Recebo,
pela Internet, cópia da carta que o secretário-geral
da Associação Internacional de Gays e Lésbicas
(Ilga), Kursad Kahramanoglu, enviou há dois meses, ao presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Na
carta, Kursad _que é professor universitário e presidente
do sindicato dos servidores públicos da Inglaterra_ pede
que o presidente lidere uma campanha pelo fim da violência
contra homossexuais no Brasil.
Eis
um trecho da carta:
"Aumenta
nossa preocupação saber que muitos gays, lésbicas,
travestis e transexuais são objeto de violência desproporcionada,
coisa que tem sido documentada por algumas organizações
filiadas à Ilga. A maioria dos casos não é
notificada e os que são registrados não são
satisfatoriamente resolvidos pelas autoridades policiais. O Brasil
se converteu na capital da violência desmedida contra os homossexuais,
com o maior número de assassinatos do mundo".
Em
seguida, ele diz que existem 15 milhões de gays, lésbicas
e transexuais no Brasil e que a cada dois dias um deles é
assassinado.
Não
sei se os dados estatísticos da Ilga são corretos,
mas, de qualquer modo, são os divulgados no exterior.
Kursad
diz ter recebido as informações estatísticas
do Grupo Gay da Bahia, que já publicou um livro relacionando
1.830 assassinatos de homossexuais no país nos últimos
15 anos.
O Palácio
do Planalto confirmou o recebimento da carta, mas o presidente ignorou
o pedido para que liderasse uma campanha nacional.
"Talvez
ele não considere nossa associação importante",
diz Kursad, lembrando, em seguida, que a entidade foi responsável
pela passeata de 700 mil homossexuais em Roma, em julho deste ano.
"Solicitamos
que sua Excelência tome medidas imediatas para garantir a
vida e a segurança dos gays, lésbicas, bisexuais e
transexuais no Brasil", escreveu Kahramanoglu na carta, que
está até hoje sem resposta.
O presidente
deveria se manifestar sobre o assunto. Ao contrário do que
sugere o silêncio do Planalto, o governo tem se aproximado
das organizações representativas dos homossexuais.
O Ministério
da Justiça indicou o presidente do Grupo Arco-Íris,
Cláudio Nascimento, para compor a comissão que vai
representar o Brasil na Conferência Mundial contra o Racismo,
Xenofobia e Discriminações Correlatas, que será
realizada em agosto do ano que vem, na África do Sul.
O mesmo
Ministério da Justiça bancou 60% dos gastos 2ª
Conferência Regional da Ilga na América Latina, realizada
há uma semana no Rio. Kursad Kahramanoglu esteve no país
para participar do evento.
A propósito:
a Ilga (que tem sede em Bruxelas) estuda a possibilidade de promover
protestos em frente às embaixadas e consulados do Brasil
no exterior.
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