Folha Online - Pensata

Já vou avisando, esta coluna está triste. Motivo óbvio, é porque estou triste.

Talvez em decorrência desta maldita injeção diária que eu tenho tomado desde que lasquei meu joelho jogando futebol, o que me impede de disputar a fase final do campeonato da Folha e de participar da Copa Topper de jornalistas, que começa na semana que vem. Futebol, para mim, só em 2001.

Dá para imaginar meu bico? Ou você acha que escribas pop só ficam tristes quando se afundam nos discos para ouvir Joy Division e Smiths, depois de um pé no traseiro da namorada? Ei, Nick Hornby, já teve fissura no menisco?

Mas a verdadeira razão desta nuvenzinha negra que paira sobre minha cabeça é a chegada do Natal. Ê época xarope essa!

Não sei quanto a você, mas, quando o vento sopra novembro da folhinha e as casas e prédios e lojas e bancos e árvores começam a receber essas luzinhas que acendem e apagam, me dá um baixo-astral espetacular.

O negócio é que odeio o Natal. Deve ser algum trauma de infância recluso, ou porque me lembro do assassinato do John Lennon. Pode ser ainda por causa de "A Felicidade Não se Compra" ("It’s a Wonderful Life", Frank Capra, 1946, com o ator James Stewart). Nunca fui o mesmo por causa deste filme, de fazer o Didi Mocó chorar.

Mas, por mais que eu fuja dos assuntos natalinos, fui levado pela Internet a uma famosa e maravilhosa história de Natal, que eu queria compartilhar via coluna. A história envolve Papai Noel, jornalismo e mais o que você quiser que envolva.

Em 1897, uma garotinha de 8 anos, chamada Virgínia, tinha uma dúvida que a estava importunando. Ela sempre havia acreditado em Papai Noel, mas alguns amiguinhos teimavam que o bom velhinho não existia.

Perturbada, chegou ao pai e perguntou: "E aí?" O pai foi evasivo e ela ficou indignada. Iria escrever ao jornal que a família lia na época, o sério e hoje extinto "The New York Sun", para perguntar se o Papai Noel existia ou não.

A carta-dúvida de Virginia caiu nas mãos de um veterano editor do poderoso "The New York Times", que anonimamente escrevia editorias para o "Sun".

Editoriais, você sabe, são aqueles textos sérios em que os jornais tradicionais geralmente imprimem suas opiniões políticas, econômicas etc., que aparecem nas primeiras páginas de suas edições.

Daí que o tal veterano jornalista, de nome Francis Church, resolveu pegar a cartinha da menina e transformar em um editorial do "Sun", cujo título era "Sim, Virginia, Papai Noel Existe".

O texto, que entrou para a história do jornalismo mundial e foi publicado pelo "Sun" em todos os natais posteriores, até o jornal fechar as portas, em 1949, dizia mais ou menos assim.

"Virginia, seus amiguinhos estão errados. Eles têm sido afetados pelo descrença de uma época cética. Só acreditam naquilo que vêem. Eles acham que não existe nada que não possa ser compreendido por suas pequenas mentes. Todas as mentes, Virginia, seja de adulto ou de criança, são limitadas. Neste enorme universo em que vivemos, o homem é só uma formiguinha, se for comparado com o imenso mundo que o cerca, se pensarmos em sua inteligência e capacidade de compreender a verdade e a sabedoria.

Sim, Virginia. Papai Noel existe. Ele existe tanto quanto amor, generosidade e devoção existem. Aliás, que chato esse mundo seria se não existisse Papai Noel. Seria desagradável se não houvessem Virginias. Não haveria fé pueril, poesia, romance, que ajudam tanto nossa existência ser tolerável (...)."

Virginia morreu com 81 anos, em 1971, e durante a vida recebeu milhares de cartas sobre crianças e adultos que queriam falar com ela sobre a existência do Papai Noel. A todas, respondeu mandando junto com a carta o editorial do "Sun" anexado.

Bem, a história é essa. Sem mensagens subliminares, sem lição de vida. Mas dá para fazer uma transposição à nossa vida pop e àquilo que a coluna sempre reclama. Aplicando sensibilidade, o mundo pop fica mais bacana.

De qualquer modo, o Natal é um saco. Mas de vez em quando dá para extrair alguma coisa que valha estar vivo em dezembro, como a história da Virginia.

NOEL (GALLAGHER) EXISTE

Momento histórico da coluna. Noel Gallagher anunciando os ganhadores da "Promoção da Semana", que vai dar uma cópia do álbum duplo ao vivo "Familiar to Millions".
Ouça só.

