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19/07/2006 - 10h50

De volta, brasileiros relatam caos libanês

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SIMONE HARNIK
THIAGO MOMM

da Folha de S.Paulo

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha

No dia em que o garoto de Foz do Iguaçu Bassel Termos, 7, morreu no Líbano, o pouso do avião da Força Aérea Brasileira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, às 17h12, trouxe alívio para os brasileiros que haviam saído, há dois dias, de Beirute, e para as famílias no saguão.

No total, 85 brasileiros, oito libaneses e cinco argentinos conseguiram o ingresso na aeronave, sendo que 80 desembarcaram em São Paulo. O consulado do Brasil em Beirute estima que haja 200 mil brasileiros no Líbano. A cada familiar que saía, choro e aplausos para os que chegavam e angústia pelos que viram.

"Deixei tudo lá. Minha mãe e meu pai", conta Hiba Chawa, 35, que lamentava a guerra e o fato de que os pais, que moram no Líbano, continuarem no país --sua mãe, doente, tem dificuldade de locomoção. Com Hiba, retornaram a pequena Dana, de oito meses, o filho Omar e a filha Nur.

A missão brasileira de resgate encerrada ontem começou com uma viagem rodoviária de 16 horas. O grupo deixou Beirute em três ônibus, escoltados por três carros de passeio.

Na tentativa de evitar ataques aéreos, bandeiras do Brasil foram estendidas no teto dos veículos. O comboio seguiu para a Síria e, depois, para a Turquia. Os viajantes chegaram a Adana (Turquia) e, às 22h (horário de Brasília) embarcaram rumo ao Brasil.

Rassan, 9, filho de Cleoni Bueno, 33, dona-de-casa em Foz do Iguaçu e a primeira a sair pelos portões do aeroporto, recorda: "Tinha bomba por perto. Da janela, dava para ver tudo. Chorei por causa da avó e do avô que ficaram lá".

As férias de 45 dias em Beirute foram reduzidas a 15 dias à procura de abrigo ou escapatória. A saída, tumultuada, só foi conseguida com muita insistência. "A embaixada dizia que não podia fazer nada. Meu marido [que estava no Brasil] viu que ia ter um ônibus e me avisou. Mas tem muitos amigos que não conseguiram sair. Eu só pensava: "Agora vou morrer'", afirmou Cleoni.

O libanês Samir Bayoud e sua mulher, Olga, ambos de 73 anos, ele libanês e ela descendente, eram esperados pelos quatro filhos. Samir foi conhecer a sua cidade natal, Marjiyun, no sul libanês, onde encontraria com seus dois irmãos e suas duas irmãs --todos juntos pela primeira vez após quatro décadas.

No Brasil, os filhos de Samir e Olga permaneciam apreensivos, sem dormir desde a última quarta-feira. "Fui rever minha cidade natal onde eu me formei, ver amigos, irmãos e familiares. Isso foi muito forte", disse Samir.

Euforia

Segundo o comandante do avião e responsável pelo vôo, Salvini Krieger, a euforia dos passageiros foi maior na partida. Mas, na chegada, houve choro de quem se lembrou dos familiares e amigos que ficaram na zona de conflito.

Segundo Krieger, diversos passageiros confirmaram que ainda existem brasileiros no Líbano. "Eles disseram que alguns não conseguiram vaga e que outros já tinham passagem marcada. Mas a preocupação existe, porque ninguém sabe se eles poderão viajar", afirmou.

Leia a seguir frases dos brasileiros:

"Fui para o Líbano só para passear com amigas. Antes, tinha ido pra Itália. Lá, fui primeiro a Dbayeh, que é praia. Depois, a gente mudou de casa para Marucus, que ficava a 15 minutos das bombas. A casa tremia. Da varanda, dava pra ver tudo. Pegamos um ônibus até a Turquia e, logo na saída, três bombas caíram do nosso lado" (Shantal Buonamici de Abreu, 17, que viajou a passeio e foi surpreendida pelos bombardeios).

"Não acreditei que ia ver Beirute de novo. Era lindo, reconstruído. Mas daí começaram os bombardeios. Em todo lugar tinha pontes destruídas. E, da varanda de nossa casa, dava pra ver uma criança morta no chão. Isso me matou. Ficou uma dor enorme, porque minha filha, que mora no Líbano e casou com um libanês, ficou lá com três netos" (Najla Abi Radwan, 30,
que voltou com outros 16 familiares).

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