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08/04/2010 - 10h20

Mulher contrata libertino para aprender sedução em obra de Meg Cabot; leia trecho

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Divulgação
Após encontrar marido com outra, Caroline decide aprender a seduzir
Após encontrar marido com outra, Caroline decide aprender a seduzir

Meg Cabot, autora de "O Diário da Princesa", é uma mulher que leva a sério a ideia de ter diversas personalidades. O lançamento "Aprendendo a Seduzir", mostra uma delas, obra assinada pelo pseudônimo Patrícia Cabot, muito utilizado pela autora na década de 90.

Durante um baile, Lady Caroline Linford abre a porta de um dos cômodos e flagra seu noivo, o marquês de Winchilsea, nos braços de outra mulher. Para a sociedade vitoriana do século 19, tais escapulidas masculinas eram normais, e cancelar o casamento seria impensável.

O jeito, decide a jovem, é aprender a ser, ao mesmo tempo, a esposa e a amante, para que o marquês nunca mais tenha de procurar outra mulher fora do lar. Por isso, resolve tomar lições - teóricas, claro - sobre a arte do amor com o melhor dos professores: Braden Granville, o mais notório libertino de Londres.

Logo nas primeiras aulas começam a voar faíscas e as barreiras entre professor e aluna caem. Um romance vai mostrar que o amor escolhe seus próprios caminhos, sempre imprevisíveis.

Leia abaixo o prólogo de "Aprendendo a Seduzir".

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Prólogo

_Oxford, Inglaterra
Dezembro de 1869_

Uma lua cheia suspensa no ar acima dos altos muros do colégio iluminava o caminho do jovem rapaz como faria qualquer lampião a gás.

Não que não houvesse, é claro, iluminação a gás. Havia. Mas o brilho da redonda lua branca tornava quase completamente supérflua a bruxuleante claridade amarelada das lâmpadas a gás. Mesmo que todas as lâmpadas da Inglaterra tivessem se apagado, as pessoas com negócios a resolver tarde da noite ainda conseguiriam andar pelas ruas com relativa facilidade, iluminados por essa lua extraordinária.

Ou, talvez, ele simplesmente estivesse bastante bêbado. Sim, era bem provável que essa Lua não fosse absolutamente diferente de nenhuma outra e que ele ainda estivesse excessivamente intoxicado por todo o uísque que bebera durante o jogo, e a razão de ter sido capaz de encontrar esse caminho tão facilmente em meio à noite escura nada tinha a ver com a luz da lua, mas com o fato de ele já ter feito esse caminho muitas vezes.

Ele nem mesmo teve de olhar, de fato, para onde estava indo. Seus pés o levavam no rumo certo. Enquanto caminhava, conseguiu se concentrar em outras coisas - até onde ele, no estado em que estava e apesar do frio considerável, era capaz de se fixar em algo -, especialmente onde raios conseguiria o dinheiro.

Não que se sentisse verdadeiramente obrigado a pagar. É claro que as cartas haviam sido marcadas. Como era possível ter perdido tanto em tão pouco tempo? Ele era um excelente jogador. Realmente excelente. As cartas com certeza haviam sido marcadas.

E isso era estranho, considerando que Slater estava convencido de que o jogo era limpo. Conhecia os melhores jogos na cidade. Thomas tivera sorte, sabia, por ter sido admitido nessa partida, sendo ele o que era, afinal, apenas um conde - título recem‑adquirido. E o camarada de bigode! Era um duque. Um maldito duque!

Naturalmente, não agira como tal. Especialmente quando, depois de perder outra rodada, Tommy disse que o jogo fora preparado. Em vez de rir da acusação, o que um duque de fato teria feito, o sujeito apontou‑lhe uma pistola. Uma pistola de verdade! Tommy, claro, já ouvira falar de coisas assim, mas não esperava que isso fosse acontecer com ele.

Graças a Deus que Slater estava lá, pois acalmou o outro e garantiu que Tommy não quis dizer aquilo, embora não fosse verdade. Mais tarde, quando estavam sozinhos, Slater explicou a Tommy que ele não podia acusar alguém de trapacear se não pudesse provar. E a única prova de que Tommy dispunha - o desenho no verso das cartas parecia estranho e ele nunca perdera daquela maneira - não era convincente.

"Ele havia tido sorte de ter escapado com vida", pensou. Parecia que meter uma bala na cabeça de um jogador era coisa que o tal duque fazia todo dia.

Levar um tiro na cara talvez fosse preferível àquilo que Tommy sabia que estava reservado para ele: tentar conseguir mil libras para pagar o que devia.

É claro que não poderia pedir a um banco. A fortuna que o pai lhe deixara, ao morrer havia pouco mais de um ano, só chegaria a suas mãos quando completasse vinte e um anos, e ainda faltavam dois anos. Não poderia tocar naquele dinheiro. Mas sabia que podia pegar um empréstimo, dando‑o como garantia.

