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Presidente do Irã cancela visita ao Brasil; Itamaraty nega mal-estar
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GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O cancelamento da visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, formalizado nesta segunda-feira, não tem relação com as reações negativas de alguns grupos à presença dele, segundo o subsecretário-geral de assuntos políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe.
O subsecretário disse que, apesar dos protestos de cristãos, judeus e homossexuais contra a presença do iraniano no território brasileiro, o governo federal possui interesse em aproximar suas relações comerciais com o Irã e, por isso, vai insistir que o presidente remarque a visita ao país, em breve.
AP |
O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, cancelou definitivamente sua visita ao Brasil |
"Se o Brasil fosse ter relações exclusivamente com países com os quais têm plena afinidade, teríamos um elenco reduzido de parceiros. Há países com os quais não temos afinidade, mas temos grande interesse em ter fortalecimento do relacionamento bilateral. Temos diversidade de posições em vários assuntos com o Irã", afirmou.
O subsecretário disse que o Ministério das Relações Exteriores do Irã não expressou "de forma clara" qualquer mal-estar sobre as resistências à presença de Ahmadinejad no país. "Se tem mal-estar ou não, eu não saberia dizer. Não é nada que tenha sido expresso de forma clara. Evidentemente que eles prefeririam se tivéssemos concordância com eles, o que não é o caso."
Jaguaribe admitiu, porém, que a diplomacia iraniana demonstrou preocupação com a eventual "cobertura negativa" que a imprensa brasileira faria da visita.
Em uma eventual visita futura, Jaguaribe disse considerar "possível" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discuta com Ahmadinejad assuntos polêmicos como a sua negação do Holocausto. "Se o assunto ia ou não ser parte da conversa bilateral, eu acredito que, em princípio, sim. O Brasil gosta de ter conversas francas. O que é tratado em nível presidencial depende muito do momento. Os presidentes quando se encontram têm liberdade de tocar em assuntos que parecem interessantes no momento", afirmou.
Segundo Jaguaribe, o Brasil é um "país soberano" que defende os seus interesses nacionais "e não os interesses de outros países".
O presidente iraniano questiona o Holocausto e já disse que "riscaria do mapa" Israel.
O subsecretário disse que o Brasil deseja a presença de Ahmadinejad no país porque quer ampliar o comércio bilateral com o Irã, que registrou queda no ano passado se comparado com o ano de 2007 --caindo de US$ 2 bilhões para US$ 1,1 bilhão. "Redução das exportações do Brasil para 2008. O nosso comércio com o Irã é muito desequilibrado. Compramos muito pouca coisa do país desde que deixamos de importar petróleo e derivados", afirmou.
Confusão
Por volta das 7h desta segunda-feira, a Chancelaria de Teerã comunicou o cancelamento da visita de Ahmadinejad à Embaixada do Irã em Brasília. Membros da delegação iraniana que já estão em Brasília haviam atribuído o cancelamento ao acirramento das disputas políticas que antecedem a eleição presidencial de 12 de junho próximo, na qual o presidente buscará se manter no cargo.
Depois, o governo iraniano recuou da decisão. À tarde, então, o Itamaraty confirmou que a visita estava cancelada, com base em mensagem oficial enviada pelo presidente iraniano ao colega brasileiro, por volta das 16h.
Na mensagem, o iraniano expressava vontade de "incrementar a cooperação" com o Brasil e afirmava estar "muito interessado em concretizar a visita, baseado na vontade política de desenvolver as relações bilaterais em todos os campos". Ahmadinejad pedia, então, que a visita fosse adiada "para outra oportunidade".
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