Semanas
atrás, fui mediador de um debate sobre Oswald de Andrade
e "O Rei da Vela". Lá pela metade, um espectador
se levantou e perguntou da aproximação de Oswald e
Schopenhauer, citado diversas vezes na peça.
Fiquei
animado, porque eu mesmo, depois de rever e reler, senti uma aproximação
inusitada entre o modernista brasileiro e o niilista prussiano.
Também porque vinha ouvindo mais e mais sobre Schopenhauer,
de amigos que se viam influenciados por seu pensamento pessimista.
O
romântico espectador foi devidamente espinafrado pelos debatedores,
seguindo o tom sarcástico que Oswald usa na peça
_e eu fiquei quieto no meu canto, constrangido pelo equívoco
de minha interpretação.
Mas
continuei ouvindo de Schopenhauer aqui e ali, por exemplo, do
produtor teatral Ricardo Muniz Fernandes, que foi responsável
por muito do que o Sesc fez pelo teatro brasileiro na última
década.
Schopenhauer,
estranhamente, ele que advoga que nós perseguimos nossos
fúteis objetivos cotidianos "como uma bola de sabão,
embora saibamos perfeitamente que vai estourar", inspira
as pessoas à ação _como no caso de Ricardo.
É
como Hamlet, personagem ao qual o filósofo volta e meia
se reporta, em "O Mundo como Vontade e Representação":
_
Vemos na tragédia, após longa luta, os mais nobres
renunciarem aos fins até então perseguidos com intensidade
e abdicar de todos os prazeres da vida, ou renunciar a ela, voluntariamente:
assim Hamlet morre, após nele extinta a vontade de viver.
Assim
também Abelardo 1º, em "O Rei da Vela",
ele que diz, a certa altura:
_
Sou um personagem do meu tempo, vulgar, mas lógico. Vou
até o fim. O meu fim! A morte no Terceiro Ato. Schopenhauer!
Assim
o próprio Schopenhauer, que diz que "diante de nós
só existe certamente o nada", mas sobre quem Bertrand
Russell notou:
_
Ele jantava habitualmente bem, num bom restaurante; ele teve muitos
casos amorosos triviais, que eram sensuais; ele era extremamente
briguento e avarento... É difícil acreditar que
(fosse) um homem convencido da virtude do ascetismo.
Não
era um asceta, como não são nem Abelardo nem Hamlet.
Era um romântico, o que escorre de seus textos e o tornou
um favorito do "povo das artes e da literatura", como
escreve Russell, desdenhoso desse apaixonado pela "miséria
da condição humana".
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11/10/2000 - Fora
de cena
04/10/2000 - Neo-romantismo
27/09/2000 - Depois
do fim da história
20/09/2000 - Indymedia
13/09/2000 - Democracias