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24/11/2002
-
14h01
da Folha Online
Para Guy Murray-Bruce, diretor da organização "Miss Mundo Nigéria", a imprensa exagerou o "pequeno incidente de distúrbios" que deixou cerca de 200 mortos na Nigéria.
"O que aconteceu é uma pena, porque a imprensa internacional deu destaque desproporcional a um pequeno incidente de distúrbios", disse Murray-Bruce à rádio britânica BBC.
Mais de 200 pessoas morreram desde quarta-feira (20) em enfrentamentos entre cristãos e muçulmanos em Kaduna (norte da Nigéria), segundo o diretor da organização para a defesa dos direitos humanos Civil Rights Congress, Shehu Sani.
Cerca de mil pessoas ficaram feridas e outras 11 mil se viram obrigadas a deixar suas casas por causa da violência em Kaduna, declarou hoje o presidente da Cruz Vermelha da Nigéria, Emmanuel Ijewere.
Ijewere disse que a maioria das vítimas morreu nos confrontos entre cristãos e muçulmanos. Também informou que, ao contrário dos informes, os distúrbios prosseguiram durante a noite passada na cidade.
Os conflitos, que ainda não foram totalmente controlados, deverão afetar a imagem internacional da Nigéria, já bastante deteriorada pelos recentes fatos relacionados com a aplicação da Charia, a lei islâmica.
Nos últimos tempos, a cobertura internacional centrou-se nas condenações à morte por apedrejamento de mulheres acusadas de adultério, penas pronunciadas por tribunais islâmicos do norte da Nigéria. Algumas candidatas a Miss Mundo chegaram a se negar em participar do concurso para protestar contra essas condenações.
A decisão de cancelar o evento -que será realizado no dia 7 de dezembro em Londres- desagradou o presidente nigeriano Olusegún Obasanjo, que havia dado seu público apoio ao concurso apenas algumas horas antes da decisão tomada.
Em Londres
Os organizadores e as candidatas do concurso de beleza Miss Mundo deixaram hoje a Nigéria. O avião particular partiu do aeroporto internacional da capital Abuja pouco depois das 3h30 locais (23h30 de Brasília) com destino a Londres, no dia seguinte ao cancelamento do concurso na Nigéria devido aos distúrbios. Os organizadores e as candidatas chegaram algumas horas depois ao aeroporto de Gatwick (sul de Londres).
"Estivemos nos esforçando para manter a calma e agora só queremos chegar a Londres, onde esperamos que nos recebam bem", disse Miss Inglaterra, Daniella Luan, falando ao telefone com a televisão britânica pouco antes de deixar a Nigéria.
O Miss Mundo será realizado como previsto, no dia 7 de dezembro. Um dos porta-vozes do concurso declarou que todas as candidatas estão agora na capital britânica.
A maioria das candidatas estava ansiosa para ir a Londres. "Fomos usadas como pretexto. As pessoas estão se matando e dizem que tudo é por causa do Miss Mundo", reclamou Paula Murphy, Miss Escócia. "Um concurso de beleza não vale a pena se provoca mortes e quero voltar para casa o quanto antes possível", acrescentou.
Os protestos
Jovens cristãos e muçulmanos começaram a se enfrentar na quarta-feira (20), depois da publicação do artigo jornal "This Day", em 16 de novembro. O artigo sugeria que até o profeta Maomé, fundador do islamismo, se casaria com uma das participantes do concurso de beleza. A publicação foi considerada pelos muçulmanos uma blasfêmia.
O artigo deflagrou três dias de confrontos em Kaduna, cidade majoritariamente muçulmana no norte do país. Os conflitos se alastraram também para a capital Abuja.
Os violentos distúrbios entre cristãos e muçulmanos continuaram ontem na cidade de Kaduna, apesar da decisão de transferir o concurso de beleza Miss Mundo, que seria realizado em Abuja, a capital nigeriana.
A realização do concurso de Miss Mundo provocou polêmica entre os muçulmanos. Rapidamente, a situação evoluiu para uma manifestação contra o concurso de beleza e para um enfrentamento entre cristãos e muçulmanos.
