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Aquecimento da atmosfera terrestre decorrente da retenção de radiação solar por um envelope de gases em torno do planeta; o fenômeno, natural, é agravado por emissões antropogênicas de carbono (queima de combustíveis fósseis)
Compromisso assinado em 1997, segundo o qual países industrializados reduziriam 5,2%, em média, suas emissões de gases-estufa entre 2008 e 2012, com relação aos níveis de 1990, o que até agora nem mesmo começou a acontecer
O MDL prevê aplicação de recursos de países desenvolvidos em projetos no Terceiro Mundo capazes de reduzir emissões de carbono, de outro modo inevitáveis em seu processo de industrialização, como a geração mais "limpa" de energia
"Flexmechs", que incluem o MDL entre países ricos e pobres, mas também a troca de carbono entre os desenvolvidos, na forma de comércio de emissões ou de implementação conjunta (quando duas nações realizam juntas a meta de redução)
Clima ruim na ágora de Haia
Como na eleição dos Estados Unidos deve mesmo dar George W. Bush, a previsão é de tempo enfarruscado na aprazível Haia. Ou seja, tem tudo para dar em nada a reunião com centena e meia de delegados de todo o mundo na cidade holandesa, a partir de hoje, para tentar criar soluções para o efeito estufa.
Explico: com a vitória dos republicanos, diminui ainda mais a chance -que já era remota- de ser ratificado no Congresso norte-americano o principal tratado mundial sobre mudança climática. Afinal, foi de iniciativa republicana a legislação que exige "compromissos significativos" de países menos desenvolvidos, para que também reduzam suas emissões de carbono, como condição para a ratificação. Sem ela, torna-se letra morta o Protocolo de Kyoto.
Seja com a indefinição eleitoral, seja com a vitória de George W., a delegação norte-americana fica de mãos atadas. E, mesmo que assim não fosse, havia já muitas dificuldades políticas e estratégicas para que saísse do paraíso das boas intenções a idéia
-proposta em 1997 por negociadores brasileiros- de um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Por exemplo, a queda de braço entre Estados Unidos e Europa sobre a questão dos sumidouros de carbono e das florestas. Aqueles querem incluí-los na conta das emissões, na esperança de escaparem de cortes drásticos em seu perdulário padrão de consumo; esta, mais uma vez, tenta fincar estaca no coração da imorredoura competitividade norte-americana, ao recusar florestas e reivindicar um teto de 50% para os "mecanismos de flexibilidade".
Os EUA vão pagar caro, se tiverem de fazer suas reduções domesticamente -até mais de US$ 200 por tonelada de carbono economizada, segundo alguns estudos. Por outro lado, o teto de 50% para os "flexmechs" pode derrubar drasticamente o valor de mercado do carbono economizado no estrangeiro, para até US$ 3,50 a tonelada. Mesmo um delegado representando governo democrata esverdeado por um presidente que escreveu em 1992 o livro "Earth in the Balance" recusaria uma conta desse tamanho.
Por essas e outras é que já se fala em estender o "processo" de Haia para abril de 2001. Dito de outro modo, dificilmente as regras do MDL serão fechadas até o próximo dia 24, quando termina a conferência na cidade holandesa.
Para o clima mundial, quatro meses de adiamento talvez não façam tanta diferença. Mas podem fazer para o público brasileiro, que deveria debater com maior profundidade se as florestas devem ficar fora (como decidiu seu governo a portas fechadas) ou dentro do MDL (como propõem algumas vozes autorizadas do meio científico e ambientalista).
Documentos
· Reportagem "A âncora verde do clima global", no caderno Mais! da Folha de domingo;
· Discurso FHC Almoço Fórum") no almoço de lançamento do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, quarta-feira;
·Discurso de FHC na primeira reunião do Fórum, quinta-feira;
.Manifesto de ONG brasileira contra a inclusão de florestas no MDL;
· Declaração de povos indígenas contra os mecanismos de flexibilidade
Imagem da semana
FUTURO NEGRO
Os dois mapas acima deveriam preocupar todo brasileiro. São dois cenários para a Amazônia em 2020, otimista (mapa de cima) e não-otimista (embaixo), preparados por William Laurance e colaboradores. Em preto, áreas desmatadas; em verde, floresta intacta. Mais detalhes em reportagem na Folha de domingo.
Fapesp X Golias
José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp, financiadora e coordenadora do Projeto Genoma Xylella), procura a coluna para discordar de que o Joint Genome Institute (JGI), da Califórnia, tenha dado algum troco aos brasileiros, sequenciando duas linhagens da bactéria em questão de dias (leia coluna da semana passada).
Segundo Perez, não há termo de comparação entre o que fez o JGI (simples transcrição de 95% do genoma) e o realizado pela Rede Onsa com a linhagem do amarelinho da laranja (sequenciamento completo, com anotação), ou com o que o consórcio da Fapesp vai fazer até fevereiro com a Xylella que ataca as videiras da Califórnia.
Leia também a reportagem na Folha sobre a reação da Fapesp e o furo de Isabel Gerhardt sobre a publicação de artigo do Projeto Genoma Câncer na revista "PNAS", relatando a descoberta de 219 possíveis novos genes no cromossomo humano de número 22.
Site da semana
Ciência em Dia agora tem concorrência: a coluna de Andrea Kauffmann-Zeh em um portal brasileiro. Concorrência é modo de dizer. É tão pobre a discussão pública de ciência no Brasil que iniciativas como essa não chegam a disputar espaço. E não é mesmo o caso de tentar concorrer com Kauffmann-Zeh, pesquisadora brasileira que se tornou editora da venerável revista britânica "Nature". Na estréia, ela ataca um tema frequente por aqui, os projetos genoma brasileiros voltados para microrganismos de interesse agronômico.
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