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15/03/2005 - 18h04

Lei anti-secessão da China parece "jogada política", dizem analistas

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DANIELA LORETO
da Folha Online

A lei anti-secessão, aprovada nesta segunda-feira pelo Parlamento chinês, com a maioria de 2.896 votos a favor [duas abstenções] não implica um ataque imediato da China a Taiwan, e parece mais uma "jogada política", segundo especialistas entrevistados pela Folha Online.

"A lei não modifica em nada a situação atual. É uma jogada política, uma pressão diplomática da China sobre Taiwan e Estados Unidos", diz Gunther Rudzit, 37, especialista em segurança internacional e professor das Faculdades Integradas Rio Branco.

A aprovação da lei anti-secessão permite que a China use a força caso Taiwan decida declarar sua independência formal. Pouco depois da votação, o presidente chinês, Hu Jintao, assinou um decreto que tornou a lei efetiva de modo imediato.

Alexandre Ratsuo Uehara, 37, analista da Jetro (Japan External Trade Organization --órgão do governo japonês ligado ao ministério da Economia do Japão), também pensa ser pequena a chance de a China agir contra Taiwan. "Acho pequenas as chances de um ataque chinês neste momento. Existe uma tensão, Pequim faz de tudo para evitar que Taiwan declare sua independência, mas uma guerra é muito difícil."

Independência

Chen Shui-bian, presidente de Taiwan desde 2000, tem adotado medidas no sentido de construir uma identidade nacional própria, distinta da chinesa. Embora Taiwan não tenha status de país independente, não tem nenhuma relação política com Pequim.

Rudzit, que é ex-assessor do Ministério da Defesa brasileiro, diz que a China, que considera Taiwan uma "Província rebelde" [embora funcione como um país autônomo], não poupará esforços para reunificá-la a seu território. A reintegração é reivindicada desde 1949, quando o governo derrubado pela revolução comunista fugiu para a ilha.

"É uma questão cultural e de sobrevivência do Partido Comunista Chinês (PCC) no poder manter o território unido. Se derem independência para Taiwan, correrão o risco de outras Províncias, como o Tibete, partirem para o mesmo caminho."

Rudzit afirma que, no caso de uma declaração de independência, um conflito seria inevitável. "Se Taiwan declarar a independência unilateralmente, a China vai atacar. Pequim já tem 300 mísseis apontados para Taiwan", disse.

Sobre esse ponto, Uehara discorda, e diz que negociações poderiam ocorrer. "Mesmo que aconteça um plebiscito em Taiwan, e que a população decida que quer a independência da China, isso não implica em imediata declaração de guerra de Pequim", afirma.

Crítica

O governo taiwanês condenou a lei anti-secessão imposta pela China, e considera a lei um ato "não-pacífico" contra a ilha. Taiwan também condenou o aumento do orçamento militar chinês, que, em votação nesta segunda-feira no Parlamento, ganhou um reforço de 12,6%.

A lei anti-secessão também foi alvo de críticas de Washington, que se opõe ao uso da força para conseguir a reunificação e considera que o "texto vai contra as recentes evoluções rumo a uma melhora nas relações entre China e Taiwan".

Rudzit afirma que os EUA estão "em uma sinuca de bico na região". "Os EUA não podem deixar de apoiar um governo democrático [Taiwan] frente a um governo autoritário. Por outro lado, têm fortes interesses comerciais, militares e políticos com a China", diz.

Uehara faz coro. Para ele, "os EUA não têm nenhum interesse que haja conflito entre esses países", afirma Uehara. A China é importante para os EUA, já que tem cerca de US$ 412,7 bilhões de reservas em moedas estrangeiras [segundo estimativas de 2003], usadas para o financiamento do déficit americano. Taiwan também é importante, tem cerca de US$ 207,1 bilhões [segundo estimativas de 2003]."

Apoio

No caso de ação militar da China, os EUA apoiariam Taiwan, diz Uehara. "Os EUA são o único fator que impede uma invasão. Acredito que, neste momento, eles apoiariam Taiwan no caso de um ataque."

Já Rudzit diz que isso complicaria ainda mais a situação americana na região. "Nesse caso, uma grande parcela da população americana pressionaria para que os EUA defendessem Taiwan. Por isso, o governo não quer que o ataque chinês aconteça, porque quer evitar a qualquer custo uma guerra contra a China."

Especial
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