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Lúcio Ribeiro
lucio@uol.com.br
  6 de fevereiro de 2001
  Meu jantar com o Arnaldo Antunes
 
(pausa)

(mais uma pausa)

Calma, eu vou explicar depois.

Mas antes eu queria chamar a atenção para o momento gozado que atravessa a música que a gente ouve. Em especial ao divertido atoleiro em que chafurda muito a outrora gloriosa MPB, o pagode "melódico" e a axé.

Está na hora de mudanças, dá para notar. Aquele papo velho meu de que é para se mexer, de tomar atitudes raçudas para mostrar novas idéias, novo trabalho, está cada vez mais latente. Boas coisas podem sobrar para nós, que gostamos de músicas que não tocam no rádio, na TV e que raramente saem na imprensa.

O esquemão se esgotou. Informações vinda de pessoas privilegiadas entregam que o disco novo do Caetano Veloso vendeu meia-dúzia de cópias (modo de dizer, claro, deve ter vendido umas dez).

A MPB do blablablá intelectual, do discurso empolado, da idéia requentada e que não chega a lugar algum há mais ou menos 20 anos está entrando num casulo. Vai virar, se Deus quiser, artigo para especialista, tipo o jazz, se bem que sem a qualidade deste último.

Volto a dizer: previsão de tempo bom para idéias espertas e/ou atitudes bem-humoradas.

A "nova MTV", do axé e do pagode, já não sabe mais para onde ir com a audiência pobrinha.

Esse novo disco do Carlinhos Garrafada Brown, que está no falido recurso das capas dos cadernos culturais, deve vender o quê: uns três exemplares. Ninguém cai mais nessa. As gravadoras armam tudo bonitinho, oferecem "aquela exclusividade", as redações ficam em polvorosa, os excluídos da hora pela máfia se arranjam desesperados e aí...

Está tudo conforme o planejado quando você abre o jornal de manhã e está lá: Carlinhos Brown.

E o sujeito que é filho de Ogum e nada o atinge diz coisas como "Você continua a não saber o que é xangó porque não viveu", depois que o repórter pergunta se cantar "Vê xangó em dona Preta" não é coisa de embusteiro (o embusteiro é meu; as palavras usadas foram outras).

Na cara-de-pau, Marrom, que se auto-intitula "a Bahia do mundo, o Brasil do mundo", seja lá que m*** isso signifique, bota a culpa na ignorância do público do Rock in Rio 3 pelas garrafadas. "Fui vítima de discursos", disparou. Olha quem fala!

Mas o legal é que o oba-oba lançamenteiro que "vende" os discos para rádios, jornais, programas do Jô e tudo mais não reverte nada para a vendagem.

E a axé não pega mais nada. Vai perder feio para a divertida nova peste, que é o funk carioca, que "tá dominando" até nos terreiros da Bahia. Perder em casa, e em pleno Carnaval, vai ser a derrocada final desse gênero que começou honesto, mas logo foi "engolido" pela máfia de sempre.

Nessa terra arrasada na cena musical brasileira, começa a aparecer algumas sementes. As festas que rolam música independente em São Paulo já não comportam mais gente. Seus lugares de estrutura modesta já não dão mais conta.

Do Rio Grande do Sul pede um lugar ao Sol a banda Bidê ou Balde, de forte nome no underground e que agora começa a ser "distribuída" nacionalmente, já que descolou um contrato com a Abril Music.

A moçada gaúcha começou com o pé direito. Com o disco pronto, embarcou por conta para tocar em São Paulo e foi parar no insosso programa da TV Bandeirantes, o "Superpositivo". Lá os meninos e meninas do Bidê zoaram o tempo todo com a cara do apresentador, o Otaviano Costa.

Quando o condutor do valioso programa cultural-jovem, o da Feiticeira, perguntou qual a origem do nome da banda dos pampas, a backing vocal Vivi afirmou que era uma escolha do cantor Beck, amigo da banda. Incrédulo, Otaviano perguntou se era sério. A banda sustentou a história. Pouco depois, quando o "Superpositivo" passou uma "reportagem" sobre o Foo Fighters no Rock in Rio, o pessoal do Bidê revelou que era amigo do Dave Grohl e, inclusive, o hit "Melissa" foi feito em homenagem à namorada do ex-baterista do Nirvana, que teria adorado a canção do grupo brasileiro.

