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  20 de novembro
  Ciência em dia
 

Efeito estufa vai afogar e torrar os pobres

Se a figura acabada do efeito estufa para você é a Estátua da Liberdade com água pela cintura, é prudente atualizar seu imaginário. Países-arquipélago como Tuvalu vão desaparecer muito antes das águas alcançarem o pedestal do ícone novaiorquino. Como regra geral, os países mais pobres -claro- é que vão pagar proporcionalmente mais pelo aquecimento extra da atmosfera provocado pela queima desenfreada, nos países mais ricos, de combustíveis fósseis.


Para quem duvida, o Centro de Pesquisa Tyndall sobre Mudança Climática, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), pôs o guizo no rabo do gato com o seguinte mapa do aquecimento desigual e combinado, objeto de reportagem da revista "New Scientist" reproduzida na Folha:



O Brasil até que não está mal, com 4 a 4,9 graus Celsius de aquecimento médio até o ano 2100 (não se anime muito, porque isso é o bastante para despindocar o clima de qualquer região do planeta). Rússia e Canadá têm muito com que se preocupar, mas repare no restante da Ásia e em boa parte da África. Receita certa para o tumulto social: muito (mais) calor, carradas de gente e pouco dinheiro para medidas de adaptação à mudança climática.


O Centro Tyndall resume isso com o conceito de vulnerabilidade ao efeito estufa, ou seja, de quantos dólares do PIB o país poderia dispor, por habitante, para enfrentar cada grau Celsius de aquecimento e as consequentes enchentes e secas. O resumo está no gráfico, que compara os dois grupos de países discriminados no Protocolo de Kyoto (no Anexo 1 estão os mais industrializados) e deixa claro quem vai pagar o pato:



O drama não termina aí -continua se arrastando, na Conferência de Haia. Os delegados de 180 países têm até sexta-feira para formatar meios práticos de cumprir as metas de redução de gases-estufa assumidas em dezembro de 1997 em Kyoto, mas há muitos obstáculos econômicos e políticos (a indefinição da eleição americana é só um deles). Se tudo der certo em Haia, até 2012 os países mais ricos terão cortado 5% de suas emissões, em comparação com 1990.

Só que essa meta, além de irrealista (a maioria vem aumentando e não diminuindo emissões), é insuficiente. Segundo o próprio Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática -IPCC, o maior e mais respeitado comitê de climatologistas do mundo-, as reduções deveriam ficar entre 50% e 70%, para serem realmente eficazes, como revelou reportagem de Marcelo Teixeira na Folha. Uma conta que países viciados em petróleo barato, como os EUA, se recusam a pagar.

Se a iniquidade é a marca da civilização humana, por que o efeito estufa -sua maior obra- deveria resultar diferente?

Amazônia na fita

Antes tarde do que nunca: o governo federal anunciou que está preparando estudos mais amplos do impacto ambiental dos projetos de infra-estrutura do programam Avança Brasil na Amazônia (leia reportagem de Claudio Angelo). Aos poucos, esses mais de 60% do território nacional começam a entrar na pauta da opinião pública, não pela porta dos fundos da ideologia reacionária, mas pela da frente, como na reportagem de Christian Schwartz na capa da revista "Veja", baseada em estudo noticiado na Folha há uma semana.


Povinho feroz

Patrick Tierney disse ao repórter Álvaro Pereira Jr. que caiu numa armadilha, mas ele só foi obrigado a enfrentar o que todo jornalista deveria fazer de tempos em tempos: prestar contas do que escreve. Está certo que o clima na reunião da Associação Americana de Antropologia, em San Francisco, era agressivo, mas havia também argumentos de peso contra as acusações de seu livro, "Trevas no Eldorado", ao antropólogo Napoleon Chagnon e ao geneticista James Neel.

Leia reportagens da Folha e do "The New York Times" sobre o ataque.


Imagem da semana



DE OLHO NO FUTURO - Houve jornal que nem mencionou, mas é brasileiro de nascimento (e palmeirense) o médico Miguel Nicolelis, que conseguiu, na Universidade Duke (EUA), ligar o cérebro de um macaquinho a um braço mecânico. Ele usou uma centena de eletrodos e microcabos e um software de interpretação das ordens cerebrais para reproduzir com o membro biônico movimentos do braço do animal, em tempo real. Leia reportagem de Salvador Nogueira sobre a façanha.


Site da semana

O problemático campo da arqueologia no Brasil, que por muito tempo pareceu mais ocupado com rusgas paroquiais do que com a solução de mistérios como a ocupação da Amazônia, parece agora estar abrindo-se ao público, por meio do site Arqueologia Brasileira.

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