Pensata

Kennedy Alencar

23/11/2007

A venezuelização do Brasil

Faz tempo que se fala na venezuelização do Brasil. Resumidamente, a tese é a seguinte: Lula e o PT, de natureza autoritária, dariam um jeito de tentar se perpetuar no poder quebrando as normas legais. Bobagem.

O risco que o Brasil corre não é o de Lula repetir ações do colega Hugo Chávez. O risco que o Brasil corre é o de a nossa oposição querer trilhar o caminho venezuelano.

Até agora não há um gesto de Lula que autorize a avaliação de que ele embarcará na tese do terceiro mandato em 2010. Existem políticos que alimentam essa hipótese cientes de que terão espaço garantido na imprensa, sobretudo nos setores paranóicos e histéricos.

O DEM, ex-PFL, é um partido que usufruiu das benesses da ditadura militar de 1964 até quando era possível. Só então pulou no barco do PMDB de Tancredo Neves. Nas últimas semanas, os democratas foram os que mais falaram em terceiro mandato. Parece necessidade de encontrar discurso para o nicho de oposição radical que decidiram, legitimamente, preencher.

Votar no Congresso contra a entrada da Venezuela no Mercosul, portanto, é coerente com a estratégia e as aspirações políticas do DEM. Mas o que deseja o PSDB, que também não quis aceitar a entrada do vizinho no bloco comercial?

Há justificativas econômicas de sobra para a integração da Venezuela ao Mercosul. Os flertes de Chávez com a autocracia perderão força se o seu país estiver integrado ao bloco. Mas o isolamento de Chávez só o levará a persistir no erro. E, assim, poderá nascer uma grave crise na América do Sul. A moderação de Lula é boa conselheira para Chávez.

No encontro do PSDB, que começou nesta quinta-feira (22/11), quase todos os discursos citaram a suposta ameaça do terceiro mandato seguido de Lula. O texto do novo programa partidário do PSDB está cheio de ataques ao petismo --uma passada de recibo desnecessária.

Será que os tucanos vão vai entrar na onda da venezuelização, ancorados numa análise equivocada e irrealista do Brasil de hoje? O PSDB foi e é muito melhor do que isso.

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Erro de avaliação

Leitores indagam as razões para este jornalista não acreditar que Lula tentará um terceiro mandato seguido. Resposta: Lula é um político muito melhor do que imaginam setores da política e da mídia. É um erro subestimá-lo. O petista não quer um terceiro mandato em 2010 e sabe que não deve querer.

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Me segura, me segura

Walfrido dos Mares Guia colocou na praça a tese de que ficaria no cargo na hipótese de ser denunciado pelo Ministério Público. Auxiliares do presidente chegaram a torcer por esse cenário. Mas o próprio Lula nunca disse que aceitava.

Só quando Walfrido viu que o presidente não o manteria no ministério em caso de denúncia, ele tomou a iniciativa de puxar a conversa com o chefe. Disse que pensava em sair para ouvir de Lula que ele deveria ficar. Mineiro que tem aquele tipo de esperteza que costuma engolir o dono, Walfrido não obteve do pernambucano Lula aquele apelo irrecusável para permanecer no posto.

Mais: no Planalto, a saída de Walfrido é considerada definitiva. Na articulação política, o ministério é o ministro, diz um auxiliar direto do presidente. Como o Supremo deverá demorar a julgar a aceitação ou recusa da denúncia do Ministério Público, Lula avaliou que não poderia indicar um articulador político interino.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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