As autoridades enviaram militares para ajudar a polícia. O toque de recolher, decretado na quarta-feira, foi prolongado por 24 horas, depois de uma nova noite de confrontos, em que jovens muçulmanos e cristãos queimaram igrejas e mesquitas, saquearam lojas e destruíram veículos.
Várias candidatas ameaçaram boicotar o evento em protesto contra a condenação à morte de mulheres por tribunais islâmicos do norte do país. Mas o governo garantiu que nenhuma mulher será apedrejada, e depois disso cerca de 90 candidatas desembarcaram na Nigéria, na semana passada, muitas delas expressando apoio a mulheres condenadas por adultério pela lei islâmica.
Prisão
A polícia secreta nigeriana prendeu o editor de um jornal acusado de desencadear a onda de violência ao publicar o artigo supostamente profano que envolveu o concurso de Miss Mundo, informou seu jornal hoje.
Edwin Ukanwa, diretor dos serviços de segurança do Estado, explicou à imprensa que Simon Kolawole, editor do jornal, e o jornalista Isioma Daniel, foram presos, mas ainda não havia acusações contra eles.
O "This Day", que se desculpou pelo artigo, disse que o editor de sua edição de sábado, Simon Kolawole, foi preso ontem e não foi visto desde então.
Violência
Um jornalista da agência de notícias France Presse foi obrigado a refugiar-se ontem junto com cerca de mil pessoas numa fábrica de cerveja Kronenbourg, no sul da cidade, perto da estrada principal para Abuja, situada a 180 quilômetros de Kaduna.
Essa fábrica encontra-se sob vigilância do exército.
Uma outra mulher afirmou que um bando tentou matá-la depois de ter incendiado a sua casa. Só conseguiu salvar-se -segundo disse- por ter garantido que era muçulmana. Um homem disse que viu o seu irmão ser cortado em pedaços.
Com agências internacionais
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Para Guy Murray-Bruce, diretor da organização "Miss Mundo Nigéria", a imprensa exagerou o "pequeno incidente de distúrbios" que deixou cerca de 200 mortos na Nigéria.
"O que aconteceu é uma pena, porque a imprensa internacional deu destaque desproporcional a um pequeno incidente de distúrbios", disse Murray-Bruce à rádio britânica BBC.
Mais de 200 pessoas morreram desde quarta-feira (20) em enfrentamentos entre cristãos e muçulmanos em Kaduna (norte da Nigéria), segundo o diretor da organização para a defesa dos direitos humanos Civil Rights Congress, Shehu Sani.
Cerca de mil pessoas ficaram feridas e outras 11 mil se viram obrigadas a deixar suas casas por causa da violência em Kaduna, declarou hoje o presidente da Cruz Vermelha da Nigéria, Emmanuel Ijewere.
Ijewere disse que a maioria das vítimas morreu nos confrontos entre cristãos e muçulmanos. Também informou que, ao contrário dos informes, os distúrbios prosseguiram durante a noite passada na cidade.
Os conflitos, que ainda não foram totalmente controlados, deverão afetar a imagem internacional da Nigéria, já bastante deteriorada pelos recentes fatos relacionados com a aplicação da Charia, a lei islâmica.
Nos últimos tempos, a cobertura internacional centrou-se nas condenações à morte por apedrejamento de mulheres acusadas de adultério, penas pronunciadas por tribunais islâmicos do norte da Nigéria. Algumas candidatas a Miss Mundo chegaram a se negar em participar do concurso para protestar contra essas condenações.
A decisão de cancelar o evento -que será realizado no dia 7 de dezembro em Londres- desagradou o presidente nigeriano Olusegún Obasanjo, que havia dado seu público apoio ao concurso apenas algumas horas antes da decisão tomada.
