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  25 de dezembro
  O peru de Natal de Armínio Fraga
 

Antes de começar a elogiar nosso presidente do BC (Banco Central), Armínio Fraga, gostaria de deixar claro que ainda o vejo com certa desconfiança. Ainda tenho a impressão, posso estar equivocado, de que a figura do ex-especulador não existe. É como bruxa, monstro de sete cabeças e, como dizia o costureiro Clodovil de forma politicamente incorreta, ex-anão. Também gostaria de deixar claro que não compro a idéia, muito popular no Brasil, de que o milionário que ingressa na vida pública é confiável só pelo fato de já ser rico. Lembrem-se que esse tipo de raciocínio foi muito usado em defesa de Paulo Maluf. Junto com essa falácia existe, necessariamente, a conclusão de que quem é pobre rouba mais (não que roube menos, mas diria que rouba igual).

Dito isso, fico livre para dizer que vejo com bons olhos o diagnóstico feito por Fraga, desde o início de sua gestão no BC, de que é preciso descobrir quem são os atravessadores do dinheiro, aquelas pessoas e empresas que ficam entre o faminto e o açaí na cumbuca com granola.

Fraga começou um trabalho interessante, tendo descoberto, inclusive, que, na composição dos altos juros de financiamento imobiliário, o fator cultural é tão responsável quanto o atravessador.

Nos EUA, embora os juros sejam pequenos, o consumidor é obrigado a cumprir rigorosamente o contrato. Mais ou menos como aquele programa do Silvio Santos -o famigerado Roletrando- no qual Santos, com a cara de sádico, gritava "PERDE TUDO, PERDE TUDO!!".

Fraga também acusou as administradoras de cartão de crédito de conluio. Segundo ele, elas aplicam a mesma política de redução de juros ao consumidor mesmo tendo perfis diferentes de custos e de inadimplência.

Na minha opinião, Fraga pode fazer o que quiser com o Banco Central, desde que reduza os juros ao consumidor no Brasil. Se fizer isso, ingressará no inconsciente coletivo brasileiro como o Robin Hood da política monetária.

Meu primo Samir Abujamra, cineasta endividado em seus quatro cartões de crédito e no banco, desconfia das intenções de Fraga. Em sua sabedoria de devedor deprimido, Samir me disse: "Esse cara (Fraga) não vai reduzir nunca os juros ao consumidor porque tem medo do aumento do consumo e, portanto, da inflação".

Em Maringá, cidade do Paraná onde minha família passa o Natal, ele afirmou, enquanto parcelava um patinete em oito prestações usando cheques, o último instrumento monetário que lhe sobrou: "o cartão de crédito é uma bomba de Napalm na mão de uma criança e Fraga sabe disso."

Tomara que meu primo esteja errado e que Fraga torne-se o primeiro presidente do BC tão popular quanto os Kikos Marinhos anos atrás. Enquanto aguardamos Fraga, Samir e o resto da família me pedem empréstimos em meu cartão norte-americano, em suaves juros de 15% ao ano.

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