|
Nova York - "I Hated, Hated, Hated this Movie" (Eu Odiei, Odiei, Odiei
Este Filme) é a nova antologia do crítico americano Roger Ebert. O
gordinho do polegar para cima, polegar para baixo é o mais popular
comentarista de cinema dos EUA. Desde Chicago, há duas décadas comanda
semanalmente seu programa televisivo sobre filmes. c Ebert perdeu
no ano passado seu colega de bancada, Gene Siskel (1946-1999), com
quem mantinha vivas discussões no ar. É de Siskel a divertida epígrafe
do novo livro: "Este filme é melhor do que um documentário dos mesmos
atores almoçando"?
Ebert e Siskel nunca foram os mais ácidos críticos americanos. Ainda
assim, a agressividade da dupla parece inimaginável em comparação
com a condescendência disseminada pelos resenhadores brasileiros,
com raríssimas exceções.
Se seus comentários aparecessem no Brasil, eles seriam tidos como
inimigos da classe ou terroristas culturais. Lendo revistas e jornais,
assistindo TV ou navegando pela Internet, Hollywood parece nos oferecer
ao menos um clássico por mês e o cinema brasileiro, viver uma inédita
primavera criativa.
Ebert sustenta na abertura de seu prefácio que "o objetivo da crítica
é encorajar bons filmes e desencorajar maus". Acrescenta ainda: "Claro,
há muita discordância sobre qual é qual". A primeira fórmula parece-me
restritiva da verdadeira dimensão do trabalho do crítico. A segunda
nem sempre é verdadeira.
Mas Ebert se esforça para separar o joio do trigo. É o mínimo exigido
para um crítico digno do nome. Mestre Dwight Macdonald (aliás, um
crítico muito superior) já frisava: nossa missão é discriminar, não
no sentido politicamente incorreto, mas sim no culturalmente responsável
-de distinguir, separar os desiguais.
"I Hated, Hated, Hated This Movie" (Andrews McMeel Publishing, US$
14.95, 390 páginas) traz cerca de duzentas resenhas negativas publicadas
por Ebert, majoritariamente no diário Chicaco Sun-Times. Os artigos
são apresentados em ordem alfabética, do primeiro "Ace Ventura" (1994)
ao documentário de Jarmusch "Year of the Horse" (1997).
De maneira geral, é difícil discordar de Ebert. Rachamos quando ele
desce a pua em "Veludo Azul" (1986) , "Portal do Paraíso" (1983) e
no recente "O Pequeno Stuart Little" (1999). É até pouco, para minha
surpresa, pois no dia a dia não concordamos tanto assim.
A explicação é que a lista do livro é, na verdade, pequena. Vale sempre
a emenda Sérgio Augusto: é mais fácil nos arrependermos de um elogio
do que uma espinafrada.
Leia colunas anteriores
26/10/2000 - Macartismo sexual
19/10/2000 - A Rosa Púrpura de Canby
12/10/2000 - Oscar 2001: Rio dá as cartas
05/10/2000 - Greve
28/09/2000 - Eles
tu eu
|