O governo
quis defender a tese de que o voto da oposição foi
só um repúdio à corrupção. Maluf
pretendeu divulgar que saiu ganhando. Os partidos mais conservadores
contabilizaram microprefeituras e alardearam vitória. Foi
uma enxurrada de avaliações sobre as eleições
de domingo.
De
concreto, o que ficou valendo mesmo foi a vitória da oposição,
capitaneada pelo PT. E não dá para explicar o resultado
como uma simples onda moralizadora da política ou um processo
fragmentado focado em questiúnculas paroquiais.
As
eleições municipais mostraram um movimento claro do
eleitorado das grandes cidades em direção à
esquerda. Em maior ou menor grau, os vitoriosos da oposição
condenam a atual política do governo Fernando Henrique Cardoso.
Criticam a adesão do país ao neoliberalismo e sustentam
a necessidade de medidas na área social para enfrentar a
vergonhosa distribuição de renda.
Esse
foi o recado das urnas. O resto é tergiversação.
É claro que são grandes as diferenças dentro
do campo oposicionista. Dentro do PT também. Basta comparar,
por exemplo, os discursos de Marta Suplicy, de São Paulo,
e de João Paulo, do Recife. Enquanto Marta insistiu na necessidade
de negociação e de parcerias com os governos (estadual
e federal) do PSDB, João Paulo criticou, de forma dura, a
gestão FHC.
De
qualquer forma, a oposição se deu conta que detém
uma parcela importante _e crescente_ do eleitorado e começou
a olhar com mais otimismo para a sucessão presidencial. O
problema é o de sempre: ter um nome que reúna forças
díspares e que supere rejeições.
A expressão
"frente única" já voltou ao vocabulário
da esquerda. Nos anos 70 e 80 era o princípio que amalgamava,
no MDB, os contrários à ditadura militar. Naquela
época o ponto de acordo era a redemocratização.
Ela foi conquistada e a oposição se esfacelou. Esmagada
pela onda liberal, nunca chegou a formular um projeto alternativo
para o Brasil.
Se
quiser disputar o Planalto, a oposição que saiu dessas
urnas terá que enfrentar esse problema e resolver suas divergências.
Não bastará apenas a discussão em torno de
nomes de presidenciáveis. Ou sobre soluções
para os buracos urbanos. O buraco do país é muito
maior.
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