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Pelo tratado assinado em 1997, mas ainda não ratificado,
países ricos teriam de cortar em 5,2% suas emissões,
sobre os níveis de 1990, até 2012. Para surtir algum
efeito no clima, porém, esses cortes teriam de ficar entre
50% e 70%
Quando a ciência abandona o homem
A Folha publica nesta segunda-feira uma análise do jornalista
Martin
Wolf, do "Financial Times", que dá o que pensar. Resumindo além
da conta um raciocínio sofisticado, ele argumenta que, à parte ser
econômica e politicamente impossível combater a mudança climática
global, também não seria muito esperto fazê-lo.
Para o articulista, a chave está no crescimento econômico. Não valeria
a pena cortar emissões de gases que acentuam o efeito estufa, porque
isso não pode ser feito sem sacrificar o dinamismo da economia, em
especial nos Estados Unidos. Um crescimento menor deixaria as sociedades,
dos EUA a Bangladesh, com menos recursos (riqueza) para enfrentar
os cataclismos climáticos -que viriam de todo modo, pois são reconhecidamente
insuficientes as metas do Protocolo de Kyoto.
Deixo ao leitor a tarefa de concluir se Wolf tem razão (anoto apenas
que, em geral, há muito o que aprender com esses conservadores lúcidos;
na pior das hipóteses, a refletir). Interessa aqui é apontar que sua
análise repete o padrão corrente na produção intelectual, seja ela
acadêmica ou jornalística, nas ciências humanas como nas naturais:
o automatismo da "realidade" (aqui, econômica) tudo resolve, e é fútil
toda intervenção humana, política ou ética (no caso do clima, o que
se poderia chamar de solidariedade intergeracional).
Dito de outro modo, se no centro de gravidade desse gênero de
reflexão estivessem homens, gente de carne e osso, haveria
necessariamente que considerar a questão do risco, da possibilidade
de que a natureza deste planeta imponha limites para a sustentação
da espécie que nem mesmo uma riqueza infinita poderia transpor.
Ou seja, muitos mortos pelo caminho.
Fé por fé, por que não acreditar na providência
humana?
Imagem da semana
Divulgação/Hayward
Gallery
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A
CARNE ESPETACULAR - Smugglerius, escultura em cera moldada
sobre o cadáver de um contrabandista no século 18, um dos destaques
da exposição "Corpos espetaculares - A Arte e a Ciência do Corpo
Humano, de Leonardo aos Dias Atuais", em Londres. Leia reportagem
de Josélia Aguiar sobre a mostra.
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Nem tudo é genética
Por falar em submeter o que é humano a uma racionalidade desencarnada,
a biologia segue o mesmo caminho da economia política. Ninguém fala
mais em sociobiologia, mas aquele programa determinista e conservador
dos anos 70 se insinua na base do que hoje é a ciência normal da natureza
viva, que busca e encontra todo seu fundamento na genética. Nada,
nem mesmo o comportamento humano, escaparia da determinação pelos
genes.
Uma voz lúcida, ainda que ultraesquerdista para os padrões norte-americanos,
é a de Richard Lewontin, geneticista de populações de Harvard. Dele
saiu há pouco a coletânea de ensaios "It Ain't Necessarily So", uma
paulada na moleira de quem baba com as pretensões exageradas do Projeto
Genoma Humano. Leia
resenha na Folha de domingo.
Ciência e política
Eis o que tem a dizer o leitor Hans-Michael
sobre a coluna da semana passada e as relações entre ciência e política:
"Essa dissociação, que muitos cientistas gostam
de ressaltar, não existe na realidade. Talvez o que exista
é uma dissociação dentro da própria ciência,
entre os campos da ciência natural e da ciência social.
A falta de diálogo entre esses campos leva a esses impasses,
e a 'teimosia' de algumas pessoas (cientistas) em não reconhecer
que, no campo ambiental, talvez mais do que em outros campos, existem
elementos sociais e econômicos conjugados só piora a
situação. Ignorar aspectos relativos à tomada
de decisão, poder e outros não ajuda em nada na melhoria
do processo de gestão ambiental. E a imprensa tem um papel
fundamental nisso, ou (então) parte-se para um sistema tecnocrático,
no qual os cientistas poderiam tomar as decisões sem ouvir
mais ninguém".
Mais documentos sobre o clima
O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) divulgou uma nota
de avaliação da fracassada Conferência de Haia sobre o clima mundial,
pelo ministro Ronaldo Sardenberg, que também escreveu artigo
para a Folha. Outra avaliação foi divulgada pela ONG World
Rainforest Movement.
Site da hora
Dê uma espiada na página
sobre água subterrânea criada por Eurico Zimbres,
professor do departamento de Geologia da Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro). Esse problema é o efeito estufa do século
22.
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