Mordido pelo espírito natalino, "papai" Noel anunciou os nomes de:

Fernando Paiva - MG

Lucas Lima - SP

Max Lennon - SC

Aos ganhadores, o disco do Oasis e o nome narrado pelo líder de uma das principais bandas da década.
Só isso

TEXTOS LEGAIS

Aberta a temporada à caça de textos legais. Um bom começo é conferir a literatura pop dos seguintes batutas.

Marcelo Orozco: Texto sobre os Beatles, sua influência, seu legado e a atual picaretice, que vai entrar a partir deste domingo no zine Scream & Yell.

Fabiano Goldoni: "Prova de Amor", no receptáculo de textos legais Cardosonline, que vc recebe semanalmente por e-mail depois de assinar no site www.cardosonline.com.br. O texto do Goldoni e a importante constatação sobre o Charles Bronson feita pelo próprio Cardoso estão no número 219 do zine.

Sérgio Dávila: os textos de alta-cultura pop que circulam a partir das sextas direto de NY na coluna "Pop Pop Pop", instalada na seção Diversão & Arte, do UOL.

André Takeda: "Você é um homem ou um Bosley", na mais recente edição da revista eletrônica London Burning

O PENSAMENTO VIVO DE CAETANO VELOSO

Depois falam que sou do contra... Pegue um saquinho anti-vômito e reflita sobre as palavras do gênio da MPB, em entrevista ao site NO PONTO (www.no.com.br).

É por isso que não desisto...

OS PIORES ACÚSTICOS

Cacilda. Por que não pensei nisso antes?

O pessoal do bacanudo site mineiro Abacaxi Atômico realizou a eleição do pior acústico da MTV de todos os tempos. Veja o que deu.

1º Os Paralamas do Sucesso e Gal Costa: 32 votos
2º Lulu Santos: 28 votos
3º Rita Lee: 16 votos
4º Capital Inicial: 15 votos
5º Titãs: 14 votos
6º Art Popular (votos anulados!): 8 votos
7º Barão Vermelho: 6 votos
8º Kid Abelha: 4 votos
9º Legião Urbana: 3 votos
10º Raimundos: 2 votos
11º Ira (nem sabia que o Ira tinha feito acústico): 1 voto
12º Jota Quest (o dia em que eles fizerem): 1 voto

Considerações: Não concordo com a votação. Está certo que os acústicos dos Paralamas e da Gal Costa (não ouvi, mas imagino) sejam muito ruins, mas nada deve superar o do Barão Vermelho. E essa banda do 12º, mesmo sem ainda ter gravado o seu, deveria estar alojada lá pelo 5º lugar. E tenho dito.

PEARL JAM ACHÁVEL

Amigos dizem que têm encontrado exemplares da série ao vivo do Pearl Jam em várias lojas "normais", fora do circuito estabelecido das Saraiva Megastore. Você sabe, no Brasil, dos 25 CDs da turnê européia, só foi editado o CD de um dos shows do Wembley Arena.

Portanto, vale lembrar que os imperdíveis da coleção são os de Barcelona (disco 2), de Manchester (disco 8), Milão (disco 20) e Verona (disco 19).

SMASHING PUMPKINS

Pena. A distinta banda de Billy Corgan acabou sábado passado, depois de um show exatamente em Chicago, a terra do grupo. O local escolhido foi um teatro de 1.100 pessoas.

O show, segundo relato, foi sensacional e emotivo. Durou 4 horas e meia.

Deve ter dado um nó na garganta dos fãs quando Corgan anunciou: "Bem-vindo ao último show dos Smashing Pumpkins".

Vamos ficar de olho no Napster, para ver se esse derradeiro suspiro da banda aparece por lá.

Descansem em paz, Pumpkins!

CHAMANDO MANAUS

Deu no Cardosonline:

"Dizem que em Manaus tá na moda ir em festa que toque house em português. O responsável pela façanha é um tal de DJ MALUCO, que tem seus hits divulgados pelo norte por um tal de TREMENDÃO TUPINAMBÁ, um sound system de dar inveja em muito estúdio de primeiro mundo por aí. Fica em Belém do Pará e todos os samplers de última geração e demais aparelhagem de ponta são usados quase 90% para tocar forró e sucessos de Manaus. A facilidade de adquirir aparelhos eletrônicos devido à proximidade da Zona Franca é que produz essas dilíuças culturais que infelizmente ficam encerradas em seus estados."

Tem alguém aí em Manaus para contar mais dessa história interessante?

