Livraria da Folha

 
14/03/2010 - 19h21

Autores discutem restrições da poesia no mercado editorial brasileiro; ouça entrevistas

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Neste domingo (14), comemora-se o Dia Nacional da Poesia. A data coincide com o nascimento do escritor baiano Castro Alves (1847-1871), um dos principais poetas do Romantismo.

A Livraria da Folha escutou três poetas contemporâneos sobre as restrições impostas ao gênero no mercado editorial brasileiro. Fabrício Corsaletti publicou "Esquimó" e o infantil "Zoo Zureta" pela Companhia das Letras, na segunda quinzena de fevereiro. Ana Rüsche é uma das fundadoras da Flap!, idealizadora da primeira revista de poesia para Kindle e Sony Reader, e autora de "Rasgada" e "Sarabanda". Analu Andrigueti publicará "A Matadora de Orquídeas", seu primeiro volume de versos, em maio deste ano.

Com quatro livros de poesia ("Movediço", "O Sobrevivente", "Estudos para o seu Corpo" e "Esquimó"), um de contos ("King Kong e Cervejas"), um romance ("Golpe de Ar") e dois infantis publicados ("Zoo" e "Zoo Zureta"), Corsaletti diz que o problema da poesia concentra-se no público-leitor. "Vende pouca poesia. Livro é caro, pouca gente lê, nosso país tem milhões de analfabetos e literatura é uma coisa que não está na moda", afirma.

Mesmo em condições sociais ideais, o poeta não acredita que as pessoas gostem mais de poesia do que de prosa. Quanto ao espaço para a poesia, Corsaletti acredita que se o escritor tiver talento conseguirá uma editora para lançar seu volume. "A ação dos blogs é totalmente democrática na internet", complementa.

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Para Ana Rüsche, a poesia não é destituída de interesse de mercado. "O que acontece, é que nós, os autores, temos bastante dificuldade de entrar. Em países como Angola e Moçambique, os poetas têm bastante prestígio na sociedade mesmo. A gente tem um certo desprezo natural pelo gênero".

Ela se reconhece como ambidestra na escrita, porque escreve prosa e poesia. Ana organizou a Flap!, evento literário gratuito que nasceu como alternativa à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), de 2005 a 2008. Questionada sobre a Flap! destacar a poesia em seus debates, Ana afirma que a Flip até hoje privilegia muito pouco esse tipo de linguagem, ao contrário do que acontece nos países vizinhos.

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Tanto que a escritora conseguiu publicar "Rasgada" no México. "Nós que Adoramos um Documentário", uma "autobiografia mentirosa" como Ana define, será lançado em setembro de 2010. O projeto foi premiado pelo ProAc 2009 (Programa de Ação Cultural). "Escrevo tanto prosa como poesia. As pessoas acabam me respeitando mais, porque tenho romances publicados do que livros de poesia".

Quanto às restrições editoriais-poéticas, Ana tem a impressão de que não existe um estudo apurado com soluções e números. "Não sei quem são os culpados. Não são os poetas de não se colocarem no próprio espaço nem é a própria livraria de não privilegiar. Sessões de poesia realmente são bem menores que as de prosa e lançamentos de novos autores você vê com raridade. É um por ano".

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Em maio, "A Matadora de Orquídeas" acumulará em seu currículo mais uma função, além da de blog poético: ele se tornará um livro, após um ano e meio de composições de Analu Andrigueti. Ela afirma que a matéria-prima de sua poesia é o amor que move as pessoas. "Estou começando a fazer poesia das coisas agora, sem a interrupção do eu lírico".

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Analu percebe que as grandes editoras têm algumas linhas de poesia, que privilegiam sempre os mesmos autores. "Que são fantásticos, mas sempre fica nessa mesmice. Se você quiser achar um livro da Ana Cristina César, você não acha. Até poetas excelentes ficam sem editora ou acaba a edição e ninguém reedita".

Para os poetas menores, restam as editoras pequenas que fazem um trabalho bacana dentro do possível, segundo a poeta. "Tem um nicho que ainda é pouco explorado pelas editoras, de uma poesia diferente, do cotidiano".

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