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20/10/2001 - 10h22

Doença por antraz é conhecida desde a era bíblica

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

O antraz e os seres humanos são velhos conhecidos. A bactéria, que provoca feridas negras como o carvão (daí o nome "anthracis", que significa carvão em grego), é uma das doenças de animais mais antigas já registradas.

Sua estréia na história começa na Bíblia, onde a doença aparece como a sexta praga do Egito. No capítulo 9, Deus instrui Moisés a tomar "mãos cheias de cinza de forno" e a espalhar o pó, provocando "nos homens e nos animais tumores que se arrebentem em úlceras por toda a terra do Egito".

O bacilo só seria isolado séculos depois, em 1876, pelo bacteriologista alemão Robert Koch (1843-1910) -que empresta seu nome a outra bactéria famosa, a da tuberculose. Num feito inédito, ele demonstrou que a doença era causada por um microrganismo, trabalho que inaugurou uma nova ciência, a microbiologia.

Outro cientista famoso, o francês Louis Pasteur (1825-1895), foi mais além. Em 1881, ele desenvolveu a primeira vacina bacteriana contra o B.
anthracis. Pasteur se impressionou com a capacidade de resistência da bactéria, que podia sobreviver por décadas no solo, na forma de esporos, e voltar a infectar animais. De tão espantado, batizou os pastos contaminados de "campos malditos".

"Já houve caso de uma epidemia em carneiros em que o campo ficou fechado por 60 anos. Depois voltaram a criar animais ali, e todos morreram", disse à Folha o bacteriologista Luiz Rachid Trabulsi, do Instituto Butantan.

Essa capacidade de resistência é uma resposta da bactéria a condições ambientais difíceis, como falta de alimento ou água. E é o que faz do bacilo uma arma tão eficiente. Inalados, os esporos de B. anthracis provocam rompimento de vasos sanguíneos e gânglios linfáticos, levando a falência dos órgãos e morte em 99% dos casos.

O poder de fogo do micróbio começou a ser mais claramente demonstrado no século 20. Na década de 30, o Japão usou o antraz (também chamado de carbúnculo ou carbúnculo hemático), além da bactéria da peste, contra os chineses, durante a invasão da Manchúria. Em 1995, um relatório do Senado americano apresentava uma lista de 17 países como possuidores de armas biológicas -incluindo Iraque, Líbia, Irã, Síria, Coréia do Norte e Israel.

Além de resistente e letal, a bactéria do carbúnculo ainda é fácil de obter e de cultivar. Qualquer pessoa instruída em microbiologia e com um laboratório razoavelmente simples pode obter amostras em campo, isolá-las e multiplicá-las -um prato cheio para terroristas que não dispõem de alta tecnologia para trabalhar com vírus, mais perigosos.

Apesar da letalidade da contaminação pela via respiratória, quem lida com o antraz afirma que casos naturais da infecção em humanos são raros e o tratamento, antes de aparecerem os sintomas graves, pode ser feito com antibióticos comuns.

"Isso nunca foi um problema de saúde pública", afirma a microbiologista Lucia Baldassi, do Instituto Biológico de São Paulo, que mantém culturas de B. anthracis em seu laboratório para fazer diagnóstico em animais. "O último caso humano no Estado aconteceu em 1978", relata.

Para o virologista Paolo Zanotto, da USP, o antraz é mais uma arma de propaganda do que um instrumento de destruição. "O poder de biomagnificação [desencadeamento de uma epidemia pela transmissão de pessoa a pessoa" é desprezível", diz. "A força dele está em transmitir a idéia de que ninguém está seguro."

Leia mais sobre o antraz:

  • Como é a contaminação

  • Entenda a diferença entre contaminação e exposição

  • O que é o antraz

  • Doença é conhecida desde a era bíblica


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