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19/04/2006
-
12h57
MICHEL GORDON
especial para a Folha Online
Se há algo sobrevoando os ares iranianos, não são bombas, são as aves de tons preto acinzentado que substituem as nossas pombas. A cidade está repleta delas e, neste caso, a maior preocupação dos iranianos deveria ser com relação à gripe asiática em vez de um possível bombardeio americano, que há tempos insiste em cair sobre suas cabeças.
Amir, dono de um restaurante na maior avenida da capital, disse-me que nos tempos da guerra com o Iraque, durante oito anos, enquanto as bombas caíam, a população jantava kebab [sanduíche muito parecido ao churrasquinho grego vendido no Brasil, só que com carne de carneiro] em frente ao televisor. Uma turista francesa me disse que com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush , tudo é possível, mas diz acreditar numa agenda, num protocolo de guerra, mesmo em tempos de guerra preventiva.
Conselho de Segurança da ONU, boicotes, depois uma guerra. Os jovens não estão nem aí, nunca desfrutaram de tanta liberdade, embora ainda haja aqui uma série de restrições. A vida na grande cidade tem melhorado, e muito, isso pode ser verificado com a renovação da frota de automóveis, que há cinco anos era composta apenas de Passat e Lada.
Aqui em Teerã, a resposta a essa ameaça é unanime. O Irã não é o Iraque. Todos falam isso, ao mesmo tempo em que meneiam a cabeça negando com um certo desdém a ameaça de um iminente bombardeio. Um viajante desavisado, este que vos escreve, com sua família pressionando-o para uma volta imediata, não passou de piada em um jantar com amigos, a ensejar o receio de uma guerra.
A cidade acorda com o canto dos pássaros e passa o dia entre motores e poluição, correria de motoboys, negócios sendo fechados, camelos tentando vender alguns CDs piratas na Ferdowsi e o mercado negro agitadíssimo da Enghelab.
Artistas continuam pintando seus quadros e retratando as belezas e a tradição poética dos persas, enquanto homens de negócio viajam à Índia e à China, traçando a nova rota da seda. E os motores são desligados apenas e tão somente na hora de dormir, já que a gasolina aqui é mais barata que água.
Definitivamente, o Irã não é o Iraque. A cidade de Teerã, dramaticamente incrustrada nas montanhas, é uma cidade gigantesca, tem mais de 10 milhões de habitantes, uma frota colossal de automóveis e estradas que deixam as brasileiras a desejar. Essa riqueza toda é resultado do alto valor do petróleo no mercado internacional.
O que menos se vê aqui é medo ou tensão, não se sente nada disso no ar.
Seriam todos alienados? Muitos temem a guerra, muitos temem a retórica dos dois presidentes [Bush e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad], que pode culminar numa batalha sem fim, mas não agora, não neste momento.
Não estão preparados para isso, estão se preparando para a Copa do Mundo, isso sim.
Michel Gordon, 31, é físico e prepara livro de fotos sobre judeus que vivem em países islâmicos
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Se há algo sobrevoando os ares iranianos, não são bombas, são as aves de tons preto acinzentado que substituem as nossas pombas. A cidade está repleta delas e, neste caso, a maior preocupação dos iranianos deveria ser com relação à gripe asiática em vez de um possível bombardeio americano, que há tempos insiste em cair sobre suas cabeças.
Amir, dono de um restaurante na maior avenida da capital, disse-me que nos tempos da guerra com o Iraque, durante oito anos, enquanto as bombas caíam, a população jantava kebab [sanduíche muito parecido ao churrasquinho grego vendido no Brasil, só que com carne de carneiro] em frente ao televisor. Uma turista francesa me disse que com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush , tudo é possível, mas diz acreditar numa agenda, num protocolo de guerra, mesmo em tempos de guerra preventiva.
Conselho de Segurança da ONU, boicotes, depois uma guerra. Os jovens não estão nem aí, nunca desfrutaram de tanta liberdade, embora ainda haja aqui uma série de restrições. A vida na grande cidade tem melhorado, e muito, isso pode ser verificado com a renovação da frota de automóveis, que há cinco anos era composta apenas de Passat e Lada.
Aqui em Teerã, a resposta a essa ameaça é unanime. O Irã não é o Iraque. Todos falam isso, ao mesmo tempo em que meneiam a cabeça negando com um certo desdém a ameaça de um iminente bombardeio. Um viajante desavisado, este que vos escreve, com sua família pressionando-o para uma volta imediata, não passou de piada em um jantar com amigos, a ensejar o receio de uma guerra.
A cidade acorda com o canto dos pássaros e passa o dia entre motores e poluição, correria de motoboys, negócios sendo fechados, camelos tentando vender alguns CDs piratas na Ferdowsi e o mercado negro agitadíssimo da Enghelab.
Artistas continuam pintando seus quadros e retratando as belezas e a tradição poética dos persas, enquanto homens de negócio viajam à Índia e à China, traçando a nova rota da seda. E os motores são desligados apenas e tão somente na hora de dormir, já que a gasolina aqui é mais barata que água.
Definitivamente, o Irã não é o Iraque. A cidade de Teerã, dramaticamente incrustrada nas montanhas, é uma cidade gigantesca, tem mais de 10 milhões de habitantes, uma frota colossal de automóveis e estradas que deixam as brasileiras a desejar. Essa riqueza toda é resultado do alto valor do petróleo no mercado internacional.
O que menos se vê aqui é medo ou tensão, não se sente nada disso no ar.
Seriam todos alienados? Muitos temem a guerra, muitos temem a retórica dos dois presidentes [Bush e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad], que pode culminar numa batalha sem fim, mas não agora, não neste momento.
Não estão preparados para isso, estão se preparando para a Copa do Mundo, isso sim.
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