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Nelson de Sá
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  18 de outubro
  Vontade de viver
 
Semanas atrás, fui mediador de um debate sobre Oswald de Andrade e "O Rei da Vela". Lá pela metade, um espectador se levantou e perguntou da aproximação de Oswald e Schopenhauer, citado diversas vezes na peça.

Fiquei animado, porque eu mesmo, depois de rever e reler, senti uma aproximação inusitada entre o modernista brasileiro e o niilista prussiano. Também porque vinha ouvindo mais e mais sobre Schopenhauer, de amigos que se viam influenciados por seu pensamento pessimista.

O romântico espectador foi devidamente espinafrado pelos debatedores, seguindo o tom sarcástico que Oswald usa na peça _e eu fiquei quieto no meu canto, constrangido pelo equívoco de minha interpretação.

Mas continuei ouvindo de Schopenhauer aqui e ali, por exemplo, do produtor teatral Ricardo Muniz Fernandes, que foi responsável por muito do que o Sesc fez pelo teatro brasileiro na última década.

Schopenhauer, estranhamente, ele que advoga que nós perseguimos nossos fúteis objetivos cotidianos "como uma bola de sabão, embora saibamos perfeitamente que vai estourar", inspira as pessoas à ação _como no caso de Ricardo.

É como Hamlet, personagem ao qual o filósofo volta e meia se reporta, em "O Mundo como Vontade e Representação":

_ Vemos na tragédia, após longa luta, os mais nobres renunciarem aos fins até então perseguidos com intensidade e abdicar de todos os prazeres da vida, ou renunciar a ela, voluntariamente: assim Hamlet morre, após nele extinta a vontade de viver.

Assim também Abelardo 1º, em "O Rei da Vela", ele que diz, a certa altura:

_ Sou um personagem do meu tempo, vulgar, mas lógico. Vou até o fim. O meu fim! A morte no Terceiro Ato. Schopenhauer!

Assim o próprio Schopenhauer, que diz que "diante de nós só existe certamente o nada", mas sobre quem Bertrand Russell notou:

_ Ele jantava habitualmente bem, num bom restaurante; ele teve muitos casos amorosos triviais, que eram sensuais; ele era extremamente briguento e avarento... É difícil acreditar que (fosse) um homem convencido da virtude do ascetismo.

Não era um asceta, como não são nem Abelardo nem Hamlet. Era um romântico, o que escorre de seus textos e o tornou um favorito do "povo das artes e da literatura", como escreve Russell, desdenhoso desse apaixonado pela "miséria da condição humana".


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