SACANAGEM NOS SERIADOS

Escândalo no nosso reino encantado da Sony Television.

Alguém assistiu ao seriado "Popular", na semana passada?

Ou foi sacanagem do tradutor ou a TV virou muito liberal, mas em uma cena de atrito entre a perversa Nicole e o esperto Harrison, o carinha, enfurecido com uma malvadeza da vac... da garota, disparou: "Ei, Nicole, vá chupar r***". Assim, na lata, sem os asteriscos. E o Harrison, no original, não falou coisa parecida.

Para mim foi sacanagem do tradutor, que ia pedir demissão mesmo e não resistiu a dar uma zoada... Alguma testemunha ou só eu reparei nessa tradução bizarra?.

MAIS SERIADOS

* Vi finalmente um episódio do badalado "The Trouble with the Normal", o decantado novo Seinfeld. Esperava mais. Mas, repito, só vi um episódio.

* Dos novos, legalzinho, pelo que vi, é "Grosse Point".

* Falando nisso, alguém viu o cruzamento de seriados nesta segunda. Rolou um jogo de vôlei de praia entre dois personagens de "Grosse Point" e as duas bacanudas de "Popular". Foi ao mesmo tempo engraçado de ver acontecer e bem sem graça o resultado final.

* É datado, mas é bem legal ver de vez em quando um seriado velho, como esses que foram desenterrados pela Sony, tipo "As Panteras", "A Gata e o Rato", "Swat" etc.

PÉROLAS MUSICAIS

E tem sequência agora o desfile de preciosidades que povoam a literatura pop brasileira. Prepare o estômago:

Semana que vem continua.

Banda: Paralamas do Sucesso
Frase: ‘...tendo a Lua aquela gravidade onde o homem flutua, merecia a visita não de militares, mas de bailarinos, e de você e eu...‘
Agenor Alessandro

Banda: O Surto
Frase: "...um rosto lindo e um sorrizo encantador/ e um jeitinho de falar que me pirou o cabeção!!!...‘
Rafael Fuganti

Banda: Engenheiros do Hawaii (Oh, não!!)
Frase: trechos comentados do clássico "Infinita Highway"
Aí vai:

Aqui o Humbertão começa a cantar a ‘garota":
‘Escute garota, o vento canta uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão‘
No desespero, tenta engatar um papo-cabeça:
‘Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como viver‘
A confusão e o paradoxo da vida atingem nosso poeta:
‘Estamos vivos sem motivos
Que motivos temos para estar?‘
E, sensível, expõe seus ponto fraco:
Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional‘
Já que o papo-cabeça não engatou, ele parte para o drama:
‘Escute garota, façamos um trato: você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle, um beatnik, um bitolado
Mas eu não sou ator, eu não tô à toa do teu lado‘
O grand-finale (e, devo admitir: meu trecho preferido):
‘Por isso garota, façamos um trato
De não usar a highway pra causar impacto‘
Luiz César Pimentel

Uma salva de palmas para o e-leitor Luiz.
Clap-clap-clap. Genial.
Você fez semiótica na Puc?

NU-METAL

Você pode não gostar da cena, mas não pode fechar os olhos para o que estão causando o crossover maluco do rock com rap de bandas como Limp Bizkit e cia., assunto já tratado nesta coluna.

O atento amigo Thiago Ney, frequentador de clubes indies da Inglaterra, escreveu para cá dizendo:

"Sobre a cena nu-metal, que você escreveu, o bicho está pegando em Londres. Por aqui, Limp Biskit vende que nem água e Eminem é rei. E nos clubes, tipo Camden Palace, Astoria, Borderline, rola direto esse som. Os moleques (e as mulheres também) ficam loucos nas pistas".

Atenção: no vácuo de Limp Bizkit, Papa Roach e Slipknot, sempre pode aparecer um At the Drive In, Queens of the Stone Age, Amen e Marah. E já tá bom demais.

LENNON, 20

Dia 8 próximo são completados os 20 anos da morte do ex-beatle John Lennon. O site El Foco (www.elfoco.com.br), que produz um especial para lembrar a data, me perguntou sobre minhas preferidas composições de John. Que são:

She Loves You
I Want to Hold Your Hand
In My Life
All You Need Is Love
I Am the Walrus
Revolution
Happiness Is a Warm Gun (Happiness Is a Warm Gun in Your Hand)Don’t Let Me Down
The Ballad of John and Yoko (They’re Gonna Crucify Me)
Mother

Quer mandar uma relação das suas?

VOCÊ JÁ OUVIU?

