Só
vi à distância a tortura da criança, no SBT.
Semanas atrás, por dever de ofício, tive de acompanhar
as imagens do menino palestino preso entre os tiros, até
sua morte. Foi além do que qualquer pai pode suportar.
Desta
vez, acompanhei à distância, imagens vagas. A vileza
do ato e de seu uso na televisão é tão grande
que deixa uma sensação nem tanto de revolta, mas
de bestificação. Como é possível chegar
tão baixo, no ato e em sua utilização?
Nem
questiono se foi eleitoral ou não. A justificativa dada,
de divulgar as imagens para levar governantes a agir, não
muda coisa nenhuma.
Para
levantar uma bandeira, para eleger alguém ou simplesmente
para recuperar audiência, apresentaram na televisão
a sessão de tortura de uma criança. O fato é
monstruoso em si mesmo.
Da
mesma maneira, acompanhei à distância a campanha
política, estes meses todos.
Além
de não ter mais de assistir à propaganda eleitoral,
o que fiz por longos dez anos, não consigo acreditar que
a eleição deste ou daquele faça diferença
quanto ao que realmente importa _diante da penúria orçamentária.
Este
ou aquele vai precisar passar por pressão, para que aja
como deve e não ceda aos interesses vários que o
elegem. Mas, de todo modo, uma coisa me incomodou em especial,
nesta campanha.
O
que se viu no SBT, ainda que se aceite que não teve intuito
eleitoral, é parte do mesmo ambiente que permitiu a um
candidato apontar a suposta "vida devassa" de adversário
e outro a denunciar o suposto filho ilegítimo de adversário.
É
tudo tão baixo que, vença direita ou esquerda, um
dos possíveis resultados será a exacerbação
do moralismo _além da nova vitória, odiosa, do mundo
cão.
Um
registro à parte, nesta campanha, foi a participação
da atriz Samantha Monteiro como garota-propaganda malufista. Já
vi isso acontecer antes, com a atriz Helen Helene, que desapareceu
depois do palco e da televisão.
Espero
que isso não aconteça com Samantha, que vi em atuações
memoráveis como a Lady Macbeth e a Chapeuzinho Vermelho
de Antunes Filho e, mais recentemente, como a prostituta de "Perpétua",
de Dionísio Neto.
Leia
colunas anteriores
18/10/2000 - Vontade
de viver
11/10/2000 - Fora
de cena
04/10/2000 - Neo-romantismo
27/09/2000 - Depois
do fim da história
20/09/2000 - Indymedia