NOSSOS
COLUNISTAS

André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcio Aith
Vaguinaldo Marinheiro

Marcio Aith
maith@uol.com.br
  12 de fevereiro de 2001
  Conselhos de sobrevivência num mundo neoprotecionista
 

O caso da vaca louca mostra como o comércio internacional deixou de ser um jogo de criança. Um novo protecionismo, mais refinado, deu lugar ao uso escancarado e explícito de tarifas para impedir que produtos cruzem fronteiras. Em público, todos são favoráveis à integração comercial. Nos gabinetes, cientistas, não mais economistas, ganharam terreno tramando entraves sanitários, elétricos e eletrônicos para proteger mercados internos. São veterinários, médicos e especialistas em segurança do consumidor.

Hoje, para impedir que batatas de um determinado país concorram com as de um mercado interno específico, basta levantar a suspeita de que carregam peste ou doença. Normalmente, bastaria a confirmação de pelo menos um caso da doença para que a comunidade internacional (especificamente o comitê da OMC que cuida de assuntos sanitários) aceite o veto a um produto sob a alegação sanitária. Mas o precedente canadense fez empurrar ainda mais a fronteira desconhecida do neoprotecionismo. Agora, basta alegar risco teórico. O Canadá pode até estar com razão ao preocupar-se com a carne brasileira. Mas teria que esperar indícios mais evidentes e não basear-se apenas numa suposta dedução lógica.

O Brasil é inocente demais. Quando morei no Japão, testemunhei dois ministros da Agricultura brasileiros, visivelmente embriagados pelo conforto excessivo da receptividade japonesa, dizerem que a liberação do mercado japonês para as frutas brasileiras seria anunciada "em breve". Ao lado dos ministros, funcionários do governo japonês balançavam a cabeça, quase rindo, em sinal de aprovação.

Só que as frutas brasileiras continuam sem entrar no Japão. No caso da manga, por exemplo, o Brasil não teria conseguido provar que seus métodos de controle contra a mosca do mediterrâneo são eficazes. Todo ano, cientistas japoneses vão ao Brasil, animados com o sol e com as belas mulheres, estudar os avanços dos métodos nativos contra a tal mosca. Voltam ao Japão e, invariavelmente, pedem mais providências, julgando os avanços brasileiros insuficientes. Um olhar mais atento revela quem o Japão protege ao manter a proibição: produtores japoneses que plantam manga na Tailândia.

No mundo moderno, é assim que se faz. Só que o Brasil acredita que nós, mercados emergentes, somos mais prejudicados porque exportamos produtos básicos em larga escala e eles estariam mais sujeitos a barreiras sanitárias. Mas é mentira. Cientistas também podem assinar laudos dizendo que aparelhos celulares canadenses provocam risco de explosão, modelos de televisão japoneses causam cegueira e carros alemães são despreparados para estradas brasileiras. Basta alegar.

***

O leitor Marcelus Zalloti, de São Paulo, registrou, corretamente, uma omissão na minha coluna anterior ("O bombril da antena e a TV digital", de 5 de fevereiro). Esqueci de mencionar o padrão japonês entre os que concorrem à tecnologia oficial de transmissão de TV Digital de alta qualidade no Brasil- conhecida como HDTV. É verdade. Eu havia citado apenas os padrões norte-americano e europeu. O leitor lembra que "o padrão japonês o único originalmente concebido para transmissões via aérea, através de antenas emissoras e receptoras, como é mais comum por aqui (no Brasil). Já os padrões usados nos EUA e Europa foram pensados para transmissões via cabo." A briga no Brasil entre os defensores dos três padrões está ficando cada vez mais quente.


Leia colunas anteriores
05/02/2001 - O bombril da antena e a TV digital
29/01/2001 - FMI é a sucursal do Tesouro norte-americano
22/01/2001 - Bush e o revisionismo precoce: de burro a hábil estrategista numa questão de dias
15/01/2001 - O mundo espera que o cargo transforme George W. Bush

08/01/2001 - Por que o governo brasileiro teme Oscar de Barros
01/01/2001 - Argentinos querem viver o novo milênio em outro país


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.