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16/05/2004 - 05h42

Haiti é treino para ação no Rio, diz Exército

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ANDRÉ SOLIANI
EDUARDO SCOLESE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O envio de militares brasileiros para a missão de paz da ONU no Haiti servirá como um treinamento das Forças Armadas para, eventualmente, enfrentar situações de repressão à criminalidade no país, como no Rio de Janeiro, segundo o Ministério da Defesa.

A ação em território haitiano, que deve ser autorizada nesta semana pelo Senado, seria, de acordo com a pasta, uma experiência na manutenção da ordem em situações que envolvem civis e grupos armados que atuam fora do controle do Estado.

A expectativa também é admitida pelo Exército. "Quanto a dizer que isso [o envio das tropas ao Haiti] trará [experiência] para a garantia da lei e da ordem internamente, é um objetivo que eu diria que pode ser alcançado", disse o general Américo Salvador, 56, que aguarda autorização do Congresso para assumir o comando das tropas brasileiras no Haiti.

O Ministério da Defesa afirma que, dos 1.200 militares que irão ao Haiti, a maior parte (cerca de 750) teve de ser deslocada do Rio Grande do Sul, para que os quartéis do Rio de Janeiro não fossem desfalcados.

Neste mês, duas unidades das Forças Armadas foram atacadas por bandidos no Rio.

O governo fluminense recentemente negociou com o Palácio do Planalto a participação do Exército no combate ao crime organizado na capital. Não houve acordo, pois, apesar da oferta de Brasília, as autoridades do Rio não quiseram assinar documento (obrigatório em situações do tipo) no qual admitiriam "o esgotamento" de sua "capacidade de ação".

No Haiti, as tropas devem fazer operações semelhantes às que realizaria no Rio, como patrulhamento, cerco a pontos importantes e controle do vaivém de pessoas e veículos. Para o caso do Rio, a proposta da Defesa era usar as tropas de forma ostensiva, com tanques nas ruas e vias expressas, além de ocupar favelas --onde está o foco do crime organizado, mas vivem milhares de cidadãos alheios ao tráfico de drogas.

Estratégia no Haiti

Uma das preocupações da Defesa é conquistar o apoio dos haitianos, para que a tropa da ONU não seja vista como uma força de repressão inimiga. Para cativar a população, os militares prometem uma ação "cívico-social" no Haiti, como distribuição de remédios e melhora da infra-estrutura.

O Haiti está em crise desde o começo do ano, quando rebeldes avançaram contra a capital do país (Porto Príncipe) e exigiram a renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide. Ele diz que foi forçado ao exílio pelos EUA e pela França.

A missão ao Haiti servirá também para os objetivos de política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Uma das principais bandeiras externas do Itamaraty é reformar o Conselho de Segurança da ONU, para conquistar uma cadeira definitiva na instituição. Atualmente, apenas EUA, Reino Unido, França, Rússia e China são membros permanentes do CS.

Para ascender a membro permanente do CS, de acordo com diplomatas de diversos países, o Brasil precisa chamar para si uma maior responsabilidade nas ações da ONU. As Forças Armadas consideram que a missão no Haiti possa ser um passo decisivo para isso. Será a primeira vez que o país vai liderar uma força da ONU.

A responsabilidade maior, porém, não se refere apenas a mais engajamento e participação nas missões da organização; implica maiores gastos.

A operação custará, no total, pouco mais de R$ 150 milhões. Quase um terço do valor, R$ 45 milhões, será usado na aquisição de uma quantidade mínima de equipamentos necessários, como coletes à prova de bala, óculos de visão noturna, geradores e aparelhos de purificação de água.

"É o mínimo, pois, pela própria quantia disponível, não daria para comprar muita coisa. Além disso, não podemos retirar daqui [do Brasil] equipamentos que fariam falta", disse o general Salvador.

A ONU paga às Forças Armadas de países que atuam em missões de paz entre US$ 1.040 e US$ 1.200 mensais por soldado. E reembolsa o país pelo desgaste dos equipamentos usados na operação. Dos R$ 150 milhões estimados, o Brasil deve receber de volta entre R$ 60 milhões e R$ 90 milhões.
 

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