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27/04/2003
-
10h26
da Folha de S.Paulo, em Assunção
"A política não é racional, a política é sentimento". Com essa frase, Nicanor Duarte Frutos explica sua estratégia de campanha, baseada no apelo emocional.
Ex-radialista e ex-professor de comunicação, Duarte, 56, tem na linguagem simples usada em seus discursos um dos trunfos para tentar vencer a eleição presidencial de hoje e manter a hegemonia do seu Partido Colorado, há 56 anos no poder ininterruptamente.
"O coloradismo é seguido pelas pessoas como uma religião", afirma Duarte, apontado pelas pesquisas como franco favorito. "Se este [aponta para uma garrafa plástica de água] fosse o candidato colorado, seria eleito".
Quando questionado se as acusações de corrupção generalizada contra o governo do atual presidente, Luis González Macchi, do qual foi ministro da Educação até 2001, não prejudicam sua campanha, ele afirma que a maioria das pessoas está preocupada com o desemprego. "O que o povo quer é comer, beber e fazer amor", diz em guarani, num ditado popular.
Ainda assim, ele faz questão de se diferenciar da figura de González Macchi, a quem não apoiou durante o processo de impeachment, por corrupção, rejeitado em fevereiro pelo Senado: "Não me interessa falar desse governo".
Confrontado com outro tema sensível, o destino do ex-general Lino Oviedo, condenado por uma tentativa de golpe em 1996 e acusado de mandante no assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, e atualmente exilado no Brasil, Duarte opta pelo silêncio. "Esse tema não existe."
Duarte Frutos falou à Folha em sua casa, num bairro de classe média alta de Assunção.
Folha - O fato de o Partido Colorado estar no poder há tanto tempo não é um problema?
Nicanor Duarte Frutos - O problema é da oposição, que não pode nos vencer porque não tem imaginação, não tem vínculos com os setores populares.
Folha - Mas o partido, ao se confundir praticamente com o Estado, não gera uma situação que facilita o clientelismo e a corrupção?
Duarte - A corrupção não é uma questão de partido, é uma questão cultural. Desde a queda do general [Alfredo] Stroessner [ditador entre 1954 e 1989], quando acabou o monopólio de poder que havia, a corrupção se multiplicou. Nós tivemos nos últimos dez anos uma hegemonia da oposição no Parlamento, e nesse período o Congresso se deteriorou visivelmente. A corrupção não se erradica com caras novas ou trocando um partido por outro, mas instalando uma consciência ética em todos os setores da sociedade, facilitando os mecanismos de controle. A impunidade é mais grave que a corrupção em si.
Folha - Houve impunidade no atual governo?
Duarte - Houve uma grande debilidade institucional. Mas eu penso no futuro do Paraguai, em como vamos reativar a economia, recuperar a confiança internacional, negociar os vencimentos de nossa dívida externa. Prefiro falar de nosso projeto, nosso estilo, de nossa geração.
Folha - Quais serão as diferenças entre o seu governo e o atual?
Duarte - Tenho gestão pública comprovada. Não sou parte da oligarquia familiar nem econômica do Paraguai, venho do campo. Fui ministro duas vezes, nunca estive envolvido em escândalo. Ganhei a presidência de meu partido por isso. As pessoas que trabalharão comigo devem ser homens e mulheres com vocação, sensibilidade e, sobretudo, honestidade.
Folha - As divisões no Partido Colorado não tornarão sua relação com o Congresso mais difícil?
Duarte - Na democracia, as relações entre os Poderes são sempre delicadas. Mas tenho fé em que, com ações claras e projetos de conteúdo social, seremos seguidos pela maioria do Congresso.
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"Política não é racional", diz o candidato favorito no Paraguai
ROGERIO WASSERMANNda Folha de S.Paulo, em Assunção
"A política não é racional, a política é sentimento". Com essa frase, Nicanor Duarte Frutos explica sua estratégia de campanha, baseada no apelo emocional.
Ex-radialista e ex-professor de comunicação, Duarte, 56, tem na linguagem simples usada em seus discursos um dos trunfos para tentar vencer a eleição presidencial de hoje e manter a hegemonia do seu Partido Colorado, há 56 anos no poder ininterruptamente.
"O coloradismo é seguido pelas pessoas como uma religião", afirma Duarte, apontado pelas pesquisas como franco favorito. "Se este [aponta para uma garrafa plástica de água] fosse o candidato colorado, seria eleito".
Quando questionado se as acusações de corrupção generalizada contra o governo do atual presidente, Luis González Macchi, do qual foi ministro da Educação até 2001, não prejudicam sua campanha, ele afirma que a maioria das pessoas está preocupada com o desemprego. "O que o povo quer é comer, beber e fazer amor", diz em guarani, num ditado popular.
Ainda assim, ele faz questão de se diferenciar da figura de González Macchi, a quem não apoiou durante o processo de impeachment, por corrupção, rejeitado em fevereiro pelo Senado: "Não me interessa falar desse governo".
Confrontado com outro tema sensível, o destino do ex-general Lino Oviedo, condenado por uma tentativa de golpe em 1996 e acusado de mandante no assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, e atualmente exilado no Brasil, Duarte opta pelo silêncio. "Esse tema não existe."
Duarte Frutos falou à Folha em sua casa, num bairro de classe média alta de Assunção.
Folha - O fato de o Partido Colorado estar no poder há tanto tempo não é um problema?
Nicanor Duarte Frutos - O problema é da oposição, que não pode nos vencer porque não tem imaginação, não tem vínculos com os setores populares.
Folha - Mas o partido, ao se confundir praticamente com o Estado, não gera uma situação que facilita o clientelismo e a corrupção?
Duarte - A corrupção não é uma questão de partido, é uma questão cultural. Desde a queda do general [Alfredo] Stroessner [ditador entre 1954 e 1989], quando acabou o monopólio de poder que havia, a corrupção se multiplicou. Nós tivemos nos últimos dez anos uma hegemonia da oposição no Parlamento, e nesse período o Congresso se deteriorou visivelmente. A corrupção não se erradica com caras novas ou trocando um partido por outro, mas instalando uma consciência ética em todos os setores da sociedade, facilitando os mecanismos de controle. A impunidade é mais grave que a corrupção em si.
Folha - Houve impunidade no atual governo?
Duarte - Houve uma grande debilidade institucional. Mas eu penso no futuro do Paraguai, em como vamos reativar a economia, recuperar a confiança internacional, negociar os vencimentos de nossa dívida externa. Prefiro falar de nosso projeto, nosso estilo, de nossa geração.
Folha - Quais serão as diferenças entre o seu governo e o atual?
Duarte - Tenho gestão pública comprovada. Não sou parte da oligarquia familiar nem econômica do Paraguai, venho do campo. Fui ministro duas vezes, nunca estive envolvido em escândalo. Ganhei a presidência de meu partido por isso. As pessoas que trabalharão comigo devem ser homens e mulheres com vocação, sensibilidade e, sobretudo, honestidade.
Folha - As divisões no Partido Colorado não tornarão sua relação com o Congresso mais difícil?
Duarte - Na democracia, as relações entre os Poderes são sempre delicadas. Mas tenho fé em que, com ações claras e projetos de conteúdo social, seremos seguidos pela maioria do Congresso.
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