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18/10/2002 - 16h28

Vaticano repreende publicamente bispos americanos por pedofilia

da France Presse, na Cidade do Vaticano

O Vaticano repreendeu publicamente hoje os bispos norte-americanos, rejeitando as propostas que apresentaram para punir os eclesiásticos acusados de pedofilia e impondo a criação de uma comissão mista para orientar as decisões sobre o assunto.

O Vaticano também desaprovou o documento adotado em junho passado pelos bispos norte-americanos por considerá-lo "vago e impreciso".

Segundo as autoridades da Igreja, que estudam o documento desde o dia 26 de junho passado, o documento, nos termos em que está escrito, pode suscitar "confusão e ambiguidades".

"As resoluções são, em alguns pontos, dificilmente conciliáveis com a lei universal da Igreja", disse o cardeal Giovanni Battista Re, da Congregação dos Bispos, em carta enviada ao presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, monsenhor Wilton Daniel Gregory.

Ouvido sobre a decisão do Vaticano, o cardeal colombiano Darío Castrillón Hoyos, responsável pela Congregação para o Clero, explicou claramente a posição não apenas jurídica, mas também moral da Igreja ante a proposta dos bispos norte-americanos.

Perdão
"Não se pode permitir que acusações injustificadas e que não tenham sido aprovadas arruinem a vida de um homem do ponto de vista psicológico, físico e até econômico. Além disso, a Igreja não pode prescindir de conceitos como o perdão e o arrependimento", comentou durante uma entrevista.

No documento, os bispos norte-americanos contemplavam a exclusão imediata de qualquer sacerdote responsável por agressões sexuais a um menor e dos reincidentes, encaminhando às autoridades judiciais as denúncias de abuso sexual de nas quais estivesse envolvido um religioso.

O cardeal colombiano recordou que "não se pode deixar de levar em conta que um sacerdote era e é um homem de Deus" e que, junto com o perdão e a misericórdia, a Igreja acredita na "conversão".

"Não é por isto que vamos agir parcialmente com aquele que cometa um crime, mas deve-se observar seus direitos e sua dignidade, como filho de Deus", explicou.

Monsenhor Gregory, porta-voz dos bispos americanos, esclareceu em entrevista à imprensa nesta sexta-feira, que "não existe conflito" entre os bispos de seu país e a Santa Sé, em relação ao problema da pedofilia.

Comissão
A Igreja dos EUA, uma das mais ricas do mundo juntamente com a alemã, concordou em fazer parte de uma comissão mista, da qual participarão oito clérigos, quatro dos Estados Unidos e quatro da Cúria romana, para que sejam revistas as resoluções do documento.

A comissão poderá apresentar seus primeiros resultados em novembro durante a assembléia geral dos bispos que será realizada em Washington.

Segundo o Vaticano, o documento estudado pela Doutrina da Fé, por bispos, clero e Instituições da Vida Religiosa, foi considerado inaceitável principalmente por que implica a imediata remoção do cargo, no caso de uma acusação de pedofilia, mesmo que não tenha sido provada.

"Estas resoluções adotadas nos Estados Unidos podem ser uma fonte de confusão e de ambigüidade, já que alguns aspectos são dificilmente conciliáveis com a Lei Universal da Igreja. Além disso, a terminologia usada nos documentos é algumas vezes imprecisa e de interpretação difícil", explicou o Vaticano.

"O mais apropriado é realizar uma nova reflexão e que seja revista", acrescentou.

Os bispos norte-americanos aceitaram as objeções do Vaticano sobre o documento contra a pedofilia anunciando que participarão da comissão mista.

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