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23/04/2006 - 22h25

Camponeses vivem em zona proibida de Tchernobil

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da France Presse, em Lubyanka

Mikhail Parkomenko, Maria Urupova e outros 350 camponeses ucranianos são "exilados": eles cultivam verduras e criam animais nos arredores de Tchernobil, a zona mais radioativa do mundo há 20 anos.

A explosão do reator número quatro de Tchernobil, em 26 de abril de 1986, significou o exílio forçado de dezenas de milhares de pessoas dos povoados localizados no diâmetro de 30 km da redoma da central nuclear.

Um ano depois do acidente, porém, em 1987, mais de 2.000 pessoas conseguiram burlar a proibição das autoridades e voltaram para as terras onde nasceram e onde preferiam morrer a ter de abandoná-las.

"Voltamos passando pelo bosque, sete quilômetros a pé, sob a vigilância dos helicópteros", lembra Maria Tchetchenko, 65, que há 20 desafiou as armas dos militares que vigiavam a zona proibida para voltar para casa.

Inicialmente, as autoridades tentaram forçá-los a abandonar o local, mas eles ameaçaram o governo, inclusive com a possibilidade de um suicídio coletivo, e atingiram seu objetivo.

Desde então, os exilados vivem separados do mundo, isolados e contaminados. Agora, restam apenas 350, a maioria idosos, que vivem distribuídos em oito povoados. Todos cultivam legumes, frutas e verduras, além de criar frangos e porcos para se alimentar.

"Nossos produtos são normais", afirma Maria Urupova, 71. "Não querem ficar para tomar uma sopa? Não tenham medo", oferece Ivan Semeniuk, sem conter o riso. Os especialistas não têm, porém, o mesmo senso de humor.

"Essa zona é absolutamente inabitável para o homem e será assim durante muito tempo", afirma o russo Rudolph Alexahin, especialista em Radiologia Agrícola e em Meio Ambiente da zona de Tchernobil, onde o nível de radioatividade é dez vezes superior do que em outros lugares.

Para os cientistas, é impossível que os seres humanos vivam e sobrevivam em tal ambiente, fato que nem os próprios "exilados" sabem explicar. "Suponho que tenham organismos especialmente resistentes", sugere Zoe Magueramova, médico especialista em doenças causadas por Tchernobil.

Maria Chaporenko, 81, retornou à zona contaminada no mesmo ano da catástrofe, quando as árvores ainda morriam. "Voltei porque tinha deixado aqui coelhos e 15 frangos", explica a camponesa.

Hoje, a população de Tchernobil vive como se fosse uma espécie em extinção. Sem lojas ou qualquer tipo de serviço na zona, duas vezes por semana um funcionário da prefeitura leva alimentos para essas comunidades, enquanto um grupo de médicos as visita regularmente.

Em tese, eles são estritamente proibidos de caçar e pescar na região, mas na prática desafiam esse perigo de desenvolver um câncer por causa dos efeitos do césio 137. De qualquer maneira, diz Maria Tchetchenko, 65, "a morte vai chegar um dia".

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