, faz todas as concessões, e por fazer todas as concessões, perde mesmo o valor (que não sabe que tem) para o parceiro. Antes de continuarmos a detalhar essa situação, é importante frisar que podemos definir três tipos básicos de "mulher capacho": por amor, por moralismo e por interesse. E um quarto tipo que é uma exceção: a mulher que se torna capacho do homem para poder ESCAPAR da relação, a falsa capacho. Com exceção dessa última, as outras três estão unidas por um traço em comum: auto-estima zero!

DORMINDO COM A INIMIGA

"Há alguns anos fui fotógrafa de polícia no Rio de Janeiro. Trabalhei durante quase uma década ao lado de jornalistas seríssimos, médicos legistas, delegados de primeira, comprometidos com a verdade, além de policiais e investigadores competentes. Aprendi muito com todos eles. Infelizmente, só não aprendi a me defender daqueles que estavam mais próximos de mim e nos quais confiava. Eu subia e descia morro e não via que estava dormindo, literalmente, com a verdadeira inimiga. Tatiana era uma menina linda, independente e bastante rebelde. Estudava Direito e foi em uma entrevista que nos conhecemos e me encantei por ela. Um dia, seu pai descobriu nosso romance e a expulsou de casa. Passamos a morar juntas e comecei a bancar tudo, inclusive a faculdade dela. Queria vê-la formada e feliz, uma vez que havia largado o conforto de seu lar por minha causa. Mal sabia eu que por trás daquela expulsão havia terríveis razões, além do preconceito contra um relacionamento homossexual.

Ao final daquele mesmo ano, eu havia entregado minha vida a Tati. Quatro anos depois, ela tornou-se bacharel, graças ao meu exclusivo sacrifício. Não queria que trabalhasse fora, apenas que se dedicasse aos estudos. Para tanto, lhe dava tudo o que precisava: roupas de grife, os melhores cabeleireiros, sapatos caríssimos... E eu estava feliz ao lado de minha princesinha. Futura doutora Tatiana, que orgulho!

Contudo, poucos dias após a formatura, veio a bomba: em uma batida policial, Tati foi levada à delegacia algemada, dentro de um camburão. Lá constatei, às lágrimas e perplexa, que ela estava envolvida até o último fio de cabelo com drogas. E mais: soube que havia roubado todo o dinheiro que estávamos guardando. Antes de deixar a delegacia, fiz questão de encará-la. E sabe o que ela me disse? Olhou nos meus olhos com cara de nojo e falou que eu era uma otária, velhota e ridícula.

Admito, foi muito difícil me reerguer depois daquele pesadelo. Abandonei minha carreira e parti para outra profissão na tentativa de sobreviver após tamanha vergonha. Apesar de estar sem grana e de não entender nada de culinária, me associei a uma amiga querida que estendeu a mão para mim. Montamos um botequim e hoje moramos em Recife, onde temos um restaurante que é um sucesso. Ana, essa amiga, tornou-se minha companheira de batalhas e de vida. Extremamente digna e valente, me ajudou a superar a dor daquele golpe e aprendi a amá-la e a respeitá-la acima de tudo, bem longe dos fantasmas do passado."
Rose A. N., Recife, PE

ARRITMIA
Estamos com os dias contados
Amor em estágio terminal
Carne viva, água e sal
E esse coração com arritmia
Essa alma com hemorragia
Me condenam a existir sem você
Contra essa dor não há anestesia
Nada vai fazer efeito!
Há um buraco negro
No universo do meu peito!

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"Abaixo a Mulher Capacho!"
Autor: Sônia Abrão
Editora: Manole
Páginas: 184
Quanto: R$ 23,20
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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