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Marcelo Coelho
  27 de outubro
  Fascismo por Procuração
 
   
Tudo parecia muito certinho. A direita ia absorvendo sem problemas o favoritismo do PT em São Paulo. Velhos líderes empresariais, formadores de opinião (gostaria de saber por que a opinião que eles "formam" sempre é conservadora), publicações que espumam diante do MST: não houve quem não comemorasse o PT cor-de-rosa, o light do light, o PT madame, o PT Chanel etc.

A direita estava civilizada e democrática. Mas não se contava com a teimosia de Maluf. A radicalização de sua campanha, apelando para todo tipo de preconceito e para uma linguagem que não se ouvia desde os tempos do regime militar, teve um efeito bem maior do que se esperava.

Consolidou-se, ou explicitou-se, um foco não mais de direita, mas de extrema-direita em São Paulo. Mais de um terço do eleitorado apóia uma candidatura que só por eufemismo se pode chamar de conservadora.

Conservador é Mario Amato, que vai votar no PT. De direita é Romeu Tuma, que diz apoiar Marta Suplicy. Reacionário é o Padre Marcelo, que não quer se identificar com Maluf.

No desespero, Maluf desistiu de cortejar o empresariado, os banqueiros, o governo federal, o clero conservador ou quem quer que seja. O bloco que se forma em torno da candidatura pepebista não se localiza no topo da pirâmide social, mas em seus subterrâneos.

Juntam-se Ratinho, a máfia dos vereadores, a banda heavy-metal do aparelho de segurança pública, num discurso contra os direitos humanos, altamente repressivo contra mulheres e homossexuais, usando do máximo de demagogia no que diz respeito a drogas.

Soma-se a isso a estratégia, tipicamente malufista, de fingir que não ouve as críticas a que é confrontado.

Em dois momentos isso foi fácil de perceber. Na entrevista a Fernando Canzian e Plínio Fraga, publicada na Folha desta quinta-feira, Maluf repetiu umas dez vezes uma única frase: "sou contra o aborto", quando os repórteres insistentemente o lembravam que ele já havia defendido o aborto em casos de malformação do feto.

E, no debate da rede Bandeirantes, não adiantou Marta Suplicy aparecer com números provando que a criminalidade em São Paulo aumentou durante sua gestão: Maluf simplesmente repetia que hoje há muito mais homicídios do que na sua época.

Não adianta dizer que ele criou Celso Pitta. Maluf chega ao cúmulo de identificar Pitta e Erundina, dizendo que é contra os dois.

O resultado é que Maluf simplesmente não tem compromisso com qualquer debate racional. Se se aponta uma contradição em seu discurso, ele não se embaraça; segue em frente, como se não tivesse ouvido nada.

O pior é que muita gente o chama de esperto, de inteligente. É uma pena que se identifique esperteza ou inteligência com essa brutal impavidez.

O único compromisso de sua campanha é com agitar os temas que correspondem aos sentimentos mais obscuros de ódio, de ressentimento, de egoísmo e destrutividade de uma pequena-burguesia ameaçada, autoritária e voluntariamente desinformada. Só é liberal, complacente e tolerante com a corrupção.

O que falta para o fascismo?

Acho que só uma coisa: a sociedade brasileira é desorganizada demais para fazer paradas, usar uniformes e dispor-se à militância cotidiana. O paulistano é privatista demais para sacrificar-se em torno de uma "causa pública" de extrema-direita. E Maluf é Maluf demais para sair pregando a regeneração dos costumes e a "limpeza" da sociedade, como faziam os fascistas.

Temos, assim, um fascismo por procuração. O fascismo do "deixa que ele resolve". O fascismo da "competência técnica". O fascismo do "senhor doutor". O fascismo do "não tenho nada a ver com isso". O antigo fascismo usava de grandes concentrações de massa e desfiles militares. Este é o fascismo do cassetete e dos programas de auditório.


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