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Marcio Aith
maith@uol.com.br
  8 de janeiro de 2001
  Por que o governo brasileiro teme Oscar de Barros
 

Caros leitores, sei que já escrevi várias vezes sobre o assunto, mas peço paciência.

Se, em 1998, fossem Vicente Chellotti, chefe da PF (Polícia Federal) na época, e tivessem sido nomeados para investigar o aparecimento e a venda de um dossiê com documentos sugerindo a existência de empresas e contas em paraísos fiscais do presidente da República e de seus principais ministros de Estado, vocês convocariam para depor o principal suspeito?

Chellotti, que não ocupa mais o cargo, preferiu, por motivos que desconheço, deixar o homem-chave fora do inquérito.

O principal suspeito era Oscar de Barros, cuja empresa, a Overland Advisory Services, encarregava-se de abrir contas para empresários e políticos brasileiros em paraísos fiscais.

Um papel com o timbre da Overland foi encontrado dentro dossiê. Na única declaração que deu à época, ao repórter Fernando Rodrigues, Barros disse que aquele papel havia sido falsificado. Desde então, Barros nunca recebeu intimações, telefonemas ou convites para falar com Chellotti ou com qualquer outra autoridade brasileira.

Barros está em prisão domiciliar em Miami depois de passar nove meses numa cadeia federal sob a acusação de lavagem de dinheiro, crime que, aparentemente, nada tem a ver com o Dossiê Caribe.

Sua prisão decorre de uma investigação feita pelo FBI com base no depoimento de um advogado norte-americano que, para escapar de um crime de fraude, acusou várias pessoas, como uma metralhadora giratória.

Embora se negue a falar com a imprensa, pode ser que Barros queira conversar com autoridades brasileiras. Bastaria à PF tentar entrar em contato com ele. Seria interessante ouvir suas respostas. Há elementos que indicam que Barros não é o "falsificadorzinho barato" que o governo brasileiro quer que nós pensemos que seja. Somente nos EUA, contas em seu nome têm saldo superior a US$ 20 milhões.

Não há qualquer impedimento contra ele no serviço de crédito norte-americano, ao contrário de algumas pessoas acusadas no mesmo processo de lavagem de dinheiro e no episódio do dossiê.

Barros é conhecido em seu bairro pelas doações a entidades de caridade e obras feitas em igrejas. É (ou pelo menos era) um sujeito estabelecido. Não que Barros seja um santo. Longe, muito longe disso.

As fitas gravadas pelo FBI provam, no mínimo, que as pessoas que frequentavam seu escritório eram suspeitas ou criminosas. No entanto, nada justifica que a polícia brasileira finja que Barros não exista.

Do jeito que a coisa ficou, parece que a PF teme o empresário. Basta lembrar que ele também não foi indiciado. Em suma: para a PF, Barros é muito bandido para colaborar com as investigações, mas não o bastante para ser indiciado.

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