Em Londres
Os organizadores e as candidatas do concurso de beleza Miss Mundo deixaram hoje a Nigéria. O avião particular partiu do aeroporto internacional da capital Abuja pouco depois das 3h30 locais (23h30 de Brasília) com destino a Londres, no dia seguinte ao cancelamento do concurso na Nigéria devido aos distúrbios. Os organizadores e as candidatas chegaram algumas horas depois ao aeroporto de Gatwick (sul de Londres).
"Estivemos nos esforçando para manter a calma e agora só queremos chegar a Londres, onde esperamos que nos recebam bem", disse Miss Inglaterra, Daniella Luan, falando ao telefone com a televisão britânica pouco antes de deixar a Nigéria.
O Miss Mundo será realizado como previsto, no dia 7 de dezembro. Um dos porta-vozes do concurso declarou que todas as candidatas estão agora na capital britânica.
A maioria das candidatas estava ansiosa para ir a Londres. "Fomos usadas como pretexto. As pessoas estão se matando e dizem que tudo é por causa do Miss Mundo", reclamou Paula Murphy, Miss Escócia. "Um concurso de beleza não vale a pena se provoca mortes e quero voltar para casa o quanto antes possível", acrescentou.
Os protestos
Jovens cristãos e muçulmanos começaram a se enfrentar na quarta-feira (20), depois da publicação do artigo jornal "This Day", em 16 de novembro. O artigo sugeria que até o profeta Maomé, fundador do islamismo, se casaria com uma das participantes do concurso de beleza. A publicação foi considerada pelos muçulmanos uma blasfêmia.
O artigo deflagrou três dias de confrontos em Kaduna, cidade majoritariamente muçulmana no norte do país. Os conflitos se alastraram também para a capital Abuja.
Os violentos distúrbios entre cristãos e muçulmanos continuaram ontem na cidade de Kaduna, apesar da decisão de transferir o concurso de beleza Miss Mundo, que seria realizado em Abuja, a capital nigeriana.
A realização do concurso de Miss Mundo provocou polêmica entre os muçulmanos. Rapidamente, a situação evoluiu para uma manifestação contra o concurso de beleza e para um enfrentamento entre cristãos e muçulmanos.
As autoridades enviaram militares para ajudar a polícia. O toque de recolher, decretado na quarta-feira, foi prolongado por 24 horas, depois de uma nova noite de confrontos, em que jovens muçulmanos e cristãos queimaram igrejas e mesquitas, saquearam lojas e destruíram veículos.
George Esiri/Reuters - 11.nov.2002 |
Participantes do concurso chegam a Abuja, na Nigéria |
Várias candidatas ameaçaram boicotar o evento em protesto contra a condenação à morte de mulheres por tribunais islâmicos do norte do país. Mas o governo garantiu que nenhuma mulher será apedrejada, e depois disso cerca de 90 candidatas desembarcaram na Nigéria, na semana passada, muitas delas expressando apoio a mulheres condenadas por adultério pela lei islâmica.
Prisão
A polícia secreta nigeriana prendeu o editor de um jornal acusado de desencadear a onda de violência ao publicar o artigo supostamente profano que envolveu o concurso de Miss Mundo, informou seu jornal hoje.
Edwin Ukanwa, diretor dos serviços de segurança do Estado, explicou à imprensa que Simon Kolawole, editor do jornal, e o jornalista Isioma Daniel, foram presos, mas ainda não havia acusações contra eles.
O "This Day", que se desculpou pelo artigo, disse que o editor de sua edição de sábado, Simon Kolawole, foi preso ontem e não foi visto desde então.
Violência
Um jornalista da agência de notícias France Presse foi obrigado a refugiar-se ontem junto com cerca de mil pessoas numa fábrica de cerveja Kronenbourg, no sul da cidade, perto da estrada principal para Abuja, situada a 180 quilômetros de Kaduna.
Essa fábrica encontra-se sob vigilância do exército.
Uma outra mulher afirmou que um bando tentou matá-la depois de ter incendiado a sua casa. Só conseguiu salvar-se -segundo disse- por ter garantido que era muçulmana. Um homem disse que viu o seu irmão ser cortado em pedaços.
Com agências internacionais
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