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24/10/2002 - 20h55

Cresce tensão no teatro de Moscou; tchetchenos mantêm 700 reféns

da Folha Online

O drama dos cerca de 700 reféns que são mantidos por um comando tchetcheno já dura mais de 24 horas. A tensão aumenta à medida em que o tempo passa e as negociações entre as autoridades russas e os rebeldes não avançam. Hoje, 39 reféns conseguiram sair do local - 37 foram libertados e duas mulheres fugiram. Mais cedo, o corpo de uma mulher foi retirado do teatro. A vítima tinha sido baleada no peito e teve os dedos quebrados.

Os rebeldes ameaçam atirar nas pessoas ou explodir o local, a menos que a Rússia retire suas tropas da Tchetchênia. Entre as pessoas capturadas, há 75 estrangeiros e mais de 40 adolescentes.

Os reféns só têm água e chocolate disponíveis, informou na noite de hoje um porta-voz do Serviço de Segurança Russo (FSB), Serguei Ignachenko.

"Negociamos para que possa ser enviado alimento", aos reféns, acrescentou o porta-voz.

"Os terroristas afirmaram que estão em greve de fome e é por isso que seus reféns tampouco devem comer", acrescentou.

O ataque, perpetrado por 40 homens e mulheres fortemente armados, desafiou a comunidade internacional e colocou o Kremlin numa situação humilhante.

Os guerrilheiros, com armas, granadas e explosivos, mantêm as forças de segurança russas de mãos atadas, ameaçando explodir o teatro e os 700 reféns se houver qualquer tentativa de invasão.

Os rebeldes, autodenominados de "smertniki" (esquadrão suicida), fizeram ameaças em um website tchetcheno e por intermédio dos reféns.

A TV Al Jazeera, com base no Catar, mostrou uma gravação do que seria um dos rebeldes dizendo: "Cada um de nós está pronto para o sacrifício a Deus e à independência da Tchetchênia. Queremos a morte mais que vocês querem a vida".

A cardiologista Maria Shkolnikova, que acabou se tornando porta-voz não-oficial dos reféns, disse à Reuters por telefone celular que os rebeldes encheram o prédio de explosivos - nas colunas, nas cadeiras e até presos aos próprios reféns.

Apoio internacional
O presidente russo, Vladimir Putin, adiou um encontro com o presidente norte-americano, George W. Bush, e viagens à Alemanha e Portugal para tentar solucionar a crise.

Com um ar exausto, ele disse à nação que a operação era um "ato terrorista planejado no exterior" e que a maior prioridade era salvar a vida dos reféns.

Líderes mundiais se alinharam ao Kremlin e pediram uma ação conjunta contra atos de terror. Bush e o chanceler alemão, Gerhard Schröder, telefonaram para oferecer apoio e solidariedade, e o Conselho de Segurança da ONU, a pedido da Rússia, condenou unanimemente o "hediondo" ataque guerrilheiro, exigindo a libertação dos reféns.

O Reino Unido declarou que enviará uma equipe especializada em antiterrorismo para ajudar nas negociações.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que acabou de voltar de uma viagem de 10 dias à China e Ásia central, divulgou um comunicado em que pede que os guerrilheiros libertem imediatamente os reféns sem a imposição de nenhuma condição.

"Os direitos humanos devem ser respeitados em qualquer momento e por todos", acrescentou o Alto Comissário para Direitos Humanos da ONU, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, por meio de outro comunicado.

As autoridades calculam que há cerca de 75 estrangeiros entre os reféns, incluindo australianos, britânicos, alemães e norte-americanos. Os reféns eram a platéia de um musical, e entre eles havia crianças, mulheres, doentes cardíacos e diabéticos. A polícia disse que a mulher que morreu foi assassinada ao tentar fugir, no momento da invasão do teatro, na noite de ontem.

Mártir
Um jornalista do "Sunday Times" que pôde se encontrar no teatro com o chefe do comando, Movsar Baraiev, afirmou que ele parecia tranquilo.

"Estamos de bom humor porque nosso sonho está a ponto de se tornar realizado, converter-nos em shahid [mártires]", declarou Baraiev citado pelo jornalista, Mark Franchetti, que falou com ele durante 20 minutos.

O jornalista confirmou que a única reivindicação dos sequestradores era a retirada das tropas russas da Tchetchênia.

"Eles não se consideram terroristas, porque não exigem nem dinheiro nem avião, como geralmente fazem os terroristas", declarou, afirmando também ter visto três mulheres do grupo.

Situação insustentável
"Os nervos estão a ponto de estourar. A situação se tornou mais agressiva. Dá para sentir na voz das pessoas", disse Shkolnikova, na noite de hoje.

Do lado de fora, parentes tentavam contatar os reféns através dos telefones celulares. Mas as baterias estavam acabando e a comunicação estava ficando menos frequente.

O site de notícias tchetcheno www.kavkaz.org publicou o que classificou como uma declaração do comandante dos rebeldes, Movsar Barayev. "Há mais de mil pessoas aqui. Ninguém sairá vivo e eles morrerão conosco se houver qualquer tentativa de invadir o prédio".

Ele pedia a Putin que pusesse um fim a guerra com a Tchetchênia, um território russo que busca a independência, se quisesse ver os reféns vivos.

Os rebeldes libertaram no início da ação cerca de 150 reféns, e mais alguns na quinta-feira, incluindo três crianças e um britânico.

"Quando pedi que eles libertassem outros, eles disseram que já tinham deixado os três menores saírem e que não soltariam mais ninguém", disse Iosif Kobzon, parlamentar que participa das negociações.

A Rússia luta desde 1994 para acabar com uma revolta separatista na Tchetchênia, que mata diariamente soldados e civis. O ataque ao teatro é o mais audacioso desde 1996.

Com agências internacionais

  Veja galeria de fotos da ação do comando tchetcheno em Moscou

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