Com
uma ponta de sarcasmo, o mundo acompanhou a ópera-bufa em
que se transformou a apuração das eleições
nos Estados Unidos. O país mais rico e poderoso do mundo
assistiu a um inédito vaivém de resultados, projeções
e análises sobre nada menos do que o próximo presidente,
o super-homem do planeta.
Em
poucas horas, ícones da cultura norte-americana pareciam
se esfarelar na tela da TV. Primeiro, a própria mídia.
TVs, Internet e jornais encenaram um fiasco de precipitação
e arrogância sem precedentes. Baseados em idolatradas pesquisas,
proclamaram vencedores. Foi patético. Teses e mais teses
serão produzidas para tentar explicar o que aconteceu com
o jornalismo naquela noite. Seminários discutirão
o desastre homérico do "quarto poder" nos EUA em
plena virada do século.
Depois,
o próprio marketing político. Essa "invenção"
_creditada a gurus norte-americanos_ terá que arrumar explicações
para o empate (nesse momento, o resultado ainda não é
conhecido). Até pouco tempo, os "especialistas"
reverenciavam o desempenho econômico como instrumento vital
para as campanhas eleitorais. "É a economia, estúpido!",
frase de marqueteiro de Clinton, virou bordão da política.
Pois
a economia norte-americana nunca viveu período igual de prosperidade
e isso não bastou para garantir a vitória do governista
Gore. É possível argumentar que a riqueza gerada durante
os anos de bonança da era Clinton ficou concentrada. Que
a turbulência nas Bolsas já afeta a política.
De
qualquer forma, a partir dessa eleição, os manuais
de marketing político terão que revisar algumas de
suas certezas. Afinal, nem com um gasto estratosférico (US$
100 milhões apenas no último dia), as campanhas conseguiram
o desempate claro. A influência real da economia na hora do
voto será questionada.
Por
fim, a própria fórmula adotada pela democracia norte-americana
ficou em xeque. Se a vitória de Bush for confirmada, o presidente
eleito não terá a maioria dos "votos populares".
Se isso ocorresse em qualquer republiqueta de bananas, Jimmy Carter
já estaria chiando. Mas como se trata do império maior,
não há contestação_está tudo
dentro da regra do jogo de lá.
Por
aqui, chacotas. Enquanto dá.
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