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06/06/2004
-
03h07
BERTA MARCHIORI
da Folha de S.Paulo
"Havia muito pó, tiros por toda a parte, gente correndo de um lado para o outro, um barulho indescritível. Era uma grande desordem, o caos." Essa é a maior recordação que o aviador Pierre Clostermann, 83, tem do Dia D, quando as tropas aliadas desembarcaram nas praias da Normandia, em 6 de junho de 1944.
Clostermann, que serviu na Real Força Aérea britânica (RAF) durante a Segunda Guerra Mundial, estava na esquadrilha que fez a patrulha aérea das praias invadidas pelas forças inglesas.
"Eu não vi nada, eu era um peixinho num imenso mar. E tínhamos tanta coisa para fazer que nem tínhamos tempo para nos emocionar", disse à Folha, por telefone, de sua casa em Montesquieu, no sudoeste da França.
Apesar do nome, Clostermann é brasileiro --nasceu em Curitiba (PR), em 1921. Seu pai, um importante diplomata francês, era na época cônsul-geral em São Paulo.
Clostermann foi para a França ainda pequeno, mas, durante uma temporada de um ano em terras brasileiras, aos 16 anos, aprendeu a pilotar no Aeroclube do Brasil, em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Depois, formou-se em engenharia aeronáutica e tirou seu brevê de piloto comercial nos EUA.
Desde então, tornou-se um dos pilotos mais condecorados do mundo. Na semana passada, recebeu uma equipe do 1º Grupo de Aviação de Caça, da Força Aérea Brasileira, que o homenageou.
O aviador foi o único veterano brasileiro encontrado pela Folha a ter combatido na Normandia. A participação das tropas brasileiras na Segunda Guerra deu-se na frente italiana --mais de 25 mil combatentes da Força Expedicionária Brasileira, chamados de pracinhas, foram enviados ao país para lutar contra o Eixo.
Questionado, Clostermann disse que não participaria das celebrações do 60º aniversário do Dia D, que ocorrem hoje. "Eu não saio muito de minha casa. E essas comemorações têm muita gente, polícia por toda a parte. Eu não gosto. Ainda mais para ver a cara do Bush. Eu não vou."
Clostermann faz parte dos 85% da população francesa que é crítica do governo Bush e da intervenção americana no Iraque. "Que Deus nos livre de certos políticos deste mundo. Mas o que podemos fazer? Eles são ricos, fortes e, quando querem fazer uma grande bobagem, eles fazem. E quando não há uma, inventam."
E acrescentou: "[A Guerra do] Iraque foi a estupidez do século e também o conto-do-vigário do século". "É muito pouca sorte para um grande país como a América ter um presidente que pode contar histórias, mentir sobre questões tão importantes."
As preocupações do aviador, porém, não se resumem à política internacional: "Agora são 17h55 na França, preciso ir comprar peixe antes que o porto feche".
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"Havia muito pó, tiros por toda a parte, gente correndo de um lado para o outro, um barulho indescritível. Era uma grande desordem, o caos." Essa é a maior recordação que o aviador Pierre Clostermann, 83, tem do Dia D, quando as tropas aliadas desembarcaram nas praias da Normandia, em 6 de junho de 1944.
Clostermann, que serviu na Real Força Aérea britânica (RAF) durante a Segunda Guerra Mundial, estava na esquadrilha que fez a patrulha aérea das praias invadidas pelas forças inglesas.
"Eu não vi nada, eu era um peixinho num imenso mar. E tínhamos tanta coisa para fazer que nem tínhamos tempo para nos emocionar", disse à Folha, por telefone, de sua casa em Montesquieu, no sudoeste da França.
Apesar do nome, Clostermann é brasileiro --nasceu em Curitiba (PR), em 1921. Seu pai, um importante diplomata francês, era na época cônsul-geral em São Paulo.
Clostermann foi para a França ainda pequeno, mas, durante uma temporada de um ano em terras brasileiras, aos 16 anos, aprendeu a pilotar no Aeroclube do Brasil, em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Depois, formou-se em engenharia aeronáutica e tirou seu brevê de piloto comercial nos EUA.
Desde então, tornou-se um dos pilotos mais condecorados do mundo. Na semana passada, recebeu uma equipe do 1º Grupo de Aviação de Caça, da Força Aérea Brasileira, que o homenageou.
O aviador foi o único veterano brasileiro encontrado pela Folha a ter combatido na Normandia. A participação das tropas brasileiras na Segunda Guerra deu-se na frente italiana --mais de 25 mil combatentes da Força Expedicionária Brasileira, chamados de pracinhas, foram enviados ao país para lutar contra o Eixo.
Questionado, Clostermann disse que não participaria das celebrações do 60º aniversário do Dia D, que ocorrem hoje. "Eu não saio muito de minha casa. E essas comemorações têm muita gente, polícia por toda a parte. Eu não gosto. Ainda mais para ver a cara do Bush. Eu não vou."
Clostermann faz parte dos 85% da população francesa que é crítica do governo Bush e da intervenção americana no Iraque. "Que Deus nos livre de certos políticos deste mundo. Mas o que podemos fazer? Eles são ricos, fortes e, quando querem fazer uma grande bobagem, eles fazem. E quando não há uma, inventam."
E acrescentou: "[A Guerra do] Iraque foi a estupidez do século e também o conto-do-vigário do século". "É muito pouca sorte para um grande país como a América ter um presidente que pode contar histórias, mentir sobre questões tão importantes."
As preocupações do aviador, porém, não se resumem à política internacional: "Agora são 17h55 na França, preciso ir comprar peixe antes que o porto feche".
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