NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Josias de Souza
josias@uol.com.br
  14 de novembro
  FHC engole elefante
  Nos últimos tempos, foram tantos e tão variados os escândalos em torno do tucanato que o governo acabou desenvolvendo uma política própria de administração de crises. É como se ministros, assessores e aliados no Congresso se guiassem por um mesmo script.

A coisa começa sempre da mesma maneira. A cada nova afronta aos costumes, repete-se o invariável bordão: nada a ver com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Compraram-se votos no Congresso? Nada a ver. As fitas com as vozes dos deputados mencionam um tal de Serjão, falam de uma misteriosa cota federal? Pouco importa.

O Banco Central vendeu dólares baratos a Salvatore Cacciola? Nada a ver com o presidente. Chico Lopes foi escolha pessoal de Sua Excelência? Sim, e daí?

Eduardo Jorge trocou telefonemas com o juiz Lalau? Resolveu ganhar dinheiro, rendeu-se aos encantos do “lobby ao contrário”? Nada a ver com o ex-chefe de 15 anos. Se houve desvio, foi coisa lá dele, pecado individual.

Surge agora o caso do caixa-dois da reeleição. O jornal ainda não havia chegado às bancas e o Planalto já se antecipava: nada a ver. Contabilidade de campanha não é assunto que chegue aos ouvidos do candidato. A lei diz que o titular da chapa é o responsável pela escrituração do comitê? Lei, ora, a lei...

Atribuiu-se a Luiz Carlos Bresser Pereira, caixa-chefe da campanha, a tarefa de explicar o novo rombo aberto no casco do barco governista. Cômodo, muito cômodo. Mas inútil.

Ontem, Mário Petrelli, um dos arrecadadores do comitê de FHC, admitiu à Folha algo que a reportagem do jornal já havia demonstrado: há mesmo um caixa-dois. O pecado, segundo ele, é comum a todos os partidos.

Petrelli esteve muito próximo de repetir PC Farias. Em célebre sessão da CPI do Collorgate, o caixa de Fernando Collor mencionou a hipocrisia dos parlamentares que o questionavam. Insinuou que a contabilidade das campanhas de seus inquisidores também não resistiria a alguns segundos de exposição ao Sol.

Há um elefante escondido no porão do tucanato. Tentou-se escondê-lo atrás da porta. Mas ficou de fora uma tromba do tamanho de R$ 10,1 milhões.

É improvável que FHC venha a imitar o transparente Petrelli. Se o fizesse, correria o risco de ser tachado de conivente. Assim, deve mesmo continuar sustentando a versão de que não viu o mamífero no instante em que sapateava à sua frente.

O problema é que essa segunda hipótese impõe a FHC o pecado da omissão. Pior: restaria no ar a sensação de que alguém o fez de bobo.

Talvez seja hora de o presidente pensar em separar uma pálpebra da outra. Em terra de cego, quem tem um olho não se deixa atropelar por um elefante.

Leia colunas anteriores
07/11/2000 - Bush ou Gore?
31/10/2000 - A sinuca de sempre
24/10/2000 - Como uma montadora pode virar sinônimo de causa-mortis
17/10/2000 - Mulheres conspiram contra o feminismo
10/10/2000 - A última do brasileiro


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.