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14/09/2003 - 09h22

Ambiguidade marca relação entre PT e Farc

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FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo

Considerado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) um antigo aliado no Brasil, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado uma posição crítica, mas continua com um discurso ambíguo em relação à guerrilha terrorista --como mostra a participação do PT na última reunião, em maio passado, do Foro de São Paulo, em Quito (Equador).

O Foro é uma organização de partidos de esquerda latino-americanos idealizada pelo PT.

"O PT participa do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo. Houve uma reunião em que eu fui representar o PT, e a delegação colombiana, que foi uma delegação ampla, fez uma reunião onde tratou do tema da guerra na Colômbia", disse Paulo Ferreira, secretário Nacional de Assuntos Institucionais do PT, em entrevista à Folha, por telefone.

Apontado por um representante das Farc no Brasil como um elo entre a guerrilha marxista e o PT, Ferreira negou a ligação, atribuindo a citação do seu nome à participação do encontro em Quito. As Farc costumam enviar representação para encontros do Foro.

Para Ferreira, a posição do PT sobre o conflito colombiano é clara: "Nós divergimos da forma pela qual as Farc pensam o processo de disputa política na Colômbia, como também temos diferenças políticas em relação à forma pela qual o governo colombiano tem encaminhado a questão da guerra, sem estabelecer pontes".

No documento aprovado em Quito, entretanto, não há nenhuma crítica às Farc. Por outro lado, o encontro, que teve a participação de organizações políticas de 14 países, critica indiretamente o Plano Colômbia (ajuda militar norte-americana):

"Coincide entre os participantes a imensa preocupação a respeito dos pronunciamentos ameaçadores, as manobras e as provocações do governo dos Estados Unidos com relação a Cuba, à Venezuela e à Colômbia (...)", diz o documento, que chama o governo George W. Bush de "ultradireitista".

O porta-voz e ex-negociador de paz das Farc, Raúl Reyes, disse, em entrevista à Folha no mês passado, que conheceu Lula anos antes de ele ser eleito presidente e considera o PT um dos principais contatos no Brasil. Ele também citou o frei Betto, assessor especial de Lula, como um dos contatos das Farc no país.

Procurado pela reportagem, frei Betto informou, por meio de sua assessoria, que desconhece Reyes e que não mantém nenhum contato com as Farc.

Partido e governo

Questionado sobre se o PT participa das negociações sobre um possível encontro entre a guerrilha colombiana e a ONU em território brasileiro, o secretário petista disse que não. "Nossa relação é de debate e de política partidária, ponto. Quando entra o negócio de governos e Estados, há os ministérios, as assessorias", afirmou.

No início do ano, o governo Lula se recusou a classificar as Farc de terroristas, como queria o presidente da Colômbia, o direitista Álvaro Uribe, sob a alegação de que o Brasil historicamente não tem esse tipo de lista e de que uma medida dessas inviabilizaria um eventual papel de negociador.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, Lula procurou se dissociar da imagem das Farc, criticando em diversos momentos a guerrilha colombiana.

Simpatizante declarado das Farc, o vereador do PT de Guarulhos, Edson Albertão, vê o partido dividido com relação à guerrilha:

"Óbvio que uma parte do PT não concorda com as Farc, tem uma visão social-democrata e acredita em outros valores. Porém há uma parte do PT que acredita nas Farc --e é uma parte também significativa", disse, em entrevista à Folha.

Petistas não falam

Ferreira recomendou que a reportagem procurasse o deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, mas ele não atendeu aos pedidos de entrevista deixados com assessores e na caixa de mensagem de seu celular.

A reportagem também tentou entrevistar o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), secretário de Relações Internacionais do partido, mas ele não respondeu aos pedidos de entrevista deixados com sua assessoria.

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