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A European
Film Academy anunciou anteontem a lista de concorrentes ao equivalente
europeu do "Oscar". Longe de seus melhores dias, o cinema do Velho
Continente pisca para o grande público testando reconquistar o prestígio
perdido. Preocupação com o espectador nunca é demais.
São sete os indicados ao prêmio de melhor produção européia do ano.
O som das bilheterias teve forte influência.
Dirigido por Stephen Daldry, "Billy Elliot" parece uma variação de
"Flashdance" assinada por Ken Loach. Revela um garoto genial (Jamie
Bell) e tem um dos finais mais autodestrutivos em décadas. Ainda assim,
tornou-se uma coqueluche britânica, cativa por onde passa (Mostra
de SP incluída) e deve emplacar inclusive indicações ao Oscar americano.
O fenômeno similar francês é "Harry, Un Ami Qui Vous Veut du Bien"
(Harry, Um Amigo Que Te Quer Bem), de Dominik Moll. Bem-recebido em
Cannes, ao estrear no segundo semestre, compensou sozinho a queda
que vinha se observando na bilheteria média da produção francesa para
este ano. Moll acertou a mão em seu Hitchcock situado na França profunda
e, mais uma vez, um ator faz a diferença: Serge Lopez, visto por aqui
em "Western" de Manuel Poirier.
"Dançando no Escuro", de Lars von Trier e Bjork, é o blefe do ano,
em sua pretensa desconstrução do musical, mas venceu Cannes e, se
esquecido fosse, seria uma esnobada e tanto para o principal evento
cinematográfico situado na Europa. Também da representação nórdica
em Cannes 2000, "Trolösa" (Descrente) é mais um poderoso roteiro autobiográfico
de Bergman, levado às telas com excessivo respeito por Liv Ullmann.
Ainda assim, é um filme sólido que merece correr mundo.
A maior ousadia foi a vaga para a animação de Nick Park e Peter Lord,
"A Fuga das Galinhas", que inaugura a promissora parceria entre os
estúdios Aardman (GB) e DreamWorks (EUA). Nenhuma surpresa. O tímido
Park, criador de Wallace & Gromit, é um dos raros gigantes a nascer
para o cinema nas duas últimas décadas.
Não vi mas li e ouvi boas referências aos dois últimos indicados,
duas comédias, uma francesa (Le Gout des Autres, O Gosto dos Outros,
de Agnès Jaoui), outra italiana (Pane e Tulipani, Pão e Tulipas, de
Silvio Soldini).
Pelo gênero, confirmam a tendência popular do conjunto da lista (clique
aqui
para ler o conjunto das indicações).
O European Film Award será entregue em Paris no próximo 2 de dezembro.
Tomara que finalmente alcance uma mais ampla repercussão. Há no mínimo
uma década os cineastas europeus tentam legitimar e popularizar no
cenário mundial uma premiação autônoma, uma espécie de "Oscar" do
chamado "cinema de arte". Dias (e filmes) melhores não vieram e as
tentativas giraram em falso.
Em nome de um maior equilíbrio no tráfego cultural planetário, a EFA
merece contar com franca solidariedade dos cinemas extra-hollywoodianos.
Não tem sido assim. Com a indicação do brasileiro Edgar Moura ao prêmio
de melhor diretor de fotografia, pelo trabalho em "Jaime" do português
Antonio Pedro Vasconcelos, quem sabe ao menos por aqui a atenção aumente.
Às vezes só resta mesmo a estratégia do "pra frente, Brasil".
No início de setembro, a febre americana por "reality-shows" conheceu
novo patamar ascendente com a estréia de "Confessions" na Court TV.
Confissões verdadeiras de criminosos reais prometiam alimentar a fome
de milhões pelo cruel e grotesco. A primeira parte do programa de
estréia trazia o depoimento de um estuprador. Citando "preocupações
e reclamações", a emissora acabou por cancelar sua macabra atração.
Nem tudo está perdido.
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26/10/2000 - Macartismo sexual
19/10/2000 - A Rosa Púrpura de Canby
12/10/2000 - Oscar 2001: Rio dá as cartas
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