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O
segundo turno da eleição municipal em Belém mostrou a banalização
das denúncias como instrumento de campanha. Empatados tecnicamente
até as vésperas da eleição, os candidatos Edmilson Rodrigues (PT)
e Duciomar Costa (PSD) atacaram de forma tão brutal a idoneidade um
do outro que acabaram se nivelando.
Chegaram ao final da campanha com o mesmo slogan. "Contra passado
sujo, candidato limpo", dizia o candidato petista. "Contra campanha
suja, candidato limpo", respondia Duciomar Costa.
Acusações graves foram retiradas do baú nos últimos dias da campanha,
com o intuito de destruir a moral do adversário e deixando claro o
oportunismo do acusador.
Faltando apenas três dias para a eleição, a bancada estadual do PSDB
(que se aliou a Duciomar Costa) divulgou documentos mostrando que
o apartamento onde mora o prefeito Edmilson Rodrigues pertence ao
ex-sócio da empresa que faz a limpeza urbana de Belém.
Certidões do cartório e da Junta Comercial do Pará foram exibidos
como trunfo de guerra e, de certa forma, o eram.
Em agosto de 98, Mário Sérgio Ismael assinou, como diretor e representante
legal da empresa Terraplena, um contrato de R$ 60,7 milhões, válido
por cinco anos, para limpeza de metade das ruas de Belém.
Um ano depois, o mesmo Ismael arrematou, em um leilão da Caixa Econômica
Federal, o imóvel onde o prefeito da cidade mora, desde 97, como inquilino.
Os documentos, evidentemente, não provavam corrupção do prefeito,
mas o deixaram em um situação embaraçosa.
Edmilson Rodrigues foi obrigado a mostrar na televisão os recibos
de pagamento do aluguel, mas, ao ser questionado pela imprensa sobre
o problema, deu uma resposta típica de político. Simplesmente, disse
que não sabia quem era o dono do apartamento: "Quem cuida disso é
a minha companheira", desconversou.
Duciomar Costa teve seu passado revolvido por profissionais contratados
pelo PT para investigá-lo, os quais, rapidamente, repassavam as informações
à imprensa. A mais bombástica delas vem de 1985, quando ele foi flagrado
usando um diploma falso de médico para passar receitas de óculos.
Naturalmente, era dono de uma ótica e usava o expediente para incrementar
seu negócio.
Tive a oportunidade de acompanhar a última semana da campanha eleitoral
em Belém e saí da experiência com a sensação de ter emergido de um
mar de lama.
A gestão petista foi acusada de superfaturamento em contratos a nepotismo,
mas o PT conseguiu carimbar a testa do adversário com o rotulo de
falsário. O duro é saber quem é pior, quando as coisas são vistas
por este ângulo.
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