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26/01/2010 - 07h35

Desabrigados resistem a abandonar Porto Príncipe

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FÁBIO ZANINI
enviado especial da Folha de S. Paulo a Porto Príncipe

Com as buscas por sobreviventes praticamente encerradas e o foco mudando para o reassentamento dos desabrigados, o Haiti e a ONU têm de enfrentar a ira de pessoas como o padre vodu Dessaiville Espady.

"Não vou sair daqui para um lugar que nem sei onde fica!", diz, exaltado, o morador de uma tenda numa praça em Delmas 2, bairro central de Porto Príncipe.

Duas semanas após o terremoto, há milhares de desabrigados tomando as praças da capital haitiana. Ontem, o governo disse querer realocar nesta semana ao menos 400 mil sobreviventes em acampamentos na periferia da cidade. Mas a ideia de se mudar desagrada mesmo a quem passa o dia em ruas imundas.

O medo é que não seja um alívio temporário, mas uma mudança definitiva de endereço, longe de empregos e da possibilidade de recomeçar a vida.

Em muitos casos, residências e negócios não desabaram, mas racharam. Muitos querem dinheiro para reconstruir seus imóveis. "O governo deveria nos dar recursos e parar de enrolar tanto", diz Marie Charlie Espadiee, que mora com o marido e duas crianças numa tenda em Delmas.

As estimativas da ONU são que 1 milhão de pessoas ficaram desabrigadas no Haiti, e 700 mil delas estão vivendo nas ruas de Porto Príncipe (que tinha 2 milhões de habitantes antes do terremoto). Cerca de 30 mil casas, a maioria no centro da capital haitiana, ficaram completamente destruídas, e um número indefinido está comprometido.

Áreas nas cercanias de Porto Príncipe estão sendo identificadas para a construção de acampamentos com estrutura um pouco melhor, incluindo luz, saneamento, creches e postos de saúde. Financiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o primeiro está sendo feito pelo Exército brasileiro em Croix des Bouquets, a 30 km do centro --mais de duas horas de distância no trânsito travado da cidade.

Segundo o plano do governo, as primeiras famílias seriam removidas nos próximos dias. No futuro, os acampamentos se transformariam em bairros residenciais, ao redor dos quais se formariam zonas comerciais e industriais, mudando o planejamento urbano da capital e descongestionando o centro.

Mas é um projeto para décadas, que não é suficiente para acalmar os nervos de uma população traumatizada. "Croix des Bouquets vai ser longe demais para mim. Aqui é onde vivi minha vida inteira", diz Jesimene Desir, desabrigada que vende pão numa praça perto do palácio presidencial.

Ir para um lugar afastado não agrada a ninguém, mas é possível identificar algumas nuances entre os desabrigados. Quem estava estabelecido, tocando algum negócio, reage de maneira irada ao plano do governo.

Mas quem tinha uma vida sem estabilidade ou residência fixa se mostra mais maleável. "O mais importante é sair daqui", diz Jeanne Jerisela, que morava de favor com uma tia.

Jonas Pierre, que fazia bicos como motorista, também aceitaria o sacrifício. "Consigo emprego em qualquer lugar", diz.

Segundo o governo, mais de 235 mil pessoas já deixaram Porto Príncipe num programa estatal de transporte gratuito.

A estimativa --incerta-- de mortos no terremoto permanecia ontem em 150 mil, cifra que poderia chegar a 200 mil com os cadáveres sob os escombros.

Policiais europeus

Em meio a críticas por prestar um auxílio tímido ao Haiti, a União Europeia anunciou ontem o envio de cerca de 300 policiais --de países como França, Holanda, Itália e Espanha-- para ajudar a ONU na distribuição da ajuda humanitária e na segurança do Haiti. A UE também montará, em Bruxelas, um escritório para coordenar a ajuda ao país.

Ainda em Bruxelas, a Comissão Europeia pediu aos Estados-membros da UE "prudência" na hora de acelerar a adoção de órfãos haitianos, já que a situação familiar de muitos deles ainda é desconhecida. Grupos humanitários dizem que os órfãos do terremoto estão sob perigo crescente de tráfico humano e adoção ilegal.

Comentários dos leitores
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Gandin, escreveu:
" ... imagino que uma pessoa fale tanto mal do presidente, não deva nem jogar lixo na lixeira e, sim, em via pública da janela do importado dele. (risos).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Vc é um daqueles que nem sabe o que fala ou escreve, então a gente precisa desenhar. Se vc nunca me viu, não sabe se sou mais magro ou mais gordo, como pode inventar uma asneira dessa para ter o que escrever? Isso é ser leviano, infantil.
sem opinião
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marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
Sr. Jose R. N. Filho. Gostei muito de seu testemunho e isso prova que há pessoas que sabem aproveitar os limões que a vida lhe oferecem e transforma-los em limonada. No caso das crianças haitianas houve muito desrespeito, pois o país, apesar de viver uma situação caótica, ainda tem suas leis e leis devem ser respeitadas.
No Brasil existem as leis que pegam e as que não pegam. Dentre as que pegaram está a Lei de Gerson, infeliz propaganda de cigarro feita por quem pela lógica deveria ser totalmente contra, por tratar-se de um atleta. Não podemos esquecer que o tabagismo, assim como o alcoolismo, são agentes causais da pressão alta. Como essa lei vale para todas as camadas socias, possivelmente existem milhares de mães pelo Brasil afora que se sentem orgulhosas quanto seus filhos fazem uso dela e se tornam cidadãos expressivos na sociedade, não por seus feitos positivos, mas por obterem prestígio e admiração justamente por serem espertos e aproveitadores.
Vejo como um fator positivo para o Haiti a sua proximidade com os EUA e seu grande mercado. Se se aproveitar o clima tropical para produzir frutas como o abacaxi e o mamão papaya que praticamente só é produzido no Hawai, o Haiti terá um importador garantido, e nestas duas culturas nós brasileiros somos experts. Pode-se aproveitar o clima da ilha para produzir cacau, abacate, seringais, uvas etc.
Cabe a agora aos paises com bom know-how agrícola se disporem a ajudar o Haiti, e só assim sairão desse estágio de atrazo.
sem opinião
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Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Para onde estão sendo levadas as crianças haitianas?
Para uma vida melhor, uma adoção justa?
Ou serão escravos de pessoas ditas boazinhas?
Acho q a UNICEF tem a obrigação de apurar.
7 opiniões
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