NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Marcelo Leite
cienciaemdia@marceloleite.jor.br
  4 de dezembro
  Ciência em dia
 

Quando a ciência abandona o homem

A Folha publica nesta segunda-feira uma análise do jornalista Martin Wolf, do "Financial Times", que dá o que pensar. Resumindo além da conta um raciocínio sofisticado, ele argumenta que, à parte ser econômica e politicamente impossível combater a mudança climática global, também não seria muito esperto fazê-lo.

Para o articulista, a chave está no crescimento econômico. Não valeria a pena cortar emissões de gases que acentuam o efeito estufa, porque isso não pode ser feito sem sacrificar o dinamismo da economia, em especial nos Estados Unidos. Um crescimento menor deixaria as sociedades, dos EUA a Bangladesh, com menos recursos (riqueza) para enfrentar os cataclismos climáticos -que viriam de todo modo, pois são reconhecidamente insuficientes as metas do Protocolo de Kyoto.


Deixo ao leitor a tarefa de concluir se Wolf tem razão (anoto apenas que, em geral, há muito o que aprender com esses conservadores lúcidos; na pior das hipóteses, a refletir). Interessa aqui é apontar que sua análise repete o padrão corrente na produção intelectual, seja ela acadêmica ou jornalística, nas ciências humanas como nas naturais: o automatismo da "realidade" (aqui, econômica) tudo resolve, e é fútil toda intervenção humana, política ou ética (no caso do clima, o que se poderia chamar de solidariedade intergeracional).

Dito de outro modo, se no centro de gravidade desse gênero de reflexão estivessem homens, gente de carne e osso, haveria necessariamente que considerar a questão do risco, da possibilidade de que a natureza deste planeta imponha limites para a sustentação da espécie que nem mesmo uma riqueza infinita poderia transpor. Ou seja, muitos mortos pelo caminho.


Fé por fé, por que não acreditar na providência humana?



Imagem da semana

Divulgação/Hayward Gallery
A CARNE ESPETACULAR - Smugglerius, escultura em cera moldada sobre o cadáver de um contrabandista no século 18, um dos destaques da exposição "Corpos espetaculares - A Arte e a Ciência do Corpo Humano, de Leonardo aos Dias Atuais", em Londres. Leia reportagem de Josélia Aguiar sobre a mostra.




Nem tudo é genética

Por falar em submeter o que é humano a uma racionalidade desencarnada, a biologia segue o mesmo caminho da economia política. Ninguém fala mais em sociobiologia, mas aquele programa determinista e conservador dos anos 70 se insinua na base do que hoje é a ciência normal da natureza viva, que busca e encontra todo seu fundamento na genética. Nada, nem mesmo o comportamento humano, escaparia da determinação pelos genes.

Uma voz lúcida, ainda que ultraesquerdista para os padrões norte-americanos, é a de Richard Lewontin, geneticista de populações de Harvard. Dele saiu há pouco a coletânea de ensaios "It Ain't Necessarily So", uma paulada na moleira de quem baba com as pretensões exageradas do Projeto Genoma Humano. Leia resenha na Folha de domingo.


Ciência e política

Eis o que tem a dizer o leitor Hans-Michael sobre a coluna da semana passada e as relações entre ciência e política:

"Essa dissociação, que muitos cientistas gostam de ressaltar, não existe na realidade. Talvez o que exista é uma dissociação dentro da própria ciência, entre os campos da ciência natural e da ciência social. A falta de diálogo entre esses campos leva a esses impasses, e a 'teimosia' de algumas pessoas (cientistas) em não reconhecer que, no campo ambiental, talvez mais do que em outros campos, existem elementos sociais e econômicos conjugados só piora a situação. Ignorar aspectos relativos à tomada de decisão, poder e outros não ajuda em nada na melhoria do processo de gestão ambiental. E a imprensa tem um papel fundamental nisso, ou (então) parte-se para um sistema tecnocrático, no qual os cientistas poderiam tomar as decisões sem ouvir mais ninguém".

Mais documentos sobre o clima

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) divulgou uma nota de avaliação da fracassada Conferência de Haia sobre o clima mundial, pelo ministro Ronaldo Sardenberg, que também escreveu artigo para a Folha. Outra avaliação foi divulgada pela ONG World Rainforest Movement.



Site da hora


Dê uma espiada na página sobre água subterrânea criada por Eurico Zimbres, professor do departamento de Geologia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Esse problema é o efeito estufa do século 22.

Aviso aos navegantes

Algumas das páginas de Internet indicadas exigem registro, assinatura ou pagamento para acesso a seu conteúdo. No caso dos artigos científicos, a maioria é escrita em inglês. E note que certos recursos desta coluna, como o botão de interrogação, não funcionam com o navegador Netscape.

Se você quiser receber por e-mail avisos semanais sobre o conteúdo da coluna, envie mensagem com a frase "incluir na lista". Comentários e sugestões são igualmente bem-vindos.


Leia colunas anteriores
27/11/2000 - Kyoto, QI de ameba e o clima
20/11/2000-
Efeito estufa vai afogar e torrar os pobres
13/11/2000 - Clima ruim na ágora de Haia
06/11/2000 -
O revide do Golias genômico
30/10/2000 - O valor da floresta e o sexo dos anjos


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.