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Nos
anos 70, um jornal carioca contratou sofisticada equipe de revisores
para dar correção, transparência e uniformidade aos textos de seus
redatores, repórteres e colunistas. Entre as regras trazidas pela
equipe, figurava a cristalina evidência de que o alfabeto então
em vigor havia cassado o "y", o "k" e o "w". Cassar, por sinal,
era mania da época.
Nas poucas vezes em que era citado, meu nome passou a ser Coni.
Quando saiu um dos volumes das memórias de JK, o nome do ex-presidente
passou a ser JC - sigla que habitualmente indica Jesus Cristo. Kubitschek
era pouco citado por motivos políticos, mas quando o era, transformou-se
em Cubitischeque. A regra da revisão era: "Qualquer um escreve o
próprio nome como quiser. Mas a redação só tem compromisso com as
regras oficiais da ortografia e da gramática". Ok. Quer dizer, oqúei.
Há tempos, escrevi uma crônica em que falava na Soberana Graça do
Santo Sepulcro", título de uma ridícula ordem nobiliárquica que
não sei se ainda existe. As maiúsculas foram para a cucuia, incluindo
as do Santo Sepulcro, que até os judeus, que estão em outra, chamam
de Santo Sepulcro mesmo, com maísculas em inglês. Mais ou menos
como Pão de Açúcar, que em inglês é Sugar Loaf, sempre com maiúsculas.
A correção de textos, escritos em linguagem racional e contemporânea,
devia ser estendida às fotos e reprodução de quadros. Com um computador
de última geração pode-se evitar aquele caos de "Guernica", com
cavalo e mulher aos pedaços, bem como toda a obra de Brake e Picasso.
Virtualmente - e virtuosamente - pode-se corrigir imagens e fotos
para maior unidade, transparência e compreensão por parte dos leitores.
Ameaçam tirar as maiúsculas do Pão de Açúcar. Ficaremos reduzidos
ao pão de açúcar. que como todos sabem, é um pão feito com açúcar
muito apreciado no Rio de Janeiro.
Leia colunas anteriores
11/5/2000 -
Assunto pessoal: as mãos
09/5/2000 - O macaco e o galho
04/5/2000 - Vizinhos
e internautas
02/5/2000 -
Dos
deuses antigos
27/4/2000 -
Do
câncer no piloro
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