A dificuldade era: a quem pedir? Não a um banco. Eles informariam sua mãe, e ela ia querer saber para que precisava do dinheiro, e ele não poderia lhe dizer.

Sua irmã era uma possibilidade. Já era maior de idade e tomara posse de sua parte exatamente naquele mês. Poderia apelar a ela para conseguir um empréstimo. Também ia querer saber para que era o dinheiro, mas era bem fácil mentir para ela. Muito mais fácil do que para sua mãe.

E se Tommy aparecesse com uma história bastante boa, por exemplo, alguma coisa ligada a crianças carentes doentes, ou animais sofrendo crueldade, já que a irmã era solidária com o sofrimento alheio, ele estava certo de conseguir umas quatrocentas ou quinhentas libras.

O problema é que Tommy não gostava de mentir para Caroline. Caçoar dela era uma coisa, mas mentir... era algo totalmente diferente. Mentir de modo tão ultrajante ofendia seus princípios morais, mesmo em casos como esse, para salvar a própria pele. O fato de que Caroline certamente preferisse liquidar suas dívidas a perde‑lo não aliviava nem um pouco sua consciência. Não. Tommy sabia que teria de encontrar outra pessoa para lhe emprestar as mil libras.

E enquanto percorria mentalmente uma lista com nomes de amigos e conhecidos, tentando lembrar se algum deles lhe devia algum favor, seus pés, que continuaram se movendo, levaram‑no até o portão de sua faculdade. Ainda sem ter plena consciência do que estava fazendo, não se surpreendeu ao encontrar o portão fechado com segurança. Tinha de estar assim, é evidente, desde as nove horas, e agora já passava bastante da meia‑noite.

Seus pés, de novo por conta própria, começaram a se deslocar novamente, dessa vez levando‑o para além do portão e ao longo do alto muro de pedra que cercava os alojamentos que ele compartilhava com cerca de duzentos companheiros de faculdade. Ele continuava a repassar sua lista de amigos sem refletir no que estava fazendo, porque aquilo se tornara um tanto habitual durante os últimos meses. É evidente que estava pulando o muro. Assim que chegou ao ponto onde havia uma reentrância na pedra, enfiou o pé nela.

Nenhum de seus colegas tinha dinheiro, ele sabia. Estavam na mesma situação dele... esperando o vigésimo primeiro aniversário e sua herança. Poucos pais ainda estavam vivos, e alguns dos rapazes ocasionalmente haviam recebido somas em dinheiro. Mas nenhum daqueles com quem tinha intimidade para pedir um empréstimo de mil libras havia recebido essa importância ultimamente.

Quando já estava para pular o muro, ouviu uma voz chamando seu nome. Tommy virou a cabeça e soltou uma imprecação. Tudo de que não precisava agora era que o vigia fosse alertado do fato de que o conde de Bartlett estivesse mais uma vez escalando o muro.

Ao se virar, viu que não se tratava do vigia, mas sim do grande asno do duque. O sujeito devia te‑lo seguido desde a taverna onde haviam estado jogando. Qualquer um poderia pensar que um duque tinha coisa melhor para fazer do que ficar seguindo condes por aí, mas aparentemente não era assim.

- Olhe - disse Tommy, deixando o pé onde estava e apoiando o cotovelo em um joelho. - Você receberá seu dinheiro, Vossa Alteza. Já não lhe disse isso? Não imediatamente, é claro, mas em breve...

- Não se trata de dinheiro - disse o duque. Na verdade, ele não se parecia nada com um duque. Um duque curvaria seu bigode daquele jeito? E aquele colete, embora fosse de veludo, não era um tanto brilhante? - É sobre aquilo de que você me chamou - disse o duque, e só então Tommy notou que ele tinha alguma coisa na mão. E à brilhante e clara luz da lua Tommy conseguiu ver exatamente o que era.

- Do que o chamei? - subitamente Tommy desejou que sua conversa fosse ouvida. Pedia fervorosamente que o vigia os ouvisse, abrisse o portão e exigisse uma explicação. Muito melhor receber uma detenção por estar fora dos muros tarde da noite do que ter as entranhas atravessadas por uma bala - mesmo que isso talvez o livrasse de sua dívida.

- Certo - o Duque mantinha o cano da arma apontado para o peito de Tommy. - Trapaceiro. Foi do que me chamou. Bem, o Duque não faz isso, você sabe.

Tommy se deu conta de duas coisas ao mesmo tempo. A primeira, que parecia improvável que um duque - um verdadeiro duque - falasse daquela maneira. E a segunda, que ele ia morrer.

- Diga boa‑noite, my lord - disse o homem que não era duque e, ainda apontando a pistola na direção do peito de Tommy, puxou o gatilho. Então, imediatamente, a brilhante luz da lua desapareceu, levando consigo os problemas de Tommy.

*

"Aprendendo a Seduzir"
Autor: Patrícia Cabot
Editora: Essência
Páginas: 368
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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