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04/10/2001
-
04h36
AMIR LABAKI
da Folha de S.Paulo
O recurso pelo novo terrorismo internacional a "armas nucleares ou de destruição de massa" (químicas e biológicas) é "um perigo real e imediato". A advertência vem de um dos principais jornalistas americanos especializados em questões bélicas e nucleares, Jonathan Schell, 57.
Schell celebrizou-se despertando os EUA para sucessivas armadilhas militares. São dele algumas das mais pungentes reportagens sobre o desvario da intervenção americana no Vietnã. Há vinte anos, com o livro-reportagem "O Destino da Terra", devolveu o desarmamento nuclear ao topo da pauta diplomática internacional.
Atualmente, Schell é articulista do revista de centro-esquerda "The Nation". Escrevendo logo após o ataque do dia 11, Schell sustentou que "poderia ter sido pior". "O vazio no céu pode se espalhar. Fomos avisados", frisou.
Em entrevista à Folha, por e-mail, Schell volta a alertar para o risco de uma disseminação descontrolada de armas atômicas tanto entre países quanto entre grupos terroristas. "Todos os ingredientes para a catástrofe estão prontos", diz. "Só falta o fósforo."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Folha - O pior ainda está por vir, com o terrorismo tornando-se nuclear?
Jonathan Schell - Ninguém prevê o futuro, mas o uso de armas nucleares ou de outras armas de destruição em massa é um perigo real e imediato. A Rússia está transbordando desses materiais, sob o frágil controle de gente que ganha 50 dólares por mês. Uma companhia de eletricidade cortou a luz de uma base de submarinos na Rússia. Um comandante enviou suas tropas exigindo à bala que a energia fosse religada.
Como podemos ver, há um monte de compradores para estes materiais. A Aum Shin Rikyo, por exemplo, que soltou gás sarin no metrô de Tóquio, procurou por materiais de armas nucleares. Em resumo, todos os ingredientes para a catástrofe estão prontos. A madeira e o papel já estão na lareira. Só falta o fósforo.
Mas o perigo nuclear vai além do terrorismo. Índia e Paquistão, as duas novas potências nucleares, têm se envolvido em constantes escaramuças em torno da Caxemira. Há uma corrida por armas nucleares em toda a Ásia.
Não podemos esquecer, também, que EUA e Rússia têm, juntos, mais de 30 mil armas nucleares. Não há nenhuma razão para que venham a ser usadas, mas as coisas mudam rapidamente, como provam os eventos da semana passada.
Folha - Como o Brasil pode colaborar para tornar o mundo mais seguro?
Schell - A única medida direta efetiva contra o terrorismo é o trabalho policial, que deveria assumir um caráter internacional. Além disso, o mais importante é muito amplo: adotar como objetivo e pressionar pela eliminação total das armas de destruição de massa. O exemplo de o Brasil ter desenvolvido um programa visando uma bomba nuclear e tê-lo cancelado, ao lado de toda a América do Sul, torna-o um bom país para assumir um papel vigoroso e de liderança nesse esforço.
Folha - Houve algum sinal de que, a partir deste novo quadro de uma vulnerabilidade muito mais difusa e complexa, será mais uma vez abandonado o projeto de um escudo espacial antimísseis?
Schell - Infelizmente, o espírito de raiva e de patriotismo nos EUA empurrou até aqui as coisas na direção contrária. O senador democrata Carl Levin, líder do Comitê de Serviços Armados e crítico da defesa de mísseis, acabou de abandonar sua oposição ao menos por enquanto.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Terror nuclear é perigo real, diz especialista
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da Folha de S.Paulo
O recurso pelo novo terrorismo internacional a "armas nucleares ou de destruição de massa" (químicas e biológicas) é "um perigo real e imediato". A advertência vem de um dos principais jornalistas americanos especializados em questões bélicas e nucleares, Jonathan Schell, 57.
Schell celebrizou-se despertando os EUA para sucessivas armadilhas militares. São dele algumas das mais pungentes reportagens sobre o desvario da intervenção americana no Vietnã. Há vinte anos, com o livro-reportagem "O Destino da Terra", devolveu o desarmamento nuclear ao topo da pauta diplomática internacional.
Atualmente, Schell é articulista do revista de centro-esquerda "The Nation". Escrevendo logo após o ataque do dia 11, Schell sustentou que "poderia ter sido pior". "O vazio no céu pode se espalhar. Fomos avisados", frisou.
Em entrevista à Folha, por e-mail, Schell volta a alertar para o risco de uma disseminação descontrolada de armas atômicas tanto entre países quanto entre grupos terroristas. "Todos os ingredientes para a catástrofe estão prontos", diz. "Só falta o fósforo."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Folha - O pior ainda está por vir, com o terrorismo tornando-se nuclear?
Jonathan Schell - Ninguém prevê o futuro, mas o uso de armas nucleares ou de outras armas de destruição em massa é um perigo real e imediato. A Rússia está transbordando desses materiais, sob o frágil controle de gente que ganha 50 dólares por mês. Uma companhia de eletricidade cortou a luz de uma base de submarinos na Rússia. Um comandante enviou suas tropas exigindo à bala que a energia fosse religada.
Como podemos ver, há um monte de compradores para estes materiais. A Aum Shin Rikyo, por exemplo, que soltou gás sarin no metrô de Tóquio, procurou por materiais de armas nucleares. Em resumo, todos os ingredientes para a catástrofe estão prontos. A madeira e o papel já estão na lareira. Só falta o fósforo.
Mas o perigo nuclear vai além do terrorismo. Índia e Paquistão, as duas novas potências nucleares, têm se envolvido em constantes escaramuças em torno da Caxemira. Há uma corrida por armas nucleares em toda a Ásia.
Não podemos esquecer, também, que EUA e Rússia têm, juntos, mais de 30 mil armas nucleares. Não há nenhuma razão para que venham a ser usadas, mas as coisas mudam rapidamente, como provam os eventos da semana passada.
Folha - Como o Brasil pode colaborar para tornar o mundo mais seguro?
Schell - A única medida direta efetiva contra o terrorismo é o trabalho policial, que deveria assumir um caráter internacional. Além disso, o mais importante é muito amplo: adotar como objetivo e pressionar pela eliminação total das armas de destruição de massa. O exemplo de o Brasil ter desenvolvido um programa visando uma bomba nuclear e tê-lo cancelado, ao lado de toda a América do Sul, torna-o um bom país para assumir um papel vigoroso e de liderança nesse esforço.
Folha - Houve algum sinal de que, a partir deste novo quadro de uma vulnerabilidade muito mais difusa e complexa, será mais uma vez abandonado o projeto de um escudo espacial antimísseis?
Schell - Infelizmente, o espírito de raiva e de patriotismo nos EUA empurrou até aqui as coisas na direção contrária. O senador democrata Carl Levin, líder do Comitê de Serviços Armados e crítico da defesa de mísseis, acabou de abandonar sua oposição ao menos por enquanto.
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