E assim ficou. O Bidê foi embora e o Otaviano e o público da Feiticeira acha até agora que é tudo verdade. Cool.

A hora de surgir muitos Bidês ou Baldes é essa.




O NOVO E O MAIS NOVO
Muita gente me pergunta por que eu gosto de "nu-metal", alterna metal ou o que for essa mistura de rap e heavy. Eu nunca disse que gosto. Acho os discos bem ruins, até. O que faço é chamar a atenção para uma cena de bandas honestas que dão o sangue para mostrar seu som e já arregimentam uma colossal legião de fans atraídos por seus shows vigorosos. Isso, sim. Acho legais o show dos caras, quando tocado para um público interessado. Já falei aqui uma vez: não dá para virar as costas para essas manifestações roqueiras de vulto. Do pacote de dez bandas de "nu-metal", aposto como dá para tirar uns dois grupos legais. Mas quem tem olhar esnobe não vai enxergar.

O show do Papa Roach no Rock in Rio, por exemplo. Os caras mandaram ver em um concerto para ninguém, um bloco uniforme formado por gente que só estava interessado no Guns N’ Roses. Visto "de longe", o show não agradou à facção de militantes indies nem a jornalistas que testemunharam o show da sala de imprensa climatizada.

Para o bem ou para o mal, era o novo que se mostrava no Rock in Rio. E a esmagadora maioria estava com as costas viradas para o palco.

Na semana seguinte, o Papa Roach foi para Londres tocar no tradicional festival de começo do ano da "New Musical Express", a bíblia indie inglesa. Pela primeira vez na história do festival, devido a uma louca procura de ingressos, a organização do festival botou uma banda para tocar em dois dias seguidos. E os ingressos, dos dois dias, evaporaram rapidinho.

Quem será que está certa: a galera indie inglesa que disputou ingressos para ver o que rola de novo ou o público/jornalistas brasileiro, que dão as costas?

Acho que os brasileiros, que não dão mole para qualquer gororoba...




GÊNIO
Estou ouvindo o novo disco do mestre Frank Black, que fez história pilotando o lendário Pixies, que dispensa mais falatório. Black sacou agora "Dog in the Sand", e vem acompanhado pelo The Catholics. Outro ex-Pixies, o ótimo Joey Santiago, aparece em algumas faixas.

Estou nas primeiras audições. E estou achando o disco "nada a ver". O que no caso de Frank Black é bem legal.

É tudo muito roquenrou, canções feitas no Alabama, manja?

Black começa assim o disco, em "Blast Off": "I’m heading for the dark/ Take shit as shit is/ If you can take this town/ I say good show...".

Na segunda faixa, "I’ve Seen Your Picture", Frank Black é Mick Jagger. Vou parar por aqui que eu já estou viajando.

Sobre uma volta dos Pixies, Black disse recentemente na revista metal inglesa Kerrang: "Se eu estiver precisando muito de dinheiro vou PENSAR no caso".




FESTIVAIS DE VERÃO
Os escoceses do Travis, os galeses do Manic Street Preachers, o rap Eminem e os velhos amigos do Chili Peppers devem ser os grandes nomes dos festivais de verão do Reino Unido.

Os três primeiros devem ser os cabeças, respectivamente, do último final de semana de agosto, quando acontece o bacanaço Reading Festival. O Chili Peppers é favorito para comandar a lista do V2001, que deve contar também com os legais Charlatans (o V2001 rola sempre uma semana antes do Reading).

Outros cotados para estarem no Reading são Garbage, Muse, Ash e JJ72, segundo a "NME".



EU E O MICHAEL
Tradicional leitora desta coluna, a Giselle Fleury chegou perto de Deus. Confira ela ao lado do Michael Stipe, do REM, lá no Rio de Janeiro.


foto: Arquivo Pessoal
legenda: Giselle, Michael e uns amigos (dela) em frente ao Copacabana Palace, no Rio



TOP OF THE POPS
Leitores espertos afirmam que estou errado quando digo que acabou o programa brega inglês na linha "Globo de Ouro", o lendário "Top of the Pops". Escrevi o papo na coluna da semana passada, na história do Nirvana. O programa tinha acabado, mas voltou e eu comi bola. Inclusive o Manic Street Preachers se apresenta nesta sexta, 9, no "Top of the Pops".


