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Eleonora de Lucena
eleonora@uol.com.br
14 de dezembro
EUA pressionam, dividem Mercosul,
e Brasil esboça reação na retórica
 
   
 

Os últimos dias foram marcados pela ofensiva dos Estados Unidos pelos mercados latino-americanos. O objetivo de Washington é acelerar a implantação da Alca, o acordo que permitiria a abertura comercial nas Américas. Na prática, uma forma de ampliar o espaço dos produtos norte-americanos abaixo do Equador.

Desprezando a contida linguagem diplomática, um representante de Washington resolveu chamar o Brasil de "infantil" e "irresponsável". Isso porque o Brasil tenta adiar sua decisão sobre a entrada nesse acordo. A estratégia de Brasília, nos últimos anos, foi a de armar o Mercosul para fazer frente à Alca.

A sobrevalorização do real garantiu oxigênio para o Mercosul (e para a Argentina). Agora, as diferenças cambiais afastaram os dois protagonistas do acordo local, que vive a sua pior crise. O plano do Itamaraty parece escorrer pelo ralo.

Ameaçada de quebra, a Argentina pediu socorro ao FMI. Os Estados Unidos, é claro, aproveitaram o momento especial de fragilidade do vizinho e parecem negociar o dinheiro do fundo pela adesão à tese da Alca. O Chile também resolveu apoiar os EUA.

Isolado, o Brasil é colocado contra a parede e esboça alguma reação no campo retórico. Ministros saíram para o ataque verbal, mas o país já ensaia um recuo para adesão à abertura desejada por Washington.

É difícil escapar do rolo compressor comercial (para não falar no cultural, comportamental, etc, etc, etc) imposto pelos EUA. Deixando de lado os seus vizinhos de periferia e de pobreza, o Brasil tradicionalmente optou por fazer mesuras ao todo-poderoso do Norte.

Os Estados Unidos agradecem. Fiéis ao "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", eles são nacionalistas ao extremo e muito, muito protecionistas. Não têm vergonha de erguer barreiras comerciais para defender seus produtos e seu mercado interno. Embora preguem exatamente o inverso para os seus bajuladores da periferia.

Estudo elaborado pela embaixada brasileira em Washington mostrou que a média tarifária aplicada pelo Brasil aos 15 produtos de exportação dos EUA é de 14,3%. Já os Estados Unidos taxam em 45,6%, na média, os 15 principais produtos de exportação brasileiros.

É desigual assim. E Isso não é considerado lá sinal de infantilidade ou irresponsabilidade. Assim fica fácil falar de abertura de mercados. Dos outros.

O Mercosul pode ter sido a última tentativa de fazer frente ao trator norte-americano. Mas, ao que tudo indica, pode ter sido armada tarde demais. O governo FHC parece ter jogado a toalha. De novo.



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