Livraria da Folha

 
24/03/2010 - 13h12

Conheça escritores e quadrinistas iranianos que burlam a censura de seu país

GUILHERME SOLARI
colaboração para a Livraria da Folha

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Tira divulgada na internet ganha versão em português e será editada no Brasil em 2011
Tira divulgada na internet ganha versão em português e será editada no Brasil em 2011

"Zahra's Paradise", feita por um escritor persa, um artista árabe e um editor judeu, é um quadrinho que pode ser lido em oito idiomas na internet (inclusive para o português, cuja versão deve ir ao ar ainda nesta semana). A obra será lançado no ano que vem pela editora LeYa.

A história se passa pouco após as eleições presidenciais de 2009 -que foram marcadas por diversos protestos por indícios de fraude-- e conta a história de Mehdi, um jovem que foi detido pela polícia e está desaparecido. A única coisa que impede o seu desaparecimento completo, uma vez que Mehdi está preso em um limbo judicial, é o ímpeto de sua mãe e do irmão blogueiro de reencontrá-lo.

"É um quadrinho que tem uma história totalmente atual, é feito dentro de um país islâmico e polêmico, seus autores não revelam os sobrenomes por medo de represália, e que é divulgado na internet e que depois será coletado em livro," disse o jornalista Cassius Medauar, que está traduzindo a obra para o português tanto para o site como para a futura edição nacional. "Mais atual que isso é impossível".

Porém, "Zahra's Paradise" --que pode ser lido no site http://www.zahrasparadise.com/ é apenas o último exemplo de como quadrinistas e escritores iranianos, muitos deles exilados no ocidente, encontram formas de burlar a repressão a temas políticos, morais e religiosos.

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Iranianas se reúnem para discutir muito mais do que tricô em HQ
Iranianas se reúnem para discutir muito mais do que tricô em HQ

"Bordados", obra que está sendo lançada hoje pelo novo selo de quadrinhos da Companhia das Letras, mostra os bastidores dos encontros femininos das mulheres iranianas. Enquanto os marmanjos vão fazer a sesta após o almoço, e acham que elas conversam apenas sobre culinária e tricô, são discutidos temas como sexo, virgindade, frustrações matrimoniais e adultério.

A autora Marjane Satrapi, traz na obra o mesmo grupo de mulheres que se encontrava na casa de sua avó em Teerã no bestseller "Persépolis". O tal "bordado" do título tem um significado além do simples tricô. A expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país.

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Autora mostra o poder da literatura para enfrentar a repressão
Autora mostra o poder da literatura para enfrentar a repressão

Já em "Lendo Lolita em Teerã" a autora iraniana Azar Nafisi revela o universo por trás das reuniões clandestinas com outras mulheres iranianas para explorar a literatura ocidental proibida em seu país, se reunindo para ler obras como "Orgulho e Preconceito", "Madame Bovary" e "Lolita". A obra se tornou um best-seller mundial com mais de um milhão de cópias vendidas.

Nafisi retomou o tema no autobiográfico "O Que Eu Não Contei", lançado no final do ano passado. Uma obra na qual ela reafirma sua crença no poder transformador da literatura e oferece aos leitores uma surpreendente história pessoal de sua formação no Irã, tendo por pano de fundo uma revolução política no país.

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Uma descoberta da sexualidade e das dificuldades políticas do país
Uma descoberta da sexualidade e das dificuldades políticas do país

Na narrativa de "Os Telhados de Teerã", que foi lançado este ano pela Rocco, o escritor Mahbod Seraji mostra os sentimentos e descobertas dos adolescentes e seus primeiros vislumbres sobre o amor, mas também o contato com a dor, a repressão, a morte e as perdas durante a ditadura do Xá Mohammad Reza Pahlevi.

O nome do livro veio de um costume muito comum na capital iraniana durante o verão: dormir no telhado. O calor seco do dia resfria-se após a meia-noite, e quem fica lá em cima acorda com os primeiros raios de sol na face e com o ar fresco nos pulmões. E é deste lugar que os adolescentes Pasha e Ahmed observam as pessoas e é também dali que Pasha consegue ver e admirar Zari, sua vizinha, uma jovem já prometida para casamento.

 
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