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01/05/2010 - 17h58

Jornalista inglês diz que a história da humanidade é guiada pela comida; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Teoria do autor defende que a comida dita os rumos da civilização
Teoria do autor defende que a comida dita os rumos da civilização

E se os alimentos não fossem apenas o sustento vital do homem desde seus primeiros passos, mas também agentes da transformação e da organização social e geopolítica, fundamentais para o progresso industrial e econômico, agindo até na configuração dos conflitos militares? É esta a proposta de "Uma História Comestível da Humanidade" do jornalista Tom Standage.

Editor da revista inglesa "The Economist", Standage retoma grandes eventos da história através de uma ótica muito particular. O autor afirma, por exemplo, que o milho que comemos hoje em dia é uma criação do homem tanto quanto a internet. A Revolução Industrial, por outro lado, foi possível não só pelo advento das máquinas a vapor, mas também por causa do açúcar e da falta de batatas na Grã-Bretanha.

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O princípio é o mesmo do lançamento anterior do autor, "História do Mundo em Seis Copos", onde Standage aborda o desenvolvimento da civilização a partir de seis bebidas: cerveja (Egito), vinho (Grécia e Roma), destilado (colonizações modernas), café (Iluminismo), chá (Império Britânico) e Coca-Cola (globalização).

Além de tratar do passado, o jornalista também faz análises sobre o futuro do homem e as possíveis soluções para a possível escassez de alimentos decorrente do crescimento populacional. Temas polêmicos são abordados, como os biocombustíveis, os transgênicos e a nova onda de alimentos orgânicos.

Abaixo, leia um trecho de "Uma História Comestível da Humanidade".

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Enquanto nações europeias competiam para construir impérios globais, os alimentos ajudaram a promover a próxima grande transformação na história humana: um surto de desenvolvimento econômico através da industrialização. O açúcar e a batata, tanto quanto a máquina a vapor, sustentaram a Revolução Industrial. A produção de açúcar em plantations nas Índias Ocidentais foi, possivelmente, o primeiro protótipo de um processo industrial, embora dependente de trabalho escravo. A batata, nesse meio-tempo, superou a desconfiança inicial dos europeus para se tornar um alimento de primeira necessidade, capaz de garantir mais calorias por área de terra cultivada do que as plantações de cereais. Juntos, o açúcar e a batata forneciam um sustento barato para os trabalhadores nas fábricas da era industrial. Na Grã-Bretanha, onde esse processo teve início, a controvertida questão sobre o futuro do país estar na agricultura ou na indústria foi respondida de maneira inesperada e decisiva pela Grande Fome da Batata na Irlanda, em 1845.

O uso da comida como arma de guerra é antigo, mas os confliitos militares de grande escala dos séculos XVIII e XIX o elevaram a um novo nível. Os alimentos desempenharam um papel importante na determinação do resultado das guerras que definiram os Estados Unidos: a Guerra de Independência, nos anos 1770-80, e a Guerra Civil, nos anos 1860. Enquanto isso, na Europa, a ascensão e a queda de Napoleão estiveram intimamente ligadas à sua capacidade de alimentar vastos exércitos. A mecanização da guerra, no século XX, significou que, pela primeira vez na história, alimentar máquinas com combustível e munições tornou-se mais importante do que alimentar soldados. Durante a Guerra Fria, a comida assumiu um novo papel como arma ideológica entre capitalismo e comunismo e, em última instância, ajudou a determinar o resultado do conflito. Nos tempos modernos, ela tornou-se campo de batalha para outras questões, como comércio, desenvolvimento e globalização.

Durante o século XX, métodos científicos e industriais aplicados à agricultura levaram a uma expansão espetacular da oferta de alimentos e a um aumento correspondente da população mundial. A chamada revolução verde causou problemas ambientais e sociais, mas, sem ela, provavelmente teria havido fome generalizada em grande parte do mundo em desenvolvimento durante os anos 1970. E, ao permitir que a oferta de alimentos crescesse de forma mais acelerada que a população, a revolução verde abriu caminho para a industrialização surpreendentemente rápida da Ásia no final do século. Como as pessoas em sociedades industriais tendem a ter menos filhos do que em sociedades agrárias, já se pode prever agora que a humanidade atingirá seu ápice populacional no fim do século XXI.

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"Uma História Comestível da Humanidade"

Autor: Tom Standage
Editora: Zahar
Páginas: 280
Quanto: R$ 36
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha.

 
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