PRÊMIOS
Pelo que me consta, estou zerado com os prêmios atrasados. Alguém tem alguma reclamação?


BLAU BLAU
Percorrendo o bom circuito cultural de programas que têm a dizer, o impagável Sylvinho, o do "Ursinho Blau Blau", esteve no programa do Gordo na MTV, "Gordo a Gogo". Depois, fez uma antológica participação no programa de rádio "Garagem" (segundas na paulistana Brasil 2000 FM, das 23h à 1h). Quem ouviu soube de histórias da espetacular turnê do Absyntho com o Menudo, nos anos 80, e por que o clipe de "Blau Blau" foi proibido.


A VOLTA DO CARDOSO
O Cardoso retomou suas atividades em 2001.

Como quem é o Cardoso?

http://www.cardosonline.com.br

Email - cardoso@cardosonline.com.br


FALA AÍ Hoje a seção volta e traz dois convidados sensacionais de tão ilustres. Mas vale uma história antes. Em um número bem passado da revista inglesa "Select", foi publicada uma matéria sobre o fenômeno "The Man Who", o trilionário segundo disco da banda escocesa Travis. O disco era tão badalado, mas tão badalado, que a revista resolveu ousar e botar o CD para tocar para uma platéia inusitada, para colher as reações à obra famosa do Travis. Os caras da "Select" tocaram o disco para metaleiros, idosos, rappers e... gatos.

Esta coluna, que está sempre pronta para "cozinhar" idéias legais dos outros, vai imitar o lance, mas claro que de um jeitinho brasileiro. Já de pronto, descolamos o novo disco do garrafeiro Carlinhos Brown, "Bahia do Mundo - Mito e Verdade", que está chegando esta semana às lojas de todo o país.

Convidamos dois personagens que, posso garantir, já ouviram muito rock na vida (graças a seus donos).

São os distintos cães Astor e Fiapo. Botamos o disco do Brown na orelha deles e, em foto, registramos suas reações.

Veja abaixo

crédito da foto: Lúcio Ribeiro
ficha

nome: Astor Ribeiro

idade: 8 anos

banda predileta: Jane’s Addiction (adora o latido do começo de "Being Caught Steeling").

opinião sobre o novo CD do Carlinhos Brown: GRRRRRRRR!!!!!


crédito da foto: Paulo César Martin
ficha

nome: Fiapo Martin Lattari

idade: 1 ano

banda predileta: Elastica (fica olhando para a caixa acústica quando rola os barulhos eletrônicos do cover "Da Da Da", do Trio).

opinião sobre o novo CD do Carlinhos Brown: AU! AU! AU! (mil vezes)




YO LA TENGO
Pensa bem: o Yo La Tengo toca sexta-feira no Rio, sábado em Maringá (PR), e nos dias 14 e 15 em São Paulo. Você aí da "praça", já garantiu seu ingresso.

Não dá para perder. Até o Ira Kaplan, guitarrista e vocalista da banda, usou esta coluna para conclamar a galera para os shows do Yo La Tengo.

Ouça aqui o cara.




MUDHONEY
Pensa bem: o Mudhoney, O MUDHONEY, inicia turnê na semana que vem, dia 14, em Porto Alegre. Depois Curitiba, 15, BH, 16, Goiânia, 17, Rio, 18, São Paulo, 21, e Recife, 24 (o serviço completo foi publicado na coluna da semana passada). Já garantiu seu ingresso?




RESULTADO DA PROMOÇÃO: GARRAFADA
Você votou, eles levaram na testa. Confira agora o resultado da promoção "Em quem você meteria uma garrafada na fuça".

