Livraria da Folha

 
22/03/2010 - 19h48

Autor analisa influência do Google em todos os setores da sociedade

da Livraria da Folha

Quase todo mundo já ouviu a piada: "Não tem no Google? Então não existe!". No livro "O Que a Google Faria?", o proprietário de um dos blogs mais populares e respeitados da web sobre internet e mídia, Jeff Jarvis, defende exatamente isso.

Divulgação
Blogueiro renomado e pioneiro discute a influência do Google
Blogueiro renomado e pioneiro discute a influência do Google

O autor, que também é colunista do "Guardian" e criador da "Entertainment Weekly", mostra como pensar de maneiras originais, enfrentar novos desafios, resolver problemas com soluções criativas, enxergar oportunidades e entender com outra perspectiva a estrutura da economia e da sociedade, ou seja, ver o mundo como o Google o faz.

Ao longo da obra, o autor interpreta as regras ditadas pelo Google com as quais devemos viver e fazer negócios em qualquer setor da sociedade, ilustra como essas leis podem ser aplicadas a diferentes empresas e analisa como o pensamento imposto pela empresa afeta nossas vidas e o futuro.

No trecho extraído do livro, Jarvis fala sobre o fenômeno dos links. Ele explica como o ato de linkar modificou os antigos papéis e criou novos em todos os tipos de área de atuação, chegando a fazer a seguinte comparação: "O link muda a arquitetura fundamental das sociedades e das indústrias, assim como as vigas e os trilhos de aço mudaram o modo como as cidades e nações são construídas e seu funcionamento". Veja abaixo.

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NOVA ARQUITETURA

O link muda tudo

Na manhã de 11 de setembro de 2001, eu estava no último trem que saiu de Nova Jersey em direção ao World Trade Center, e cheguei pouco depois de o primeiro avião de terroristas ter acertado a torre norte. Embora eu não trabalhasse como repórter havia anos, eu ainda era jornalista e trabalhava para uma agência de notícias, então decidi ficar por perto do que era claramente uma grande reportagem - ainda não havia percebido o quão grande ou perigosa. Fiz anotações no local e conversei com sobreviventes, enviando relatórios para os sites e jornais de notícias do meu empregador. Uma hora depois, eu estava a cerca de uma quadra do World Trade Center quando a torre sul desabou. A nuvem de destruição foi mais rápida que eu. Cego por causa dos escombros e coberto por eles, fui abençoado ao encontrar refúgio no prédio de um banco. Depois consegui caminhar até a Times Square, onde escrevi minha reportagem e, finalmente, graças a Deus, consegui ir para casa.

No dia seguinte, eu tinha mais coisas a dizer sobre o que havia visto e sentido e as notícias sobre o assunto, então decidi criar um blog. Eu havgia lido blogs. E também tinha conseguido o investimento do meu empregador na empresa que criou o Blogger e popularizou o formato (o Blogger foi comprado pela Google em 2003). Ainda não havia escrito um blog, porque achava que não tinha nada a dizer. Depois do 11 de setembro, eu tinha. Então planejei escrever o blog durante algumas semanas, até não ter mais assunto.

Mas, depois de escrever os primeiros posts, aprendi uma lição que mudaria para sempre minha visão da mídia e minha carreira, e que acabou me levando a este livro. Alguns blogueiros de Los Angeles leram o que escrevi, escreveram sobre o assunto em seus blogs e colocaram links para mim. Correspondi e coloquei link para eles. Naquele momento, um gongo ecoou na minha cabeça. Percebi que estávamos conversando - era uma conversa distribuída, que acontecia em locais diferentes em momentos diferentes, uma conversa possibilitada pelos links. Em pouco tempo, por intermédio da busca no Google, encontrei outras ocorrências de discussões sobre o 11 de setembro e o que eu estava escrevendo. Vi uma nova estrutura de mídia: de mão dupla e colaborativa. Percebi que essa estrutura redefinida o comércio, o marketing, a política, o governo, a educação - o mundo. O link e a busca criaram os meios para se encontrar qualquer coisa e conectar todo mundo. Agora todos podiam falar e todos podiam ouvir. Permitiriam que as pessoas se organizassem em torno de qualquer interesse, tarefa, necessidade, mercado ou causa. O link e a busca iniciaram uma revolução tinha apenas começado.

Meg Hourihan, uma das criadoras do Blogger, escreveu um artigo inovador em 2002, explicando os tijolos desse novo sistema (você pode encontrá-lo fazendo uma busca no Google pelo título "What We're Doing When We Blog"). Hourihan argumentava que a unidade atômica da mídia online não era mais a publicação ou a página, com suas pressuposições da velha mídia, mas o post no blog, que normalmente contém uma ideia à parte. Casa post tem um permalink, um endereço onde pode ser encontrado eternamente, para ser linkado de qualquer lugar. Hourihan percebeu que o permalink era um método de organizar as informações e um modo de construir redes sociais com nossas conversas distribuídas. Foi isso que aconteceu quando os blogueiros de Los Angeles linkaram meus posts. Tivemos uma conversa, ficamos amigos e chegamos a fazer negócios juntos. Nossos links nos conectaram. "Assim como no caso do discurso livre", escreveu Hourihan, "o que dizemos não é tão importante quanto o sistema que nos permite dizê-lo".

