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Petróleo, carvão e gás natural, principalmente. Queimados, emitem
gás carbônico (CO2), que atua como os vidros de uma estufa, retendo
calor solar perto da superfície.
Da
remoção de populações inteiras, hoje residentes em áreas que serão
inundadas pela dilatação térmica dos oceanos, ao preparo de sistemas
de saúde pública para enfrentar as chamadas doenças emergentes.
Efeito estufa vai afogar e torrar os pobres
Se a figura acabada do efeito estufa para você é a Estátua da Liberdade
com água pela cintura, é prudente atualizar seu imaginário. Países-arquipélago
como Tuvalu
vão desaparecer muito antes das águas alcançarem o pedestal do ícone
novaiorquino. Como regra geral, os países mais pobres -claro- é que
vão pagar proporcionalmente mais pelo aquecimento extra da atmosfera
provocado pela queima desenfreada, nos países mais ricos, de combustíveis
fósseis.
Para quem duvida, o Centro
de Pesquisa Tyndall sobre Mudança Climática, da Universidade de
East Anglia (Reino Unido), pôs o guizo no rabo do gato com o seguinte
mapa do aquecimento desigual e combinado, objeto de reportagem
da revista "New
Scientist" reproduzida na Folha:
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O Brasil até que não está mal, com 4 a 4,9 graus Celsius de aquecimento
médio até o ano 2100 (não se anime muito, porque isso é o bastante
para despindocar o clima de qualquer região do planeta). Rússia e
Canadá têm muito com que se preocupar, mas repare no restante da Ásia
e em boa parte da África. Receita certa para o tumulto social: muito
(mais) calor, carradas de gente e pouco dinheiro para medidas
de adaptação à mudança climática.
O Centro Tyndall resume isso com o conceito de vulnerabilidade ao
efeito estufa, ou seja, de quantos dólares do PIB o país poderia dispor,
por habitante, para enfrentar cada grau Celsius de aquecimento e as
consequentes enchentes e secas. O resumo está no gráfico, que compara
os dois grupos de países discriminados no Protocolo
de Kyoto (no Anexo 1 estão os mais industrializados) e deixa claro
quem vai pagar o pato:
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O drama não termina aí -continua se arrastando, na Conferência de
Haia.
Os delegados de 180 países têm até sexta-feira para formatar meios
práticos de cumprir as metas de redução de gases-estufa assumidas
em dezembro de 1997 em Kyoto, mas há muitos obstáculos econômicos
e políticos (a indefinição da eleição americana é só um deles). Se
tudo der certo em Haia, até 2012 os países mais ricos terão cortado
5% de suas emissões, em comparação com 1990.
Só que essa meta, além de irrealista (a maioria vem aumentando e não
diminuindo emissões), é insuficiente. Segundo o próprio Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática -IPCC,
o maior e mais respeitado comitê de climatologistas do mundo-, as
reduções deveriam ficar entre 50% e 70%, para serem realmente eficazes,
como revelou reportagem de Marcelo
Teixeira na Folha. Uma conta que países viciados em petróleo
barato, como os EUA, se recusam a pagar.
Se a iniquidade é a marca da civilização humana, por que o efeito
estufa -sua maior obra- deveria resultar diferente?
Amazônia na fita
Antes tarde do que nunca: o governo federal anunciou que está preparando
estudos mais amplos do impacto ambiental dos projetos de infra-estrutura
do programam Avança Brasil na Amazônia (leia reportagem de Claudio
Angelo). Aos poucos, esses mais de 60% do território nacional
começam a entrar na pauta da opinião pública, não pela porta dos fundos
da ideologia reacionária, mas pela da frente, como na reportagem de
Christian
Schwartz na capa da revista "Veja", baseada em estudo
noticiado na Folha há uma semana.
Povinho feroz
Patrick Tierney disse ao repórter Álvaro Pereira Jr. que caiu numa
armadilha,
mas ele só foi obrigado a enfrentar o que todo jornalista deveria
fazer de tempos em tempos: prestar contas do que escreve. Está certo
que o clima na reunião da Associação
Americana de Antropologia, em San Francisco, era agressivo, mas
havia também argumentos de peso contra as acusações de seu livro,
"Trevas no Eldorado", ao antropólogo Napoleon Chagnon e ao geneticista
James Neel.
Leia reportagens da Folha
e do "The
New York Times" sobre o ataque.
Imagem da semana
DE OLHO NO FUTURO - Houve jornal que nem mencionou, mas é brasileiro
de nascimento (e palmeirense) o médico Miguel Nicolelis, que conseguiu,
na Universidade Duke (EUA), ligar o cérebro de um macaquinho a um
braço mecânico. Ele usou uma centena de eletrodos e microcabos e um
software de interpretação das ordens cerebrais para reproduzir com
o membro biônico movimentos do braço do animal, em tempo real. Leia
reportagem
de Salvador Nogueira sobre a façanha.
Site da semana
O problemático campo da arqueologia no Brasil, que por muito tempo
pareceu mais ocupado com rusgas paroquiais do que com a solução de
mistérios como a ocupação da Amazônia, parece agora estar abrindo-se
ao público, por meio do site Arqueologia
Brasileira.
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