1º Márcio Garcia, 21 votos (pela pior transmissão de um festival de rock do mundo, na Globo, o Rock in Rio)

2º Eurico Miranda, 17 votos (o cartola do mal, do Vasco)

3º Carlinhos Brown, 15 votos (caramba, pessoal, não valia votar nele)

4º Caetano Veloso, 13 votos (nele vale sempre)

5º Junior Baiano, 8 votos (o zagueirão do Vasco)

6º Zeca Camargo, 6 votos

7º Zé Antônio (guitarrista dos Pin Ups) e José Flávio Júnior (editor da revista "Bizz") 4 votos

Outros votados: Humberto Gessinger, Maradona, Frejat, Allan Greenspan (economista americano), Gugu e Simony, França (jogador do São Paulo), Sílvio Santos, Lúcio Ribeiro (2 votos! obrigado!), Roberto Medina, Skank, Álvaro Pereira Júnior, João Marcelo Boscoli, Marcelinho (Corinthians), Júnior (Sandy), Liam Gallagher, Marcos Mion (MTV), Público Brasileiro, "Minha amiga" Luana Bonfim (amiga do Fernando), Paulo Nunes, Wanderley Luxemburgo, Britney Spears, Marisa Monte, Nick Oliveri (o peladão do Queens of the Stone Age), Tony Garrido, Jota Quest, Xuxa




VENCEDORES DA PROMOÇÃO
Luís Flávio Castro, disco "Green", do REM

Felipe Bovolon, disco "Harvest Moon", do Neil Young

Marcelo Petters, disco "Green", do REM




PROMOÇÃO DA SEMANA
Como a época é de maresia, nada muito relevante acontece (olha a piada de mau gosto, hein?), bolei uma história da qual eu tenho curiosidade em saber. Qual a banda da qual você possui mais discos? Vale álbum (CD ou Vinil), single, pirata, split, EP, o que for.

A minha, disparado, é o Nirvana, do qual contabilizo uns 25 discos.

Em segundo lugar, não dá para acreditar, fica a banda inglesa Ned’s Atomic Dustbin, que eu acho que tenho uns 15 "produtos".

E aí. Manda o seu para cá (lucio@uol.com.br).

Ao enviar sua resposta você já estará concorrendo a um CD desta lista:

"Green", REM; "Harvest Moon", Neil Young; "The Best of", Blur; "President Yo La Tengo", Yo La Tengo; "Familiar to Millions", duplo do Oasis; "Parachutes", Coldplay; "Brincando de Deus", Brincando de Deus; e "Alta Fidelidade", trilha sonora.

Mande sua preferência junto com a resposta.




AH, O JANTAR COM ARNALDO ANTUNES
Pois é. Essa é para engrossar o caldo do atoleiro da MPB, do começo da coluna, lá em cima.

Estava comendo noite dessas em um restaurante de cozinha italiana, em Pinheiros, quando na barulhenta mesa ao lado um aniversariante recebia seus convidados. Eis que, a tantas horas, adentra o recinto ele, o ex-titã, gênio solo e, vale citar, colaborador atuante da inqualificável canção monteana "Amor I Love You". Pensei: "Oba. Vou ficar ouvindo o papo".

Numa hora xis, depois de dizer que estava indo encontrar o parceiro Carlinhos Brown para uma participação conjunta no festival da Bahia, que rolou no último fim-de-semana, um cara da mesa virou para ele e falou: "Que legal. E aquela música ficou linda, hein?"

O "aquela música" devia ser, pelo que entendi, "Amor I Love You", que corto o meu braço se o cara não sabia ou não se lembrava do nome da canção.

O papo Brown transcorria, as vozes estavam meio baixo, mas pude perceber que conversavam sobre o episódio das garrafadas. Aí o Arnaldo emendou, meio que não dando importância; "Não vi. Só soube de ouvir falar".

Em que planeta o cara andou? Não ter visto um dos episódios mais marcantes da música neste começo de século, ainda mais um ocorrido com um amigo dele?

O melhor estava para por vir.

Num zum-zum-zum qualquer eles passaram a falar da Babi, apresentadora do "Programa Livre", do SBT, a que era do "Erótica", da MTV.

"Ela vai lançar um disco. Mandei uma música para ela. Ela canta bem. Vai ficar ótima com a voz dela."

Já imaginou o que nos espera?




THANKS Esta coluna agradece à preciosa ajuda costumeira de Marcos Antoniette, Alexandre Petillo, Cleiton Sotte, Marcelo Costa, Astor e Fiapo. E tchau.

Leia colunas anteriores:
31/01/2001 - Gritos e sussurros
24/01/2001 - Britney despirocada e o melhor (e o pior) do Rock in Rio
17/01/2001 - Larga do meu pé, Liam
10/01/2001 - Incrível! Morrissey previu a morte da princesa Diana
03/01/2001 - 2001 é show


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