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18/11/2001 - 11h21

Estilo Taleban resiste em cidade liberada

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IGOR GIELOW
Enviado a Jalalabad, no Afeganistão

A vida em Jalalabad, depois de mais de cinco anos de domínio do Taleban, não registrou as cenas de "libertação explícita" de Cabul ou Mazar-e-Sharif nem tampouco, até agora, chacinas dos novos donos do poder. Na verdade, o Taleban deixou de existir na cidade como poder, não como prática.

Tanto o clima quanto a ausência de represálias até agora se explicam pelo fato de a região ser um centro pashtu, a etnia-base do Taleban. Logo, não há um boom de barbeiros na cidade, as mulheres não jogaram fora suas burgas nem há rádios espalhados pela cidade. Ao contrário: diante da sugestão de uma jornalista americana para que ligassem um walkman a um alto-falante, um soldado pashtu reclamou de forma veemente.

"Na verdade, há um sentimento de alívio porque ninguém gostava do Taleban. Mas acho que ainda vai demorar um pouco para que uma mulher se atreva a sair sem burga aqui, até porque muitas já andavam cobertas antes dos mulás tomarem o poder", diz Faizad Khaler, um professor de 28 anos que mora há dez em Jalalabad.

Com efeito, nas regiões mais fortemente pashtus do vizinho Paquistão, como em Peshawar, as mulheres usam a tradicional roupa que cobre todo o corpo. Em Jalalabad, em três horas de caminhada a Folha viu apenas quatro mulheres, todas devidamente empacotadas.

No mais, a vida parece relativamente nos trilhos na cidade -que, embora grande e miserável, não é mais pobre do que um bairro da periferia paulistana.

"As coisas não mudaram não. Mas preferimos o comandante Abdul Qaddir ao Taleban", disse o estudante Sefullah Mahmud, 18, antes de entrar na mesquita central da cidade para as orações da sexta-feira. O rapaz reproduz o sentimento geral da região, muito mais ligada a figuras tribais carismáticas do que a doutrinas politico-teológicas.

Vendedores nos bazares estão ativos, em especial em seu apetite para ludibriar estrangeiros incautos. E as crianças, até agora, ainda vão às aulas.

Ou melhor, os meninos. O veto do Taleban à educação para meninas, talvez a mais obscurantista das medidas da milícia extremista islâmica, é oficialmente o alvo número um da nova gestão pashtu.

"Vamos abrir 10 mil vagas rapidamente nas escolas", afirmou o governador Abdul Qaddir. O que se entende por rapidamente é algo vago, de todo modo, e o número não parece muito animador para uma população de 700 mil habitantes.

Já diante de perguntas sobre o destino dos milicianos do Taleban, as respostas são mais ou menos uniformes. O grosso das forças foi para o sul, mas cerca de 800 dos "árabes-afegãos" ligados à Al Qaeda de Osama bin Laden estão espalhados pelas montanhas em volta de Jalalabad. Eles são vistos como um perigo constante, porque não contam com a simpatia de ninguém -os pashtus têm forte preconceito contra árabes como os sauditas e egípcios ligados a Bin Laden, seus mais capazes e fanáticos soldados.
Mas há um componente interessante: o fato de que membros da administração do mulá Mohamad Omar ficaram em Jalalabad.

A reportagem ouviu cinco relatos diferentes de pessoas que simplesmente tiraram seus turbantes pretos à Taleban, colocaram um chapéu típico da região e voltaram para suas antigas ocupações.

Por motivos óbvios, essas pessoas estão refratárias a contatos com jornalistas. "Mas é o seguinte: o sujeito que fazia parte da gestão do Taleban e não era soldado simplesmente voltou para casa. Pôs o turbante na gaveta", diz Khaler.

O fato é que, com a crescente incerteza sobre quem vai mandar no país, aparentemente a população de Jalalabad está optando por seguir o folclorizado conselho atribuído ao presidente George W. Bush: "Vamos a ver".

 

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