Biscoitos finos recém-lançados e aprovados por esta coluna. Nas lojas nacionais, de importados e, claro, no Napster.

Halfway Between the Gutter and the Stars", Fatboy Slim
Skint/Astralwerks Records, importado

O rei do big beat solta mais uma pérola, que não entusiasmou muito a crítica inglesa, mas sim este que vos escreve. Participações especiais de Jim Morrison (ele mesmo), Bootsy Collins, Macy Gray.

"Play - The B-Sides", Moby Roadrunner, nacional

Quem ainda não tinha esse obrigatório CD do multimilionário DJ nova-iorquino agora não tem mais desculpa. Lançamento duplo do famoso disco eletrônico/rock/soul/blues com um outro de 11 lados B de singles.

"Howdy", Teenage Fanclub
Sony Music, importado

Este grupo escocês da velha guarda (começo dos 90) já fizeram coisas melhores, o que equivale a dizer que "Howdy" é superior somente a 90% dos discos lançados neste ano. Coleção de pérolas pop de canções às vezes maravilhosas, às vezes apenas "legais".

"Remixes" - The Stone Roses

Clássicos de uma das melhores bandas da Inglaterra em todos os tempos remixados por gente de responsabilidade, como Grooverider, Paul Oakenfold, Utah Saints, 808 State, Jon Carter. As músicas são tão boas que não tem como errar. Até um disco de músicas dos Stone Roses comigo remixando sairia ótimo.

CD AUTOGRAFADO DO U2

Depois de uma batalha particular minha com várias garotas com sobrenome Vox, algumas elogiando, outras descendo o porrete, vamos terminando o assunto U2 por hora.

E o vencedor do CD autografado por Bono é...

Priscilla Fogiato

que se autodenominou PhD em U2 e afirmou que "precisava" deste CD autografado. Ela respondeu corretamente que o backing vocal em "Pride" foi feito pela Chrissie Hynde, dos Pretenders, que na época era casada com Jim Kerr, do Simple Minds, e no disco do U2 aparece com o nome de Christine Kerr.

PROMOÇÃO DA SEMANA: OS MELHORES DO ANO

Fim de ano está aí. Época de reflexão, balanço, essas coisas todas. Então, é hora de falarmos nos melhores.

Mande sua lista dos MELHORES DISCOS DE 2000. O resultado da eleição sai na semana que vem, com um balanço de melhores da imprensa legal.

Os prêmios para concorrer são ótimos. Tem o belo CD "Parachutes", da faladíssima nova banda inglesa Coldplay, disco que a EMI está lançando no Brasil. Junto com o disco da revelação brit de 2000, vai uma camiseta da gravadora brazuca, Monstro Discos, de Goiânia, que tem a mania de lançar só coisa legal. Visite o site dos garotos.

A minha relação, a mesma que enviei para a revista "Bizz", é a seguinte (até eu me arrepender, é claro):

1 - "Xtrmntr" - Primal Scream
2 - "Relationship Of Command" - At The Drive In
3 - "Rated R" - Queens of the Stone Age
4 - "Kids In Philly" - Marah
5 - "Community music" - Asian Dub Foundation

Vai. Manda a sua para lucio@uol.com.br.

RECADINHO DO COLDPLAY

Ei, o baixista e compositor Guy Berryman, do Coldplay, quer falar com você sobre a promoção desta semana da coluna. Eu traduzo na sequência. Clique aqui.

AGRADECIMENTOS

* A coluna desta semana foi movida pelos CDs citados na seção Lançamentos, mais o novo da PJ Harvey e o também novo do DJ britânico Roni Size.

* Agradecimentos especiais a Marcos Antoniette, Alexandre Petillo e Marcelo Costa, e a tantos outros leitores-colaboradores que semanalmente ajudam a fazer esta coluna me suprindo de informações relevantes.

* A história da dúvida da Virgínia sobre a existência do Papai Noel é inspirada na coluna do jornalista Matinas Suzuki Jr, do site iG.

* Thanks sempre para a editora da Folha Online Ana Lúcia Araújo, que segura a onda deste colunista com dicas legais.

E chega por esta semana

Até

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29/11/2000 - Exclusivo! U2 faz um rap para a coluna
22/11/2000 - O escândalo do U2
15/11/2000 - Saramago e a caverna pop
08/11/2000 - Quero tocar no Rock in Rio 3
1º/11/2000 - Gil e Milton encontram Belle e Sebastian
25/10/2000 - Entrevistas com Rob Fleming e Beck; e nenhuma entrevista com os Titãs