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Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  31 de janeiro de 2001
Porto Alegre, um começo
 
   

De Porto Alegre - Escrevo da capital gaúcha, onde acompanhei o Fórum Social Mundial durante a semana passada. Eu o fiz por dever profissional e, também, por grande curiosidade pessoal: seria aqui o primeiro espaço dos opositores ao regime neoliberal e globalizante para que formulassem uma alternativa, em vez de apenas jogar ovos e tortas nos maganos do primeiro mundo. Realizado ao mesmo tempo que seu congênere primeiro-mundista, o Fórum Econômico Mundial de Davos, o encontro de Porto Alegre deveria servir para gerar claro contraponto aos proponentes do Consenso de Washington e, mais importante, para começar um diálogo construtivo e propositivo na busca de alternativas ao sistema vigente. Dá para se dizer que o Fórum teve sucesso no primeiro quesito, mas ficou devendo no segundo.

Os debates, pensados para serem discussões pragmáticas ("Como gerar um novo sistema financeiro internacional", "A criação de uma nova democracia" etc.) acabaram virando, via de regra, espaço para uma retórica tão vazia e conhecida quanto apaixonada e correta contra o FMI, a OMC, os assassinatos causados pelo neoliberalismo, a subjugação do Terceiro Mundo etc. E, na hora de propor um sistema novo, a maioria dos revoltosos dizia querer a criação de um sistema "onde o social seja colocado em frente ao econômico", "em que os direitos humanos sejam respeitados, num clima de solidariedade e fraternidade", "onde as nações reconquistem a autodeterminação, longe das influências imperialistas" e todos outros belos ideais com os quais até o pessoal de Davos concordaria. O caminho para chegar lá, que é obviamente o xis da questão, ou foi gritantemente ignorado ou imperdoavelmente solapado: como alternativa para o futuro, muitos voltaram a olhar para o passado e propor a volta do socialismo. Decepcionante. Mas houve, é verdade, manifestações concretas; propostas legítimas, especialmente a implementação de impostos sobre os fluxos de capital (a taxa Tobin), o cancelamento da dívida externa dos países subdesenvolvidos e políticas para a ampliação e radicalização da democracia. São paliativos; pequenas mudanças para suavizar o sistema em vez da mudança completa que se faz necessária, mas são pelo menos um começo.

No campo das relações públicas e da teatralidade Porto Alegre foi um sucesso. Transitavam por aqui gente de todas as cores e raças e de mais de uma centena de países. Difundiam, todas elas, os horrores da globalização, e pregavam, raivosas, a extinção de seus instrumentos de manutenção, dos EUA a FHC, do FMI ao Banco Mundial. Pensava-se que o ponto alto dessa oposição seria a videoconferência com participantes de Davos, pontuada por uma agressividade destrutiva, mas ninguém contava com o pedido de expulsão do país de José Bové, o líder camponês francês que participou da depredação de uma fazenda de transgênicos, que virou o ponto alto do espalhafato.

A medida de sucesso para um evento que se quer marco zero de uma nova época é, obviamente, o curso da história. Se as discussões de Porto Alegre servirem como embrião para mais debates e discussões construtivas na busca de um novo modelo, para que se comecem a formular políticas de caráter global e sistêmico já talvez no fórum do ano que vem, esse primeiro encontro poderá entrar para a História como um divisor de águas no pensamento político-econômico. Se, ao contrário, morrer aqui e se deixar engolfar pelo espírito meramente destrutivo, retórico e teatral, terá sido nada mais do que um protesto inconsequente. O fim do fórum marca, assim, seu verdadeiro começo. Seu sucesso virá, ou não, nas edições seguintes.

Que as sementes plantadas aqui dêem fruto, é o que esperamos todos comprometidos com a criação de um mundo novo, mais justo.

Cantinho do Energúmeno

Como seguidor das idéias de Desobediência Civil de Thoreau, me repelem as tentativas do Estado de, entre outras coisas, monitorar a velocidade dos carros e impor multas por excessos desta. Mas, se é para fazer, que façam direito. Aqui em Porto Alegre instalaram os infames pardais em muitas das avenidas principais, para flagrar os motoristas mais afoitos, mas fizeram a gentileza de colocar placas - várias - avisando da presença desses detectores, inclusive avisando a distância a que se encontravam (300 m, 200 m, 100 m etc.) Ora, se é para causar a diminuição da velocidade, esses dispositivos deveriam estar escondidos. Só o desconhecimento de sua localização é que impede, efetivamente, o excesso. Do jeito que está, é que nem aquele negócio de viajar nas estradas a 200 km/h e desacelerar a 60 km/h quando se passa em frente do posto da Polícia Rodoviária. Desperdício do dinheiro público.




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