Esses sistema exige que tudo sobre você, seu produto, sua empresa e sua mensagem tenham um lugar online com um endereço permanente, de modo que as pessoas possam buscar e encontrar você, depois apontar para você, responder e até mesmo distribuir o que você tem a dizer. Mais do que uma home page, é um lar para cada pedacinho do que você faz. Por meio do que você expressa online, você se reúne a outras pessoas - amigos, clientes, eleitores - em redes possibilitadas por links, redes construídas em plataformas como Blogger e Google. Agora você pode se conectar com pessoas diretamente, sem intermediários. O link e a busca são fáceis de usar, mas seu impacto é profundo.

Faça o que você faz melhor e coloque links para o restante

O link muda todas as empresas e instituições.

É mais fácil ilustrar seu impacto sobre as notícias. Se o negócio de notícias fosse inventado hoje, depois do link, tudo relacionado a elas - o modo como são coletadas e compartilhadas e até mesmo a maneiras de estruturar uma história - seria diferente. Por exemplo, na imprensa, os repórteres são instruídos a incluir um parágrafo com um histórica que resume tudo o que aconteceu antes desse artigo, para o caso de algum leitor ter perdido parte da história. Mas, online, os repórteres podem colocar links para a história em vez de repeti-la, porque um leitor pode precisar saber mais do que um parágrafo poderia transmitir, enquanto outro leitor, já informado, pode não querer perder tempo com repetições. Existem outros usos para os links. Ao citar uma entrevista, o artigo não deveria linkar a transcrição ou o site do entrevistado? Se outra organização de notícias consegue tirar a única foto de um evento, os leitores não deveriam esperar que uma história completa linkasse essa foto?

O link muda a estrutura e a economia de uma organização de notícias. Os jornais não precisam ter seus próprios jornalistas que escrevem sobre golfe, porque é mais fácil e mais barato colocar um link para sites de esportes com melhores coberturas de campeonatos - liberando recursos que seriam mais bem usados localmente. Os jornais não precisam de um crítico local de cinema porque os filmes são nacionais, e todos nós somos críticos. Os jornais não deveriam dedicar recursos às notícias pasteurizadas que já conhecemos. Eles precisam encontrar uma nova eficiência com base nos links.

O link muda a estrutura do setor. Se um jornal pretende se destacar - se quer que as pessoas encontrem seu conteúdo através de buscas e links -, precisa criar histórias com valor sem igual. Se quiserem sobreviver, os jornais devem concentrar seus recursos onde estes são importantes, direcionando os leitores a outros jornais oara que eles vejam o restante das notícias. Em resumo: faça o que você faz melhor e coloque links para o restante.

Além do caso da mídia, os varejistas deveriam colocar links para fabricantes com informações sobre os produtos. Os fabricantes devem colocar links para clientes que estão falando sobre seus produtos. Autores devem colocar links para especialistas (seria ótimo se livros aceitassem links). Caçadores de talentos, conferências, associações comerciais e universidades devem usar links para conectar pessoas que compartilham necessidades, conhecimento e interesses.

Em quase todos os setores e instituições, o link força a especialização. A ideia de fornecer um produto de tamanho único que faz tudo para todas as pessoas é vestígio de uma era de isolamento. Naquela época, os texanos não conseguiam obter notícias diretamente do The New York Times, do Guardian ou da BBC, mas hoje eles podem. Os moradores de Chicago não conseguiam comprar online na HotSauce.com. Essa mesma pressão pela especialização tem eliminando as lojas de departamento generalistas - primeiro por concorrentes de nicho nos shoppings e, agora, com varejistas online altamente focados. Servir às massas, como vamos explorar, não é mais o objetivo final das empresas. Servir a massas de nichos direcionadas - como o Google faz - é o futuro.

A especialização gerada pelo link fomenta a colaboração - eu faço o que faço e você preenche as lacunas. Isso cria novas oportunidades de organização - quando existem centenas de lojas de iluminação online ou milhares de sites sobre Paris, há a necessidade de alguém para organizá-las, linkando as melhores. E a especialização cria uma demanda por qualidade - se você quer se concentrar em um mercado ou serviço, é melhor ser o melhor para que as pessoas coloquem links para você, de modo que você suba nos resultados do Google e as pessoas possam encontrá-lo e clicar no seu site.

No varejo, na mídia, na educação, no governo e na saúde - em tudo -, o link fomenta a especialização, a qualidade e a colaboração, além de alterar os antigos papéis e criar novos. O link muda a arquitetura fundamental das sociedades e das indústrias, assim como as vigas e os trilhos de aço mudaram o modo como as cidades e nações são construídas e seu funcionamento. O Google faz os links funcionarem. A Google é a U.S. Steel da nossa época.

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"O Que a Google Faria?"
Autor: Jeff Jarvis
Editora: Manole
Páginas: 250
Quanto: R$ 59,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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