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11/12/2006 - 08h22

Corpo de Pinochet é velado em meio a celebrações nas ruas

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da Folha Online

A morte do ditador chileno Augusto Pinochet, 91, na tarde deste domingo, levou milhares de pessoas às ruas do Chile em manifestações de celebração. Mais de 5.000 pessoas tomaram as ruas, segundo informações do Ministério do Interior.

Algumas estavam de luto pela morte de um homem que acreditam ter "livrado" o Chile do comunismo, enquanto a maioria comemorava a morte de um dos mais famosos ditadores da América do Sul durante a Guerra Fria.

Algumas demonstrações foram violentas, e a polícia militar usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes anti-Pinochet que tentaram invadir o palácio presidencial de La Moneda --importante símbolo para muitos chilenos desde que o prédio foi bombardeado durante o golpe em 1973 que levou Pinochet ao poder.

A polícia impediu a passagem dos manifestantes e estes destruíram as portas de vidro de um hotel, atacaram farmácias e estabelecimentos comerciais. Os protestos só se dispersaram depois que a polícia lançou jatos d'água e gás lacrimogêneo na multidão.

Após o fim dos protestos, a polícia afirmou que 24 policiais ficaram feridos, e o ministro do Interior disse que vários protestantes foram presos. Fogueiras queimaram nas ruas da capital, Santiago, que também ficaram cheias de destroços, pedras e barricadas.

Velório

O corpo do ditador Augusto Pinochet foi levado para a Escola Militar de Santiago para ser velado antes de seu funeral, programado para terça-feira (13).

Um carro fúnebre saiu com o caixão do Hospital Militar, onde o general Pinochet morreu uma semana depois de sofrer um infarto do miocárdio, e chegou ao instituto militar na madrugada desta segunda-feira, informou a polícia.

AP
Partidários de Pinochet aguardam chegada do corpo do ditador chileno à Escola Militar
O velório foi preparado no salão principal da escola, que prepara os futuros oficiais do Exército. Pinochet ingressou ali como cadete em 1933 para iniciar os estudos militares que o levariam a transformar-se em ditador 40 anos depois, em 11 de setembro de 1973.

O ditador (1973-1990) e comandante-em-chefe do Exército (1973-1998), cujo corpo será cremado, receberá apenas honras militares, mas não terá um funeral de Estado nem será decretado luto nacional, segundo decisão do governo da presidente Michelle Bachelet.

O Exército anunciou em comunicado que às 12h (13h de Brasília) de amanhã acontecerá na Escola Militar uma missa em homenagem ao ditador. Ao término da cerimônia, serão feitas as honras fúnebres no pátio de honra do instituto militar.

A câmara de Pinochet só poderá ser visitada pela família e pela alta oficialidade do Exército. Ao público, será colocado à disposição um livro de condolências. Todos os recintos militares chilenos arriaram hoje a bandeira chilena após a morte do ex-ditador. Quase 4.000 partidários de Pinochet se reuniram durante a noite nas proximidades da Escola Militar, mas apenas metade aguardou a chegada do corpo.

Morte

O ditador chileno morreu neste domingo, às 14h15 (15h15 pelo horário de Brasília), aos 91 anos, no Hospital Militar de Santiago. Pinochet havia sido internado às pressas na madrugada de domingo (3), após sofrer um ataque cardíaco.

O médico Juan Ignacio Vergara, chefe da equipe médica que atendia Augusto Pinochet, disse que o ditador sofreu um problema cardíaco que não pôde ser superado, apesar de uma série de manobras de reanimação.

Um relatório emitido pelo Hospital Militar de Santiago (às 11h de Brasília de ontem) falava sobre a estabilidade e chances de recuperação de Pinochet. Quatro horas depois, Pinochet sofreu uma "brusca recaída" e morreu.

Pinochet morreu no mesmo dia do aniversário de sua esposa, Lucía Hiriart Rodríguez, que completa 84 anos. Grupos peruanos defensores dos direitos humanos ressaltaram a ironia de que a morte do ditador chileno Augusto Pinochet tenha ocorrido no Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado neste domingo.

Repercussão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ontem, por meio de uma nota oficial, que o ditador chileno Augusto Pinochet "simbolizou um período sombrio na história da América do Sul". "Foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, apagadas por golpes autoritários", diz a nota assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer.

A Casa Branca afirmou que o governo do ditador Augusto Pinochet representou um "período difícil" para o Chile e acrescentou que os EUA "estão ao lado das vítimas de seu regime". "A ditadura de Augusto Pinochet no Chile representou um dos períodos mais difíceis na história dessa nação", disse Tony Fratto, porta-voz da Casa Branca.

Para a deputada Isabel Allende, "o ditador chileno Augusto Pinochet não merece um funeral de Estado com honras de governo", afirmou, em Madri. "Os funerais com honras estão reservados para presidentes que foram eleitos, não para ditadores", disse a parlamentar, filha do presidente socialista Salvador Allende que se suicidou no palácio de La Moneda durante o golpe encabeçado por Pinochet em 1973.

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher ficou "profundamente triste" com a notícia da morte do general e ditador chileno Augusto Pinochet, anunciou neste domingo seu porta-voz. Thatcher não fez declarações, mas transmitiu suas profundas condolências à viúva de Pinochet e à toda família, afirmou o porta-voz.

A organização Anistia Internacional (AI) afirmou neste domingo que a morte do ditador chileno Augusto Pinochet deve ser encarada como um "chamado" aos governos para a necessidade de uma justiça rápida, evitando, assim, que os culpados por violações de direitos humanos não sejam processados.

"A morte do general Pinochet é um chamado para as autoridades do Chile e de todos os governos, lembrando a importância de uma justiça rápida no que se refere a crimes de direitos humanos, dos quais o próprio Pinochet escapou", ressaltou um porta-voz da AI.

O vice-presidente da Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH), Luis Guillermo Pérez, lamentou neste domingo que Augusto Pinochet tenha morrido sem ter sido julgado. Pérez, no entanto, considera que o general foi "condenado moralmente". "Mesmo os conservadores chilenos compreenderam que Pinochet era um criminoso contra a humanidade."

Últimos anos

Pinochet passou os últimos anos de sua vida morando em Santiago e enfrentando acusações de abusos aos direitos humanos e fraudes cometidos durante os 17 anos em que esteve no poder (entre 1973 e 1990). Sob seu regime, mais de 3.000 pessoas foram mortas por sua polícia secreta.

Apesar das acusações, o general não chegou a ir a julgamento, já que sua equipe de defesa sempre alegou que sua saúde era muito frágil para que ele enfrentasse o processo judicial

Pinochet enfrentava processos por crimes de violações dos direitos humanos, fraude ao fisco e uso de passaportes falsos no chamado Caso Riggs --aberto após a descoberta de contas secretas no exterior, nas quais ele acumulou fortuna de US$ 27 milhões, cuja origem não foi determinada.

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