Pensata

Kennedy Alencar

08/02/2008

Boas notícias da América

A desistência de Mitt Romney, pré-candidato republicano à Presidência dos EUA que abandonou a corrida na quinta-feira (07/02), afunilou de vez e para melhor o processo de escolha dos postulantes à cadeira mais poderosa do mundo. A eleição acontecerá em novembro.

No Partido Republicano, o senador John McCain consolidou-se como o virtual candidato da legenda. Do lado democrata, os também senadores Hillary Clinton e Barack Obama travam uma disputa que parece distante do fim.

Para alguns analistas, Hillary e Obama tendem a protagonizar um duelo algo suicida --um minando o outro enquanto McCain correria sozinho. Exagero. Quem assistiu aos debates entre os democratas viu uma contenda de alto nível. Houve troca de socos abaixo da linha da cintura? Houve. Mas eles não têm sido a regra na luta entre Hillary e Obama --respectivamente, senadores pelos Estados de Nova York e de Illinois.

No Brasil, parte da mídia trata Obama como um fenômeno Collor, um jovem sem preparo que poderia decepcionar na hora de tomar decisões difíceis. Bobagem. Se Hillary soa mais preparada em temas como economia, Obama esbanja mais do que carisma e está longe de ser um aventureiro.

A "obamania" fez bem ao EUA. Jovens antes apáticos voltaram a acreditar na política. Hillary teve de descer do pedestal de candidata favorita. E aprendeu nesse processo. A mensagem de mudança empunhada por Obama passou a integrar a sua campanha. Ela mobilizou seu eleitorado. Arejou sua plataforma eleitoral. Um eventual governo da senadora provavelmente não terá a marca de uma administração de sábios de Washington.

Apesar de favorável à guerra do Iraque, McCain tem idéias progressistas sobre o tratamento aos imigrantes ilegais e ao papel da população latina no país. Ele defende, por exemplo, a regularização dos 12 milhões de ilegais e uma reforma da lei de imigração.

O desafio de McCain será resistir aos apelos para que se incline à direita a fim de obter os votos do tradicional eleitorado republicano. Nessa hipótese, o veterano da Guerra do Vietnã daria um tiro no pé. Não parece plausível que o eleitorado conservador embarque na canoa de um democrata porque o candidato republicano e senador pelo Arizona seria centrista demais. Alguém imagina um desses eleitores votando em Hillary ou Obama?

São boas as notícias das prévias americanas. Hillary, Obama e McCain estão à altura da inegável liderança americana no mundo. Os três parecem aptos a exercer essa liderança de modo positivo, exatamente ao contrário de George W. Bush --presidente por um período de oito anos nos quais os EUA andaram para trás. Com Bush, houve restrição aos direitos civis. Oficializou-se a tortura como método de investigação. E implementou-se uma ineficaz política de combate ao terrorismo baseada em mentiras e que resultou na piora da imagem dos EUA no planeta.

*

Puro palpite

Uma chapa Hillary-Obama, além de provavelmente imbatível, poderia criar as condições internas e internacionais para a permanência do Partido Democrata por 16 anos no poder em Washington. Seria bom para o mundo, para os EUA e para o Brasil.

Não pára em pé essa história de que os democratas seriam presidentes mais hostis aos interesses do Brasil porque mais protecionistas em matéria de comércio. Apesar das boas relações entre Lula e Bush, o presidente americano não fez no âmbito econômico nenhuma concessão relevante ao colega brasileiro. A Alca (Área de Livre Comércio das Américas) não saiu do papel, e as negociações para liberalizar o comércio mundial (Rodada Doha) continuam emperradas.

Já Bill Clinton deu uma ajuda danada a FHC na crise cambial de 1999. Clinton bancou um socorro de mais de US$ 40 bilhões do FMI para evitar a quebra do Brasil em janeiro daquele ano.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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