Livraria da Folha

 
06/05/2010 - 18h46

Não confiavam em mim no jornalismo porque sou gay, diz Aguinaldo Silva; leia trecho

da Livraria da Folha

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Livro traz fotos, entrevistas com novelistas e roteiro de cenas clássicas
Livro traz fotos, entrevistas e roteiros de cenas clássicas

Um dos maiores novelistas globais e também um dos mais polêmicos, Aguinaldo Silva largou o jornalismo, porque, segundo diz, não era considerado confiável por causa de sua orientação sexual.

A revelação está em "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo", lançado pela Panda Books e escrito pelos jornalistas André Bernardo e Cintia Lopes, que desenvolveram uma preciosidade para os fãs da teledramaturgia.

Dez autores como Glória Perez, Gilberto Braga, Silvio de Abreu, Manoel Carlos e o próprio Aguinaldo oferecem curiosidades e fatos marcantes sobre suas vidas.

Ilustrado com fotos em preto e branco, o almanaque compila entrevista com cada um dos novelistas e traz ainda roteiros de cenas clássicas, como a troca de torta na cara entre Paulo Autran e Fernanda Montenegro em "Guerra dos Sexos".

Aguinaldo Silva, responsável por sucessos como "Tieta", "Senhora do Destino", "Duas Caras" e, mais recentemente a minissérie "Cinquentinha", trabalhou por dez anos como repórter do jornal "O Globo" e ainda atuou na imprensa alternativa, sendo um dos responsáveis pelo jornal "Lampião da Esquina", o primeiro voltado ao público gay no país, em plena ditadura militar.

Natural de Carpina, em Pernambuco, e do signo de gêmeos, o autor tem também uma carreira na literatura. Escreveu, entre outros, romances policiais como "Prendam Giovanni Improtta" e "98 Tiros de Audiência".

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O escritor Aguinaldo Silva, que largou o jornalismo para ser novelista, é entrevistado em livro
Escritor Aguinaldo Silva, que largou a carrerira em jornalismo para ser novelista, é um dos entrevistados do livro

Leia trecho de "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo" :

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Mas por que você abandonou o jornalismo? Não sente saudades do dia a dia de uma redação?

Não. As redações de hoje nada têm a ver com as do meu tempo. Entrar em uma redação hoje seria como entrar em uma máquina do tempo. Eu já estava no O Globo havia oito anos. Entrei lá em novembro de 1969, mas aí fui preso, passei setenta dias na prisão e, quando retomei o meu lugar, já era 1970. O que eu acho que aconteceu foi o seguinte: modéstia à parte, eu era muito bom como jornalista, mas, ao mesmo tempo, eu era gay, assumido e declarado. E nas redações não havia lugar para esse tipo de gente. Por isso havia gays que criavam todo um mistério em torno de si mesmos para sobreviver. Eu, não. Aliás, se eu fosse pedir uma pensão do governo, eu pediria por isso, e não por ter sido perseguido politicamente. Mas aí comecei a perceber que, por melhor que eu fosse, jamais faria carreira no jornalismo, porque as pessoas não me consideravam confiável por causa da minha opção sexual. Então, o que aconteceu? Nos últimos três anos, eu era o editor de "Cidade", mas eu praticamente fazia todos os textos da primeira página. Oficialmente, o editor era outro. E isso foi criando dentro de mim um ressentimento muito grande, e chegou um momento em que eu não aguentava mais e comecei a hostilizar as pessoas. Na verdade, eu estava tentando criar uma situação para que eles me mandassem embora. O problema é que eles não mandavam... (risos)

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Não passou pela sua cabeça ir para outro jornal?

Não. Naquela época, eu faturava uma fortuna como freelancer. Fiz frila para um monte de gente, até para a revista Veja. Então, pensei: "Eu vou sair dessa droga e vou trabalhar como freelancer". É o sonho de todo mundo, não é verdade? Aí um belo dia, entrei na sala do Evandro Carlos de Andrade, que era o editor, e falei: "Olha, pelo amor de Deus, me mande embora. Eu não aguento mais. Isso está me fazendo mal. Me manda embora porque assim, eu tiro o fundo de garantia". Abri o jogo com ele. Aí o Evandro, que era uma flor de pessoa, ficou totalmente tocado e resolveu me demitir. (risos) Mas, dois meses depois, o Daniel (Filho) me chamou para trabalhar na TV Globo, e o Evandro nunca me perdoou. Ele achava que eu tinha aplicado um golpe nele ou coisa parecida. Mas não foi. Eu realmente queria sair.

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"A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo"
Autores: André Bernardo e Cintia Lopes
Editora: Panda Books
Páginas: 284
Quanto: R$ 45,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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