De
tempos em tempos, o debate sobre o desenvolvimento volta à
cena. Agora, coube ao ex-ministro Mendonça de Barros criticar
o governo por sua opção pelo crescimento medíocre.
Como se sabe, o ritmo da economia nos anos 90 foi menor do que nos
80. O país parece perdido num pântano. Carências
e desigualdades internas se aprofundam. Rápidos momentos
de avanço foram sufocados.
O discurso
oficial busca culpados pela crise no exterior. Alega que a dependência
externa é inexorável e que devemos ter paciência
_um dia sairemos do atoleiro. Não diz que o modelo em vigor
foi uma opção política do atual governo. Afinal,
apesar de ser dominante na América Latina, a fórmula
neoliberal não é única rota possível
no planeta.
Enquanto
adia soluções para os problemas sociais, o governo
tenta enfrentar a insatisfação popular com a surrada
bandeira da "estabilidade". Uma tática que funcionou
até a reeleição. A dúvida é se
será suficiente para a sucessão em 2002. Não
deve ser por outra razão que o ex-ministro do PSDB ataca
a paralisia e a "covardia" oficiais.
Mendonça
de Barros sabe que onde o governo está vulnerável
e corre riscos eleitorais. Busca espaço dentro da coalizão
governista para suas idéias _diversas vezes escanteadas pelo
presidente e seu escudeiro Malan.
Enquanto
a disputa pelo poder volta ao noticiário, vão aparecendo
fiapos da conta da tão alardeada "estabilidade".
Nesta semana, o IBGE divulgou alguns números interessantes
sobre cinco anos de FHC (95-99). Os gastos do governo com pagamentos
de juros aumentaram mais de 420%. Só no ano passado foram
R$ 84 bilhões, ou 8,7% do PIB. Em 95, esse percentual era
de 2,5%.
Outro
dado. A remessa líquida de recursos para o exterior mais
que dobrou no mesmo período, pulando de 1,54% do PIB para
3,6% no ano passado. Seriam esses os "esqueletos" da era
FHC? É essa a tal "estabilidade" tão glorificada
no discurso oficial?
Dá
para entender porque Mendonça de Barros está tão
preocupado a ponto de sugerir que o presidente do Banco Central
tome uma cachacinha para reduzir os juros.
Armínio
Fraga já mandou dizer que raramente bebe.
Os
credores agradecem e brindam com vivas à "estabilidade".
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