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25/04/2003
-
04h10
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Buenos Aires
Para um país que, até meados do ano passado, parecia morto, soa natural que um dos componentes de sua relativa recuperação seja chamado de "fundos abutres".
Tradução: são escritórios especializados em comprar papéis de empresas em concordata, na esperança de que a carniça adquirida obviamente por baixo preço tenha alguma recuperação, mesmo que tímida.
Calcula-se que as empresas privadas argentinas tenham dado um calote na imponente altura de US$ 40 bilhões. Logo, há um imenso potencial para conseguir dinheiro dos "fundos abutres", o que ajuda a animar a economia, pelo menos na parte financeira.
Claro que não é apenas esse fato que está ajudando o peso a recuperar diariamente valor ante o dólar, a Bolsa de Buenos Aires a ser a de maior valorização neste ano e até a economia real a dar sinais de vida.
A queda do dólar se deve à entrada de dinheiro fundamentalmente especulativo, já que boa parte é investida em Letras do Banco Central, que rendem 1% ao mês em dólar, o mesmo que se obtém em um ano nos EUA, conforme os cálculos do jornal "Ámbito Financiero".
É mais ou menos o mesmo fenômeno que está ocorrendo no Brasil, com uma diferença: o Banco Central brasileiro está deixando o real se valorizar, ao passo que seu congênere argentino prefere intervir para segurar a cotação da moeda norte-americana um pouco abaixo dos três pesos.
A intervenção é para evitar que as exportações, o grande fator de reanimação da economia real, sejam prejudicadas por um peso mais forte.
No primeiro bimestre, a atividade econômica cresceu 5%, na comparação com idêntico período do ano anterior. O resultado parece formidável, se se considerar que a Argentina enfrentou uma recessão de quase cinco anos consecutivos.
Mas é preciso pôr o número em perspectiva: a comparação se dá com o período em que a recessão fora recorde absoluto na história das estatísticas (no ano passado, a economia retrocedeu 10,9%, mas no primeiro trimestre o colapso foi ainda maior, na altura de 16,3%).
"É apenas a reação a uma crise muito grande. É um pouco prematuro falar de recuperação verdadeira", diz, por exemplo, Atilio Borón, sociólogo e diretor do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais).
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"Fundos abutres" e especulação ajudam recuperação argentina
CLÓVIS ROSSIEnviado especial da Folha de S.Paulo a Buenos Aires
Para um país que, até meados do ano passado, parecia morto, soa natural que um dos componentes de sua relativa recuperação seja chamado de "fundos abutres".
Tradução: são escritórios especializados em comprar papéis de empresas em concordata, na esperança de que a carniça adquirida obviamente por baixo preço tenha alguma recuperação, mesmo que tímida.
Calcula-se que as empresas privadas argentinas tenham dado um calote na imponente altura de US$ 40 bilhões. Logo, há um imenso potencial para conseguir dinheiro dos "fundos abutres", o que ajuda a animar a economia, pelo menos na parte financeira.
Claro que não é apenas esse fato que está ajudando o peso a recuperar diariamente valor ante o dólar, a Bolsa de Buenos Aires a ser a de maior valorização neste ano e até a economia real a dar sinais de vida.
A queda do dólar se deve à entrada de dinheiro fundamentalmente especulativo, já que boa parte é investida em Letras do Banco Central, que rendem 1% ao mês em dólar, o mesmo que se obtém em um ano nos EUA, conforme os cálculos do jornal "Ámbito Financiero".
É mais ou menos o mesmo fenômeno que está ocorrendo no Brasil, com uma diferença: o Banco Central brasileiro está deixando o real se valorizar, ao passo que seu congênere argentino prefere intervir para segurar a cotação da moeda norte-americana um pouco abaixo dos três pesos.
A intervenção é para evitar que as exportações, o grande fator de reanimação da economia real, sejam prejudicadas por um peso mais forte.
No primeiro bimestre, a atividade econômica cresceu 5%, na comparação com idêntico período do ano anterior. O resultado parece formidável, se se considerar que a Argentina enfrentou uma recessão de quase cinco anos consecutivos.
Mas é preciso pôr o número em perspectiva: a comparação se dá com o período em que a recessão fora recorde absoluto na história das estatísticas (no ano passado, a economia retrocedeu 10,9%, mas no primeiro trimestre o colapso foi ainda maior, na altura de 16,3%).
"É apenas a reação a uma crise muito grande. É um pouco prematuro falar de recuperação verdadeira", diz, por exemplo, Atilio Borón, sociólogo e diretor do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais).
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