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17/06/2009 - 09h15

Eleição desencadeia batalha de aiatolás

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RAUL JUSTE LORES
enviado especial da Folha de S. Paulo a Teerã

A batalha entre o aiatolá ultraconservador e líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e o reformista aiatolá Akbar Hashemi Rafsanjani é que deve decidir o futuro da República Islâmica, segundo vários analistas ouvidos pela Folha.

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Rafsanjani se encontra em Qom, o chamado 'Vaticano dos xiitas', tentando medir se tem votos suficientes entre 86 clérigos da Assembleia dos Especialistas para literalmente derrubar Khamenei, algo que esse conselho tem direito a fazer.

Nas últimas três décadas, aiatolás conservadores e reformistas disputaram o poder, mas com limites: respeitar o líder supremo e manter a República Islâmica.

Com a vitória de Mahmoud Ahmadinejad, apoiada e, para muitos, arranjada por Khamenei, os reformistas sentiram a rasteira e já orquestram um contragolpe. Essa disputa de bastidores pode definir se o regime se fechará ainda mais ou se poderá fazer alguma abertura, interna e externa.

A recontagem dos votos anunciada nesta terça-feira não deve mudar muita coisa --seria uma estratégia para se ganhar tempo até cansar a oposição; e os opositores ainda não têm como enfrentar militares, paramilitares e milícias altamente organizadas e com bons negócios no governo.

A crescente militarização do Irã tem a ver com a geração representada por Ahmadinejad, posterior a dos aiatolás, e que viveu a guerra contra o Iraque.

Ele é o primeiro presidente do país que não pertence ao clero em mais de 20 anos. Em sua biografia, ele foi militante dos Vigilantes da Revolução e da Guarda Revolucionária.

Ao contrário dos antecessores Rafsanjani e Mohammad Khatami, Ahmadinejad oferece lealdade total a Khamenei.

Para observadores, se a dupla Khamenei-Ahmadinejad vencer a disputa, o país pode caminhar para uma ditadura mais tradicional, com mais retórica e atos contra o Ocidente, fortalecimento do programa nuclear e repressão nos costumes domésticos, como já demonstrado no primeiro mandato de Ahmadinejad.

Se Rafsanjani, Khatami e Mousavi se impuserem, a mudança é menos previsível. Apesar do discurso reformista, de aproximação do Ocidente e liberalização dos costumes, os três também pertencem à elite do sistema teocrático.

Para ser candidato à Presidência do país, é necessária a aprovação do Conselho de Guardiães. Neste ano, de 470 inscritos, só 4 foram aprovados. Mousavi foi um deles.

O pintor e arquiteto representava a ala dos intelectuais de esquerda que se uniram aos aiatolás e a sindicatos para derrubar o regime autoritário e corrupto do xá Reza Pahlevi em 1979. Pouco depois, uma onda de expurgos fez com que civis fossem colocados de lado, presos ou exilados. Mousavi virou primeiro-ministro.

Em seu governo, entre 1981 e 1988, apoiou e implementou medidas como a proibição das calças jeans e das gravatas aos homens e a obrigação de véus e chadores às mulheres.
Desde 1989, saiu da vida pública e é uma incógnita quanto suas ideias mudaram nesse tempo, ainda que na campanha, ao deixar sua mulher virar protagonista, tenha mandado mensagem de mudança à mulheres e aos jovens urbanos.

O que se ouve nas ruas de Teerã é que a disputa entre essa elite do sistema está pondo em risco o próprio regime dos aiatolás. Nesta terça-feira os gritos de "morte ao ditador", que iranianos comuns berram em suas janelas à noite desde o início dos protestos, se transformaram em "morte ao aiatolá".

 

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